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FORA DE PAUTA

Ágatha na praia

Já faz uns 15 anos que não vamos ao Litoral Norte. Desde o nascimento do Júnior, o primogênito, optamos pela Costa Doce, no eixo entre a Praia do Laranjal e São Lourenço, para passar três ou quatro dias no verão. Embora exija cuidado redobrado nas constantes safras de buracos, o trecho até lá pela RSC-471, via Encruzilhada do Sul, é muito mais tranquilo na comparação com a infestação de veículos que se apossa da freeway neste período.

E o principal: a Lagoa dos Patos, com todo seu esplendor e serenidade, nos parece muito mais segura para as crianças. Não tem chocolatão, ondas perigosas ou repuxo, tampouco é assombrada pelas ressacas que, matreiras e imprevisíveis, têm semeado o pânico entre os gaúchos neste veraneio. Além disso, tanto no Laranjal quanto em São Lourenço, as praias, cobertas por areias brancas e secas, são pontilhadas por árvores que garantem sombra, por pracinhas, academias ao ar livre e banheiros decentes.

No Laranjal também há um calçadão que margeia a praia, propício para um mate sob as figueiras ao amanhecer e para uma caminhada à noite, enquanto a lua cheia se reflete na lagoa. O único inconveniente, entretanto, é a necessidade de, antes de programar a viagem, dar uma espiada nos laudos de balneabilidade da Fepam.

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Nossa preocupação com a segurança das crianças nas águas vai além do instinto paterno/materno. Ocorre que as mais novas – particularmente, a Ágatha – julgam-se excelentes nadadoras. Jogam-se na lagoa para dar início a uma sequência incansável de braçadas que espirra água para todos os lados e a mergulhos impraticáveis por crianças na orla do Atlântico. Felizmente, as características da Costa Doce, onde se avança centenas de metros lagoa adentro com água pela cintura, impõem limites naturais à ousadia das nossas pequenas mergulhadoras.

Mas não pense o amigo leitor que tudo é tranquilidade. Às vezes, alguma das nadadoras volta correndo para a areia, com olhar assustado.

– Algo encostou em mim. Acho que foi uma água-viva…

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– Tem certeza, Yasmin? – pergunto, com os olhos no espelho d’água, enquanto a Patrícia inspeciona a pequena em busca de supostas queimaduras. Eventualmente, dependendo de uma complexa combinação entre a direção do vento e o estágio da maré, águas-vivas desatentas são jogadas pelo oceano na Lagoa dos Patos e chegam, fatigadas, à Costa Doce. Mas é um fenômeno raríssimo. Na maioria das vezes, o susto é provocado por lambaris desavisados, por galhos ou plantas aquáticas parcialmente submersas.

Ágatha, porém, apesar de toda coragem e da perícia que julga ter ao nadar, não esconde certos receios.

– Pai, tem certeza que aqui não tem tubarões?
– Tenho, Ágatha. Não há tubarões na lagoa, eles não gostam de água doce.
– E baleias?
– Não há baleias na lagoa, filha. Nem teria como elas chegarem aqui, no raso.
– E golfinhos?
– Mas se aparecer um golfinho, que mal ele faria?
– E jacarés?
– Jacarés? Acho que não…
Nisso, a Isadora se intromete, ajudando a aumentar o clima de tensão.
– Certa vez apareceu um jacaré na Praia no Cassino, aqui perto. Deu na TV.
– Bem… – intervenho, rendido. – Se aparecer um jacaré, é só deixá-lo em paz.

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E Ágatha então volta para a lagoa, para suas longas braçadas e mergulhos rumo aos mistérios do reino subaquático.

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