O aumento da temperatura provocado pelas mudanças climáticas pode tornar inviável o cultivo de alface em campos abertos no país durante o verão daqui a cerca de 50 anos. O alerta está em um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ligada ao Ministério da Agricultura e Pecuária.

Segundo pesquisadores, em um cenário otimista de aquecimento global, nos últimos 30 anos deste século, 97% do território brasileiro terá risco climático alto ou muito alto para cultivo de alface em campo aberto durante o verão.
LEIA TAMBÉM: Mais de 2 mil proprietários de imóveis rurais já entregaram a declaração do ITR em Santa Cruz
Publicidade
Para chegar à conclusão, técnicos da Embrapa analisaram como diversos cenários de mudanças climáticas podem afetar o cultivo da hortaliça, considerada vulnerável a altas temperaturas. O engenheiro-agrônomo Fábio Suinaga, pesquisador em Melhoramento Genético da Embrapa Hortaliças, explica que do ponto de vista evolutivo, a alface depende de temperatura amena e boa umidade para se desenvolver plenamente.
“Os números projetados são preocupantes porque a adaptação da espécie às altas temperaturas é mínima, especialmente se considerar que as sementes de alface exigem temperaturas inferiores a 22 graus para haver germinação”, avalia.
LEIA TAMBÉM: Pacote prevê R$ 12 bilhões em crédito aos agricultores para renegociação de dívidas
Publicidade
Cenários otimista e pessimista
Os pesquisadores cruzaram informações de projeções climáticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), um órgão da Organização das Nações Unidas.
O levantamento considerou dois cenários, um otimista (RCP 4.5) e um pessimista (RCP 8.5), em relação a quanto a temperatura vai subir na comparação com o clima do período histórico de 1961 a 1990.
- Projeção otimista: há um controle das emissões de gases do efeito estufa, causadores do aquecimento global. Isso resultaria em um aumento da temperatura do planeta entre 2 graus e 3° graus, na janela de 2071 a 2100.
- Projeção pessimista: as emissões de gases continuam crescendo até 2100, resultando em aumento de até 4,3 graus na temperatura do planeta.
LEIA TAMBÉM: Produção de morangos em Santa Cruz sofre com excesso de chuvas
Publicidade
Os técnicos utilizaram modelos que projetam temperaturas mínima, média e máxima para todas as épocas do ano. A estação mais crítica é o verão, quando a temperatura pode ultrapassar os 40 graus em boa parte do país, patamar considerado bem acima do ideal para o desenvolvimento da alface, que exige clima ameno e umidade equilibrada.
- Cenário otimista: entre 2071 e 2100, faixa de temperatura durante o verão de 23,4 graus a 41,2 graus. Dessa forma, 79,6% do território nacional apresentará risco climático alto; e 17,4%, muito alto.
- Cenário pessimista: temperatura no verão de 25,4 graus a 45 graus, deixando 11,8% do território com risco alto; e 87,7%, muito alto.
Nos dois casos, praticamente todo o território se aproximará do nível inviável para cultivo de alface em campo aberto no verão, sendo que, no cenário pessimista, a proporção de “muito alto” é muito maior que a de “alto”.
Atualmente, a maior parte do cultivo de alface no Brasil se dá nos campos abertos, e a menor parte é feita nos chamados ambientes protegidos ou controlados, como estufas.
Publicidade
Efeito do calor
Um dos efeitos causados pelo calor na alface é a queima de borda, também conhecida como tipburn, uma desordem relacionada à deficiência do mineral cálcio nas folhas.
A Embrapa explica que, em condições climáticas desfavoráveis, como altas temperaturas e excesso de umidade, como acontece nos cultivos de verão, as folhas crescem rapidamente, e o deslocamento de cálcio na planta fica comprometido, o que ocasiona manchas escuras na borda das folhas.
LEIA TAMBÉM: Expointer de 2025 bate recorde de público de todas as edições
Publicidade
Temperaturas médias acima de 25 graus também causam florescimento (pendoamento) precoce. Com isso, a alface perde qualidade e o padrão comercial, pois há o alongamento do caule, a redução do número de folhas e maior produção de látex, que dá o sabor amargo à hortaliça.
QUER RECEBER NOTÍCIAS DE SANTA CRUZ DO SUL E REGIÃO NO SEU CELULAR? ENTRE NO NOSSO NOVO CANAL DO WHATSAPP CLICANDO AQUI 📲. AINDA NÃO É ASSINANTE GAZETA? CLIQUE AQUI E FAÇA AGORA!