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Opinião

A vida dos outros

Para quem gosta de cinema, não faltam opções nos serviços de streaming. E um destes merece atenção especial. Desde o ano passado, o Serviço Social do Comércio (Sesc) de São Paulo oferece a exibição gratuita de filmes na internet. No Cinema #EmCasaComSesc, é possível conferir produções raras, difíceis de encontrar, clássicas e contemporâneas, de todos os estilos e países. Novos títulos entram a cada semana e ficam disponíveis durante certo período. Para assisti-los, basta acessar https://sesc.digital/colecao/cinema-em-casa-com-sesc.

E uma ótima dica desse acervo é A Vida dos Outros, produção alemã de 2006, vencedora do Oscar de Filme Estrangeiro. A história se passa em 1984, na Alemanha Oriental, no lado comunista do Muro de Berlim. Gerd Wiesler é um oficial veterano da Stasi, a temida polícia secreta do regime, cuja função é monitorar e reprimir qualquer atividade suspeita contra o governo. O rigoroso Wisler recebe a missão de vigiar Georg Dreyman, então o maior dramaturgo do país e exemplo de cidadão respeitável. Ao contrário de vários de seus colegas escritores e artistas, Dreyman mantém boas relações com “os que mandam” e evita fazer críticas e contestacões públicas. Mesmo assim, paira sobre ele a desconfiança de não ser tão fiel; afinal de contas, é um artista e todo artista é potencialmente impuro em uma ditadura, seja qual for a cor dela.

A Stasi instala escutas em todo o apartamento do escritor, e a equipe de Wiesler passa a acompanhar sua rotina diária, sempre em busca de sinais subversivos. Mas nada acontece. É frustrante: as semanas passam sem nada que valha a pena escrever nos relatórios. O suspeito até defende o comunismo em suas conversas.

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Até que Wiesler descobre a razão de tudo aquilo: Georg Dreyman é o rival amoroso de um ministro, que só quer tirá-lo do caminho para conquistar uma atriz famosa. A sensação de ser usado em um jogo mesquinho, como fantoche tolo, é perturbadora para o oficial. Difícil não se perguntar: quantas vezes algo parecido já não havia acontecido? Quantas vezes, pensando cumprir seu dever ao perseguir os inimigos do país, em nome de valores vitais para ele, não fora um instrumento para manobras escusas dos poderosos de plantão?

No fim, a arte vai trazer sentido para o mundo do policial. E as vidas desses outros – os outros do “lado de lá”, os adversários – mudarão sua própria vida. Vale conferir.

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