“Heloísa, eu não estou tendo um caso. Não sei de onde você tirou isso.” “Amiga, você está linda.” “Vai dar tudo certo.” “Você aplica R$ 2 mil e ganha R$ 200 mil.” “Pode confiar em mim. Sou um túmulo.” “Eu nunca menti.”
O que essas frases têm em comum? São todas usadas em mentiras. Desde as inofensivas até as grandes farsas.
Dizem que todo mundo mente. Que não suportaríamos a existência caso falássemos sempre a verdade. Acho que concordo. Pequenas omissões por educação. Elogios por pura gentileza. Uma desculpa para evitar um compromisso… São aceitáveis. Já outras…
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Tive um colega mitômano. Ou apenas um tanto desonesto. Não sei. Julguem vocês. Pois esse moço, chamado Pedro, se safava das tarefas mais complicadas alegando que precisava cuidar do Pedrinho, seu filho.
Pedrinho, segundo relatos do nosso colega, fora resultado de um namoro sem futuro. Em poucos meses, a jovem mãe partira e Pedro se viu pai. Sem experiência e sem salário. Nem emprego tinha. Chegou a pensar na possibilidade de doar o garoto. Estava desesperado.
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Então, um dia, ao ver aquele bebê rechonchudo mexendo as mãozinhas, sentiu uma emoção profunda. Um serzinho frágil, totalmente dependente. E dele. O guri do Pedro. Foi como um raio. Uma luz. E Pedro, repentinamente tomado por uma seriedade que nunca tivera, decidiu dedicar sua vida ao filho.
Ocorre que Pedro morava no interior do interior do interior. E precisava ganhar mais. Foi por isso que, de coração apertado, deixou o rebento com a avó e se tocou para Santa Cruz. Não sem antes garantir que todas as sextas à noite estaria lá. Pedrinho jamais poderia dizer que crescera sem pai.
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E assim foi. Não havia final de semana ou feriado longe do filho. Não havia noite que não fosse dedicada a organizar isso ou aquilo pensando no filho. Depois das 18 horas, ninguém encontrava o Pedro. Atividades da empresa fora do horário comercial? Plantões? Nem pensar.
– Pedro, você está na escala de trabalho deste sábado…
– Não posso, tenho que ir para casa. Meu filho está com sarampo. Estou preocupadíssimo. Nem dormi.
E nós aceitávamos.
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Até que, Pedro nem trabalhava mais conosco, alguém conheceu uma prima dele na Oktoberfest e chegou com a bomba: o filho era uma lenda. Nunca existiu. Nosso ex-colega, hoje casado e morando em Curitiba, havia mentido no emprego durante cinco anos.
Preguiça? Deboche? Esperteza? Ideologia? Doença? Sei lá. O que sei é que há mentiras maiores, mais perigosas e fascinantes do que a do Pedro e sua paternidade. Mas nenhuma tão impressionante para mim.
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