O progresso, muitas vezes, não chega por estradas de asfalto, mas pelos trilhos enferrujados que o tempo parecia ter esquecido. Enquanto muitos olham para o horizonte em busca de soluções complexas para o turismo, um plano que liga Rio Pardo, Vale Verde e General Câmara começa a ganhar corpo no silêncio das tratativas políticas. A ideia é simples e, por isso mesmo, audaciosa: transformar a malha ferroviária existente em um novo fôlego econômico para a região.
A iniciativa, capitaneada pelo prefeito de Vale Verde, Ricardo Froemming, e apoiada pelos vizinhos Marcio Pereira Brandão (General Câmara) e Rogério Monteiro (Rio Pardo), mira um modelo que já deu certo em outros cantos do Estado. É impossível não olhar para o vácuo deixado pelo Trem dos Vales após as enchentes de 2024 e não ver ali uma oportunidade de herança. Se a Maria Fumaça da Serra e o Trem do Pampa em Sant’Ana do Livramento já provaram que o balanço do vagão atrai excursões o ano inteiro, por que o Vale do Rio Pardo continuaria apenas assistindo ao trem passar?
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O projeto já chegou às mesas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Giordani Turismo, operadora dos trens turísticos da Serra e de Sant’Ana do Livramento. O otimismo é válido, mas o apito do trem não faz milagre sozinho. Para que o turista desça na estação, a casa precisa estar arrumada. Rio Pardo tem no paladar o seu trunfo – os famosos sonhos e filés de peixe são o “abre-te sésamo” para o seu patrimônio histórico. Vale Verde aposta no charme da agricultura familiar e na Rota Romântica Corações do Vale. Já General Câmara guarda a preciosidade de Santo Amaro do Sul, com um conjunto açoriano do século 18 que é uma verdadeira viagem no tempo sem precisar de trilhos.
No entanto, o desafio é regional. As iniciativas privada e pública precisam se mobilizar para aproveitar essa oportunidade que aparece como uma luz no fim do túnel. O Vale do Rio Pardo tem muito potencial ainda pouco conhecido, desde paisagens naturais, patrimônio histórico, opções gastronômicas, e muito mais. O trem turístico poderá ser o chamariz para agências criarem pacotes de viagens para cá, assim como impulsionar excursões procedentes de diversas outras partes.
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Mas para que o visitante não seja apenas um passageiro de passagem, cidades como Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires, Encruzilhada do Sul e até Sobradinho precisam se conectar a esse ecossistema. O futuro Geoparque Triássico também poderá ser impulsionado por essa via. O turismo, tal qual uma composição ferroviária, só funciona se os vagões estiverem bem engatados. Sem organização, recepção e uma divulgação que vá além das fronteiras municipais, o plano corre o risco de ficar parado na plataforma. Se bem conduzido, o trem turístico pode deixar de ser um desejo de papel para se tornar a locomotiva que faltava para impulsionar o Vale.
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