Agosto é um mês de mobilização no Rio Grande do Sul. Por todas as querências, cavaleiros organizam-se para ir a um determinado ponto do Estado escolhido para sediar o acendimento e distribuição da Chama Crioula – o fogo que simboliza a capacidade gaúcha de manifestação para defender seus ideais. Não é preciso ter muito conhecimento histórico para saber que naquela centelha há grande representatividade.
Neste ano, o símbolo foi aceso em Caxias do Sul. Lá estavam os representantes dos Cavaleiros da Integração, que foram buscar a Chama para iluminar a Semana Farroupilha em Santa Cruz do Sul. O grupo percorreu mais de 180 quilômetros, como faziam os tropeiros nos tempos antigos, com o intuito de manter a tradição.
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Alguns dos participantes, como João Renato Knorst e Alaor Canêz, são longevos nessa função. O primeiro faz a busca da Chama desde que o grupo assumiu essa função, há 30 anos. São histórias de quem conhece o Rio Grande do Sul à moda antiga, sobre o lombo do cavalo, e que se emociona ao relembrar os trajetos percorridos e o que isso significa.
Eles e os demais, que cavalgam pelo Estado com os mais diferentes destinos, poderiam estar em seus trabalhos, curtindo suas famílias, sorvendo um chimarrão à frente do fogão à lenha no frio inverno gaúcho. Mas isso seria permitir o esquecimento de uma cultura que ultrapassa as paredes dos Centros de Tradições Gaúchas.
Assim, refazem os caminhos que garantiram o desenvolvimento do Rio Grande, que passa por seus problemas na ordem do poder público, mas nunca deixa de ser grande. E se posta a vivenciar a história de bota, bombacha, vestido rodado e uma linguagem que nos faz únicos dentro de uma imensidão chamada Brasil. “Atávico surungo de chão batido; xucrismo curtido na tarca do tempo, refaz invernadas de ânsias perdidas; e encilha a vida no lombo do vento”, cantam Os Serranos.
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Um dos mais tradicionais grupos da música gauchesca, Os Monarcas descreveram na canção O Gaúcho e o Cavalo essa relação, que vai muito além daquilo que se possa imaginar. “Tem que respeitar o amigo, que nos serve de regalo. Até nossa independência foi feita sobre o cavalo”, resume.
Não há como fingir frieza quando se vê um sentimento tão forte. E nem sou do tipo frequentador de CTG. Poucas vezes vesti a bombacha, montar no cavalo é uma peripécia que nem me atrevo, me atrapalho até em escolher onde boto o pezinho juntinho com o seu – se coloco aqui ou ali –, e quando vejo o maçanico só penso que quem não o dança não arruma namorado (a). E mesmo assim, senti o arrepio de ver a chegada dos cavaleiros, trazendo a Chama Crioula, o sonho e a esperança de que toda a luta farroupilha não fique restrita às páginas dos livros.
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