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CONVERSA SENTADA

A boa-fé escamoteada

Pela repercussão que teve minha crônica sobre o mio-mio, oportunamente versarei sobre os danos que a planta maria-mole (Senecio Brasiliensis Lees), uma flor amarela, faz no gado. Também medra em muitas regiões. É um perigo para os animais.

Quando fui promovido da comarca de Arroio do Meio para Santiago, passei a me adaptar a um outro mundo. Arroio do Meio era um lugar pacato, quase não havia problemas. Eu brincava com meus amigos: o que estou fazendo aqui se todo mundo paga suas contas e ninguém briga com ninguém?

Ao chegar em Santiago, cidade bem linda, com pessoas afáveis, a comarca estava sem juiz há dois anos. Então me deparei com pilhas de processos esperando andamento. Na época, em Santiago, havia poucos advogados. Todos, porém, muito preparados.

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Me deparei com processos que tratavam de matérias com as quais nunca havia me defrontado: problemas de posse, de propriedade, de detenção, de limites territoriais. Por sorte, havia me preparado sobre essas matérias. Mas, como todos sabemos, uma coisa é a teoria; outra, a prática.

Quando ouvia uma testemunha, ela falava um linguajar “sui generis”. O maior exemplo é a pelagem dos equinos! Eu brincava com os amigos que, para saber qual era a pelagem de determinada égua ou cavalo, era necessário um estudo de 20 anos.

Enfim, passei a visitar fazendas. E ali nasceu minha vontade de um dia ter uma propriedade rural. O homem do campo é muito educado, apesar de alguma rusticidade por vezes. Me encantava como eram gentis com a esposa e os filhos. Todavia, muitos não sabiam dizer não.

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Às vezes, pessoas pediam umas novilhas emprestadas para um rodeio. Resultado, elas voltavam estropiadas. Agora vem o pior. Exatamente o que os jornais estamparam nesses dias. Compradores de gado visitavam fazendas, pediram um prazo, pagaram pequenos lotes, que foram aumentando para, ao fim e ao cabo, se dar o calote. Sucede que o campeiro é muito reservado, acredita na boa-fé, tem vergonha de negar prazo para o comprador.

Quando eu comecei com a pecuária, fiz uma promessa a mim mesmo. Teria gado de qualidade, estabeleceria preços convidativos, mas meu gado não sairia da porteira antes de o valor estar na minha conta bancária.

O golpe é simples. O “comprador” vai a uma pequena fazenda e compra 12 reses à vista, em dinheiro vivo. Sai dali e as vende. Com esse dinheiro, vai impressionando outros de como é “honesto”. Depois, pede a todos um prazo para o pagamento das novas reses. E some, ficando o estancieiro sem mel nem porongo.

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