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200 anos de imigração alemã: para lembrar de Telmo Lauro Müller, guardião da memória

200 anos de imigração alemã: para lembrar de Telmo Lauro Müller, guardião da memória

Telmo Lauro Müller, falecido em janeiro de 2012, em foto de abril de 2004, no Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, cuja fundação liderou e do qual era o diretor | Foto: Inor Assmann/Banco de Imagens/Editora Gazeta

Há exatos 20 anos decorridos nesse sábado, 20, o professor Telmo Lauro Müller, então diretor do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, implantado na área central daquela que foi a pioneira colônia alemã em território gaúcho, recebeu a Gazeta do Sul justamente naquele local, que então coordenava. E do qual fora também o grande entusiasta, empenhando-se em favor de sua implantação, que, afinal, ocorreu em 20 de setembro de 1959.

A visita da equipe da Gazeta ocorria meses antes da comemoração dos 180 anos de imigração alemã, festejados em julho de 2004, e a conversa com Müller foi compartilhada no livro Terra de bravos: imigração alemã no Brasil – 180 anos, da Editora Gazeta.

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Telmo faleceu em 9 de janeiro de 2012, aos 85 anos, mas deixou para a posteridade amplo legado também em forma de livros, sempre referenciais. Ainda mais agora, em meio às celebrações dos 200 anos desde a chegada dos pioneiros em São Leopoldo.

Um legítimo representante da área de colonização alemã

Se havia realidade que Telmo Lauro Müller conhecia bem, esta era a que resultara da pioneira colônia alemã criada no Brasil. E até por ser ele próprio descendente de germânicos que haviam se fixado, na primeira metade do século 19, no Vale do Rio dos Sinos. Natural da localidade de Lomba Grande, a cerca de 12 quilômetros do centro de São Leopoldo, fizera sua caminhada de formação entre sua terra natal, a cidade e temporadas na capital, Porto Alegre.

Os estudos iniciais Telmo fez no Ginásio Sinodal, em São Leopoldo, seguindo com o curso clássico no Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Por fim, cursou Geografia e História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Como professor, atuou no Instituto Rio Branco, no Colégio Sinodal e na Escola Normal Evangélica, todas em São Leopoldo, bem como junto à Fundação Evangélica de Hamburgo Velho.

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Já perfeitamente inserido no contexto educacional e intelectual daquela que fora a primeira colônia alemã oficial no Sul do País, criou e liderou o movimento para a implantação de um museu, finalmente concretizado em 1959. Desde então, era também o seu diretor.

Em paralelo, enquanto lecionava, fora elaborando uma série de livros dedicados a diferentes aspectos da história e da memória da colonização germânica naquela área pioneira e também em todo o Estado. Entre eles destaca-se Colônia alemã – Histórias e memórias, de 1981, lançado pela editora da Escola Superior de Teologia (EST), sob coordenação de frei Rovílio Costa, um valioso compêndio de informações pitorescas e documentais sobre a rotina em toda a região.

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Professor Telmo Lauro Müller igualmente foi um importante interlocutor de outros pesquisadores, brasileiros ou estrangeiros, que se ocuparam do tema da imigração. Como tal, teve atuação decisiva na difusão de conteúdos sobre a presença de alemães em território gaúcho.

O empenho para preservar as histórias da colônia pioneira

Em suas memórias, o professor Müller lembrara que atuara como guia do francês Jean Roche quando este visitou a área colonial em pesquisas para seu hoje clássico A colonização alemã e o Rio Grande do Sul, relançado em 2022 pela editora Oikos, em parceria com o Centro de Estudos Europeus e Alemão (CDEA) e o Instituto Histórico de São Leopoldo. Na visita feita pela Gazeta, em 2004, autografou o livro Colônia alemã – Histórias e memórias, datado de 20 de abril, há exatos 20 anos nesse sábado.

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Dedicatória deixada pelo professor Telmo Lauro Müller há 20 anos…
…em exemplar de um de seus livros

O esforço para preservar um grande legado

A obra publicada por Telmo Lauro Müller conforma quase duas dezenas de títulos, entre os que assinou como autor e os que organizou, mobilizando outros estudiosos em torno dos temas da colonização e da reflexão sobre as contribuições dos imigrantes.

Essa produção ganhou fôlego em especial a partir de 1975, quando se empenhou a, em parceria com outros pesquisadores, constituir o Instituto Histórico de São Leopoldo. A primeira contribuição sua veio já no ano seguinte, o livro Cozinha alemã, com o qual promovia um resgate de elementos associados à culinária e à gastronomia mantidas pelos imigrantes.

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O seu segundo livro, Colônia alemã: histórias e memórias, de 1978, ampliou esse olhar sobre a região de São Leopoldo, agora com atenção aos mais variados aspectos sociais, culturais, econômicos e educacionais, entre outros. A partir dessa perspectiva panorâmica, estendida para todo o entorno da colônia pioneira, nos anos seguintes foi agregando novas informações ou promovendo atualizações, conforme transcorriam datas especiais.

Foi o caso de obra específica alusiva aos 160 anos de imigração, em 1984; dos 175 anos desde a chegada dos primeiros imigrantes, em 2001, e ainda de seu último livro publicado em vida, Imigração alemã: sua presença no RS há 180 anos, lançado em 2005.

