Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

ELENOR SCHNEIDER

A pandemia e eu no supermercado

Acredito que fazer uma lista de compras seja hábito bem comum entre os leitores. Aqui em casa é assim. Neste tempo de pandemia, quase sempre eu vou ao supermercado. Antes, o que me interessava, achava fácil: carvão, carne, cerveja e na seção das frutas e verduras me saía razoavelmente bem.

Eis que vem a pandemia e o escalado sou eu. Olho aquela lista e peço à dona Carmen que ao menos me faça um mapa mental para tentar me orientar no meio daqueles vinte e oito corredores e localizar os produtos. Complicado isso, pensei e falei, mas ela foi incisiva: vai e não chia! Máscara, álcool e a lista, lá fui eu.

O primeiro item foi fácil. Na primeira estante, à direita, estava o arroz. E ela queria o Tio Juca, que não aparecesse em casa com outra marca. Olhos na horizontal, na vertical, de novo, e nada do Tio Juca. Tinha Tio Manuel, Tio Aloísio, Tio Epaminondas, até Tia Eufrásia, mas nada do tal Tio Juca. Para não chegar em casa sem arroz, peguei o pacote de um quilo do Tio Afonso e fui ao próximo item da lista: azeite girando sol. 

Publicidade

Não o encontrando, abordei uma funcionária que dirigia um tratorzinho higienizador. Ela, prestativa, me conduziu ao setor dos produtos de limpeza e me mostrou uma dúzia de itens girando sol. “Mas, não consigo fritar bife com isso”, falei. Olhei de novo e vi que na lista estava azeite de girassol.

O próximo item era X14. Não fazia a menor ideia. Como estava próximo da seção das frutas, perguntei a um dos rapazes ali. “Mas, o que é isso, é de comer, de embalar, de fazer a barba”, indagou. Ele sabia tanto quanto eu. O que fiz? Ataquei outra vez a tia da patrolinha e pedi socorro. Ela foi direto ao ponto, mas percebi que me marcou. E pior: ligou o tratorzinho e se mandou para os fundos da loja, não sem antes avisar os açougueiros: me chamem quando aquele ali da listinha tiver ido embora.

Aí chegou a vez do fermento, que tinha que ser Fleischmann. Perguntando várias vezes, cheguei à prateleira. Havia de tudo, fermento líquido, em pó, até gasoso, acho. E marcas da mais variada natureza, mas nada do solicitado. Envolto em dúvida atroz, escolhi um ao acaso, esperando contar com a compreensão familiar. “Podia ser qualquer um mesmo”, ouvi depois em casa.

Publicidade

A glória maior estava no último item: chia. Logo lembrei quando ela falou: vai e não chia. Afinal, será que queria chia ou não chia? Para evitar posteriores explicações, fui direto à gerente do supermercado. “Não me leve a mal, estou fazendo as compras e ela me pediu chia. Existe isso? É o único produto que não localizei”, falei baixinho. Ela, movida de compaixão e misericórdia, me levou até a devida prateleira. Pensei encontrar uma embalagem de uns cinco quilos, lá estava um pacotinho que cabia na palma da mão. Por via das dúvidas, peguei duas unidades e dei por encerrada a excursão.

Antes de me dirigir ao caixa, acenei para os açougueiros. Eles compreenderam e, sem demora, ouvi o suave ronco da patrolinha voltando à vida normal. E quando cheguei em casa, já havia dois itens na nova lista para a próxima aventura.

LEIA MAIS COLUNAS DE ELENOR SCHNEIDER

Publicidade

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.