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ROSE ROMERO

Aprenderemos?

Foto: Ricardo Gais

Tem uma goteira em cima da minha cama. Acordei no meio da noite com algo gelado sobre a barriga. Toquei. Meu cobertor fofo e aconchegante parecia molhado. Liguei a luz, sentei, e ainda sob as cobertas, tentando entender a situação, senti o pingo frio na cabeça. Olhei para cima e lá estava ela: a luminária no teto gotejava.

A chuva havia entrado por algum lugar e escorrido pela laje até a abertura da fiação elétrica. Sei direitinho como aconteceu. E sei que vou passar ao menos uma semana com baldes recolhendo a água que cai de tempos em tempos. Será preciso parar de chover. Depois, teremos que esperar as telhas secarem. E só então o Alexandre poderá resolver o problema.

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Sei porque no ano passado foi exatamente igual.

Aliás, foi quase igual. Este ano, a goteira veio em junho. Em 2024, ela surgiu em maio. E você sabe de que maio estou falando. Porque não há gaúcho que não lembre do horror que foi aquilo.

É por isso que agora, com chuvas quase intermitentes desde o início da semana, somos um Estado acuado. E se acontecer novamente? E se as águas outra vez levarem tudo de arrasto em proporções terríveis? O que fazer se parte de nós não acredita nas mudanças climáticas? Se há oportunistas a se beneficiar da desgraça? Se obras viáveis não foram realizadas e promessas inviáveis, claro, não foram cumpridas? Como convencer as pessoas de que teremos que mudar nossas cabeças, nossas cidades, nossos bairros e muitas outras coisas? Como romper a ignorância em nome do futuro? A ideia de progresso a qualquer custo, a ambição desmedida?

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Não tenho respostas. Mas escrevo porque acredito que é possível. Por ora, penso no privilégio de ter apenas um pequeno transtorno diante de tantas perdas. E então, contrariando minha pouca crença, agradeço a Deus por estar bem, por ter um teto ao abrigo da tragédia.

Sem sono, vigio o tempo noite adentro. Da cama, agora afastada para um lado do quarto, ouço o ploc… ploc… ploc compassado da goteira. E a chuva insistente lá fora. Às vezes mais forte, às vezes mais fraca, a nos dizer com voz de chuva: “Estou de novo sobre o Rio Grande. Aprendam comigo.”

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