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Em mais de uma ocasião, retomara seu interesse em torno da alimentação e de hábitos, costumes e tradições dos imigrantes alemães e seus descendentes associados à cozinha. Não apenas investigava tais temas e assuntos no Instituto Histórico ou junto ao Museu, como igualmente conversava sobre eles com seus colegas pesquisadores, entre os quais estiveram Werner Altmann, Pedro Ignácio Schmitz, Arthur Blásio Rambo, Lúcio Kreutz, René Ernaini Gertz, Günter Weimer, Angela Teresa Sperb, Helga Iracema Landgraf Piccolo e, claro, Jorge Luiz da Cunha.

Müller foi um entusiasta dos estudos sobre a imigração

Depoimento

“As suas contribuições são muito valiosas”

Jorge Luiz da Cunha
Professor e pesquisador/Especial para a Gazeta do Sul

Nas nossas comemorações do Bicentenário da Imigração Estrangeira no Brasil Independente, que diz respeito aos 200 anos da fundação da primeira colônia germânica aqui no Rio Grande do Sul, chamada de São Leopoldo – junto aos vales dos rios dos Sinos e Caí –, são um estímulo às memórias e ao reconhecimento de nosso colega Telmo Lauro Müller. Nasceu em Novo Hamburgo em 17 de setembro de 1926, e morreu em 9 de janeiro de 2012, em São Leopoldo.

Professor Jorge Cunha conviveu muito com Telmo Müller

Nosso grande historiador formou-se em cursos de graduação em Filosofia, Ciências e Letras junto à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e licenciou-se como museólogo e historiógrafo. Um fato que é um estímulo a nossa interpretação do uso dos conhecimentos e de nossas práticas sociais e educacionais.

Em 20 de setembro de 1959, com o historiador e seu amigo Germano Möhlecke, idealizou e fundou o Museu Histórico de São Leopoldo (MHSL), que presidiu como diretor durante 48 anos. Uma concepção muito importante quanto ao papel memorial e educativo da preservação de objetos que estimulam nossa reflexão sobre o passado para entendimento da realidade do tempo presente.

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Em 25 de julho de 1975, foi o responsável pela criação e fundação do Instituto Histórico de São Leopoldo (IHSL), com sede junto ao Museu Histórico de São Leopoldo, do qual participo há quase 30 anos. Retomando a grande inspiração motivada por Telmo Lauro Müller através da minha convivência com ele, creio ser extremamente importante ressaltar os resultados, especialmente aqueles relacionados com nossas comemorações dos 200 anos da imigração estrangeira do Brasil independente, que inicia com grupos germânicos.

Uma reflexão crítica em todas as áreas do conhecimento para contribuir para as práticas culturais, sociais, educacionais, econômicas etc. de uma memória e de uma história sobre a imigração estrangeira continuada para o Brasil, iniciada em 1824. Uma estratégia extremamente importante para recuperar a memória e a história cultural como ato de construção de uma unidade humana não discriminatória e fundada no reconhecimento do papel humano da diversidade.

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Essa compreensão de migrações (emigração/ imigração/colonização), a partir da especificidade dos 200 anos das migrações estrangeiras no Brasil independente, necessita ser ampliada para um campo de possibilidades que dinamizem a ligação dos seres humanos com a própria criação e a produção de sua cultura – condições de sua existência social e realizações coletivas diferenciadas e abertas para a diversidade, superando dicotomias.

Assim, é de fundamental importância aguçarmos o olhar para compreender o valor da retomada, da divulgação, da discussão e dos registros de diversas manifestações e produções científicas, culturais, sociais etc. de Telmo Lauro Müller, uma memória necessária.

Atenção aos aspectos humanos

No início da década de 1980, o professor Telmo Lauro Müller publicara uma série de obras nas quais registrava o resultado de suas pesquisas no ambiente da Colônia de São Leopoldo. Nesse esforço, lançava mão de sua própria vivência, oriundo que era da Lomba Grande, área que fizera parte da colônia original.

Em 1980 lançou Imigração e colonização alemã, trabalho que organizou, sistematizando uma série de temas amplamente discutidos nos encontros do Instituto Histórico de São Leopoldo. No ano seguinte, 1981, foi a vez de ele próprio apresentar dois volumes, que se complementam: Colônia alemã: histórias e memórias, com seus apontamentos sobre a vida na região antes, durante e depois da chegada dos imigrantes; e Colônia alemã: imagens do passado, no qual compartilha parcela do vasto acervo de fotografias de época que começaram a ser reunidas tanto no Museu quanto por atuação do próprio Instituto Histórico.

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Em seus registros, o professor Müller dedica atenção a aspectos que, se num primeiro momento dizem respeito direto à Colônia de São Leopoldo, na verdade dialogam com todas as demais áreas de imigração alemã no Estado. A seção que nomeia “Aspectos humanos da vida na colônia” resgata situações associadas à língua alemã, em seu contato com o português e outras línguas faladas na colônia; a expressões populares e humor, bem como ao entretenimento.

Em todas as colônias, incluindo a de Santa Cruz, alguns elementos firmaram-se no imaginário da população, como os associados a datas festivas, a exemplo do Natal e da Páscoa, mas ainda a expressão de religiosidade e a preocupação imediata com a educação. Müller reserva olhar carinhoso para a cultura, como a música, o canto, as bandinhas, o Kerb, os brinquedos, o esporte e até o Musterreiter, o caixeiro-viajante, onipresente nas colônias.

Sede da Real Feitoria do Linho Cânhamo, que acolheu os pioneiros

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