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Para salvar nossa identidade

Na 19ª Expoagro Afubra, o Vale do Rio Pardo tem três dias para se dedicar a pensar e repensar sua relação com a agricultura. Ninguém pode ignorar a histórica e profunda relação regional com as atividades produtivas primárias. A exemplo de outras áreas de colonização, apoiadas na pequena propriedade familiar, Santa Cruz do Sul e as cidades vizinhas são o que são, tornaram-se o que se tornaram, projetando seu nome no País e no mundo como modelos de economia eficiente, porque existiu (e existe) a agricultura familiar. Logo, se um evento volta-se a buscar e propor soluções para esse público, só pode ser entendido como fundamental.

Aliás, poucos assuntos (isso se há algum mais importante) deveriam merecer tanta atenção quanto requerem a sucessão rural, a diversificação, a equilibrada ocupação territorial e a inovação nas pequenas propriedades. Se estas forem descaracterizadas, como ocorreu em outras regiões do País e do mundo, no mesmo passo crescerão os bolsões junto às cidades. Se o interior seguir se esvaziando no ritmo atual, e famílias inteiras continuarem indo embora para a cidade, junto com elas migrarão a violência, o desemprego, a poluição, a sobrecarga ambiental, a desenraização cultural e afetiva, a dependência, a melancolia.

Milhões de famílias que ocupam pequenas propriedades são aliciadas por convites do meio urbano: luz, telefone, internet, infraestrutura, bens. Como frear esse ciclo, se no interior isso não tem sido oferecido? Essa é justamente a lógica do modelo contemporâneo. Tão logo uma família abandona sua terra e migra para centro urbano, é mais uma a deixar de produzir para passar, ao contrário, a depender de alimentos e matérias-primas, tornando-se refém do comércio. E cada integrante dessa família é mais um a disputar um cada vez mais raro posto de trabalho. É uma conta que, teimosamente, não fecha, e só piora ao longo dos anos.

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Na Expoagro, eis a chance de avaliar esse cenário, em que o campo vai sendo esvaziado, e dá lugar a grandes lavouras, com ênfase na soja, mecanizadas e cultivadas com defensivos em larga escala. O custo social e ambiental desse processo é muito alto. E será pago pela sociedade como um todo, inclusive na forma de restrição à oferta de alimentos e matérias-primas, os mesmos que ao longo de décadas abasteceram as indústrias de transformação.

E será pago ainda sob a forma de aumento geral no custo de vida, violência, desconsolo e degradação ambiental, além da descaracterização do eficiente modelo de produção que nos tornou o que somos. O Sul do Brasil progrediu porque a agricultura familiar e a pequena propriedade o levaram a esse patamar. Na Expoagro, em três dias, de certo modo tem-se uma rara e salutar ocasião para debater, analisar e estimular vias de preservar e, mais ainda, fortalecer a essência da identidade do que de melhor o Brasil fez (e ainda faz) em sua agricultura.

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