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CULTURA

Digitalização preserva acervo histórico de Rio Pardo

Foto: Rodrigo Assmann

Nicolau, que faz parte da equipe de Gramado, realiza escaneamento dos documentos

Ao subir as escadas e chegar até o segundo piso do prédio da Prefeitura de Rio Pardo, na Rua Andrade Neves, uma das salas guarda a história de todo o Estado. Nas prateleiras, em pastas e cadernos, cujas páginas dão indicativos da bagagem histórica, repousam registros valiosos dos antepassados do povo gaúcho. Tanta história, antes limitada aos que visitavam o Arquivo Histórico Municipal Biagio Soares Tarantino, está prestes a extrapolar os limites geográficos. Tudo isso graças ao trabalho inédito de digitalização, realizado desde a última semana de agosto.

Esse movimento, aliás, é sinônimo de tranquilidade para aqueles que lutam pela preservação da história. Há quase três décadas à frente do espaço, a servidora pública Neuza Terezinha Duarte de Quadros, de 71 anos, resume em uma frase o sentimento diante da iniciativa. “Dá para dormir mais tranquila agora.” Além disso, a professora aposentada de História afirma ser gratificante participar desse capítulo. “Para mim, isso tudo é uma bênção do Biagio.”

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É nesse clima de animação que a equipe deve seguir pelos próximos meses. A digitalização, que deve compreender documentos dos períodos colonial (1500-1822) e imperial (1822-1889), contempla documentos, como atas e registros gerais da Câmara, códice geral, livros sobre escravidão, correspondências, entre outros. 

A expectativa inicial, de digitalizar 20 mil páginas, deve ser superada. “Acreditamos que iremos conseguir dobrar esse número, chegando a 40 mil”, afirma a presidente da Associação de Amigos do Solar do Almirante, Patrícia Fontoura.

Público terá acesso gratuito ao material após a digitalização

Diante do computador, o colaborador da MétoDoc, responsável pelo trabalho, Nicolau Oliveira manuseia, cuidadosamente, os livros entregues à digitalização pela equipe do Arquivo Histórico. De Gramado, ele e mais três colegas se revezam para dar andamento à atividade. Cada um permanece, em média, uma semana no município. Especializada em digitalização de documentos, a empresa geralmente digitaliza material de cunho administrativo. “Livros tão antigos é a primeira vez”, afirma Nicolau. 

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Após a conclusão, o material ficará disponível em um website, cujo acesso será gratuito. Assim, o manuseio físico deixará de ser uma ameaça às preciosidades mantidas há mais de dois séculos no arquivo. 

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“Somos um dos municípios mais antigos do Estado. Quanta coisa bonita e histórica temos aqui. É muito importante possibilitar o acesso das pessoas, pois é importante que possamos conhecer o passado. Ele nos impulsiona ao futuro e complementa o hoje”, afirma Neuza de Quadros.

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Neuza de Quadros, Jeandro Garcia e Patrícia Fontoura: equipe destaca a importância do processo para a memória do povo gaúcho

Uma descoberta sobre a Revolução Farroupilha

A importância do Arquivo Histórico de Rio Pardo fica ainda mais evidente quando pesquisas trazem à tona novos aspectos sobre a história de um povo. O produtor cultural Jeandro Garcia que o diga. Recentemente, nas pesquisas envolvendo a Chama Crioula, que será sediada na Tranqueira Invicta, em 2026, ele descobriu uma carta do coronel Bento Manoel Ribeiro, enquanto imperial, na qual ameaçava Rio Pardo, fato que causou estranheza ao pesquisador. 

Ao procurar pelo documento de resposta, acionou a servidora Neuza de Quadros, que o encontrou. “Nesse texto, para minha surpresa, alguns trechos citam Bento Gonçalves, o que mudaria o que se sabe até hoje, de que o município fosse majoritariamente imperial.”

Um dos parágrafos diz: “Por isso, esta Câmara declara a V.S. que, longe de ser rebelde, presta total obediência às ordens legítimas do digno Coronel Bento Gonçalves (…)”. No fim ainda consta: “caso deseje entrar nesta Vila apenas com a espada desembainhada, sendo inimigo do sossego público, onde apesar de indefesa Vila temos entre 300 ou 400 combatentes, também terá que destroçar a coluna do intrépido Coronel Bento Gonçalves, bem como se acha a defenderem Porto Alegre (…)”.

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Um dos militares mais conhecidos de seu tempo, Bento Manoel Ribeiro adotou posições controversas durante a Revolução Farroupilha (1835-1845). Inicialmente surgiu como farrapo e depois como imperial. Mais tarde, se mostrou novamente farrapo e, finalmente, após mais de dois anos de neutralidade, lutou pela Unidade do Império até o final da Revolução. 

“Pode ser que algo tenha mudado mais adiante, já que Rio Pardo foi atacada pelos farrapos em 1838, curiosamente sob o comando de Bento Manoel, então farrapo novamente. Ainda vou pesquisar mais sobre. Mas não deixa de ser um fato bem curioso, que muda parte dessa história contada”, diz Jeandro.

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Jeandro: resposta a Bento Manoel foi encontrada no livro da Câmara de março de 1836

Saiba mais

O projeto Digitalizando e Compartilhando a História de Rio Pardo preserva documentos com datas a partir de 1765. O trabalho é feito pela MétoDoc, de Gramado, com coordenação de Rodrigo Vogt e supervisão dos servidores municipais Márcio Silva e Neuza Quadros. A idealização e execução são da Associação do Solar do Almirante, em paceria com o produtor cultural Jeandro Garcia, por meio do edital da Secretaria de Estado da Cultura 25/2024, da Rede Estadual de Pontos e Pontões de Cultura. 

Os recursos são provenientes do governo gederal, repassados pelo Ministério da Cultura, por meio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB).

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