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LA BELLA ITALIA

A música como ferramenta na concretização de uma identidade cultural e paz

Bea Dummer em apresentação ao lado do músico santa-cruzense Gustavo Sehnem

Bea Dummer em apresentação ao lado do músico santa-cruzense Gustavo Sehnem

Por Beatrice Dummer
De Torino, na Itália exclusivo para o Magazine

Como cantora e compositora, sempre acreditei no poder da música. Ela transformou a minha vida, me trazendo maior qualidade de vida, liberdade de expressão e um profundo entendimento dos meus sentimentos. Vejo a música como um porto seguro. Basta cantar e, imediatamente, acesso a liberdade de ser quem eu sou. Afinal, a nossa voz carrega a nossa história, tudo o que sentimos e tudo o que vivemos.

Porém, ela vai além de nós mesmos como indivíduos. A música reflete a cultura da qual fazemos parte. E por isso, neste artigo, decidi explorar o tema “A música como ferramenta na criação de uma identidade cultural e paz”, conversando com o musicista, multi-instrumentista, compositor, diretor artístico e pesquisador em etnomusicologia e arqueoacústica – entre outros títulos no âmbito – Simone Campa.

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Tive a honra de assistir ao seu espetáculo “Orchestra Terra Madre”, no Teatro Vittoria, em Turim. O projeto tem o objetivo de criar uma comunidade internacional de musicistas, abrindo espaço para uma expressão artística livre, compartilhada e multiétnica. Defende o encontro entre pessoas, a troca de conhecimento, a valorização das tradições e das raízes culturais.

Proposta de integração: apresentação no contexto do projeto da Orchestra Terra Madre, idealizado pelo musicista Simone Campax | Foto: Sara Fusano

A inspiração para o projeto surgiu porque Campa, apesar de ser nato em Turim, é de uma família de imigrantes do sul da Itália (Puglia). Na história do país, os movimentos migratórios sempre estiveram presentes. Muitas pessoas emigraram do sul para o norte, buscando melhores condições de vida.

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Lembrando que o norte da Itália se industrializou de forma intensa a partir de 1950 com o “Milagre Econômico”: Gênova com seu porto, Milão com a moda e Turim com a Fiat. Além do movimento interno de pessoas, a cultura italiana é fruto de um rico intercâmbio com diversas outras culturas – como a árabe, a grega, a normanda, a bárbara, entre tantas outras que ocuparam, comercializaram e deixaram suas marcas no território ao longo dos séculos.

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Campa honra os seus antepassados ao cantar em dialeto napolitano, como fazia a sua avó, e cria um terreno fértil para a escuta multicultural, o compartilhamento de talentos e conhecimentos, além do desenvolvimento de uma comunidade. É uma forma gentil de fazer política e dar voz a este assunto tão evidente no mundo: imigração. Para que sejamos pontes, e não muros.

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Ao falarmos sobre o tema da imigração italiana no Brasil, sabemos que as tradições familiares foram transmitidas de geração em geração, mantendo a memória dos antepassados ainda viva, mesmo que longe da sua terra natal. E uma das formas mais eficazes de fazê-lo é através da música.

As canções compõem grande parte dos “arquivos” que formam uma cultura. Narram contextos familiares, histórias e rituais. Carregam sons e timbres específicos. São protagonistas na transmissão das tradições de forma oral. A digitalização que vivemos hoje facilitou o registro de tudo em nossos celulares. Mas, no passado, os registros eram feitos em forma de música. Os grandes mitos – histórias como Ilíada e Odisseia – e clássicos foram transmitidos através de poemas e versos. Além disso, a memorização dos conteúdos se torna mais fácil com a presença de melodias.,

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Dito isso, todos temos uma memória sonora. A audição é o primeiro sentido a se desenvolver, e o último a ir embora. Existem casos, por exemplo, de pessoas em coma e ausentes dos seus outros sentidos que continuam a escutar tudo o que se passa no ambiente. Através da escuta, podemos nos conectar com o passado e reviver memórias. Os nossos ouvidos registram tudo, e, por isso, ao ouvirmos uma música presente na nossa infância, podemos ser imediatamente transportados à nostalgia. Por essa razão, os imigrantes cantavam canções sobre suas terras de origem – pois isso ajudava a diminuir a saudade e a se sentirem ainda pertencentes. Além disso, a música, celebrada como lembrança de uma identidade, cria laços profundos e eternos entre pessoas. Não é à toa que é chamada de “linguagem universal”.

Campa: uma comunidade

Campa também me ajudou a entender por que os italianos são assim – tão musicais! Eles cantam bem, estão sempre afinados – mesmo sem serem profissionais. A afinação parece vir do coração. É porque valorizam a convivialità, a alegria de compartilhar bons momentos com pessoas queridas. Trata-se de uma predisposição cultural. A música é vista como um bem comum, assim como a culinária, que também é percebida como um ato de generosidade e uma forma de reunir pessoas. Se somarmos uma boa refeição com música, a festa está feita. Esse é o espírito italiano.

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E se ainda restavam dúvidas sobre o poder da música, Campa levou sua experiência para o Parlamento Europeu, onde realizou uma palestra com duração de três horas. Estavam presentes mais de 500 representantes da União Europeia e de países vizinhos ao bloco. Ele os fez cantar sob a mesma nota e bater palmas no mesmo ritmo. O objetivo: fazer com que todos estivessem em UNÍSSONO – uma nota só. Uma harmonia criada através da música. Uma sintonia que se expande em união, sem que importe a nacionalidade, mas apenas a criação de uma comunidade.

Gostaria, de forma utópica, que aprendêssemos todos a vibrar na mesma nota. Essa nota seria de paz, empatia e aceitação em relação à cultura alheia. Não precisamos deixar de ser quem somos, mas precisamos aprender a respeitar o outro se quisermos.

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