É uma pena que nasçamos tão desprovidos de sabedoria. E que depois, demoremos tanto para aprender. Se viéssemos com algum conhecimento prévio, talvez fosse mais fácil e rápido descobrir as verdades por trás das aparências.
Mas que nada. Chegamos inocentes como uma folha em branco. Uma folha disponível para receber qualquer palavra. E como somos a espécie mais inteligente da Terra, os que já estavam por aqui se encarregam de, rapidamente, preencher nossa folha com as regras vigentes. Para as mulheres, isso não tem sido nada bom.
Desde cedo família, escola, vizinhos e até desconhecidos se encarregam de diferenciar meninas de meninos. O projeto é garantir que esses novos seres sigam a cartilha: meninos devem ser fortes e preparados para a autonomia. Meninas devem ser delicadas, dóceis e prontas para abrir mão de alguma coisa pelos outros. Como se isso fosse obrigatório. Como se a tal da feminilidade viesse de um gene e não de uma imposição socialmente construída.
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Desde cedo somos preparadas para agradar, não para ocupar espaços. Ainda na infância começa a vigilância sobre nossos corpos. De nós se espera autocontrole, simpatia, meiguice, beleza. Para os meninos, a conversa é diferente. Com a justificativa de que “isso é coisa de guri”, eles quase sempre são compreendidos e desculpados.
É uma carga tão grande de crenças e deveres, uma engrenagem tão insidiosa e constante, que não raro partimos dessa vida sem aprender o essencial sobre respeito e liberdade. Muitas de nós ainda acreditam que é certo o homem ser o “chefe da casa”, ganhar mais quando faz o mesmo serviço que nós, ver TV na sala enquanto nós lavamos os pratos, ir embora nos deixando com a responsabilidade pelos filhos porque nós “cometemos algum erro”, e nos bater quando “incomodamos”.
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O Brasil é o 5º (ou 4º, segundo alguns levantamentos) país on-de mais se matam mulheres no planeta. À frente ficam El Salva-dor, Colômbia, Guatemala e Rússia. São números recentes para um problema antigo. A violência contra a mulher no Brasil remonta à invasão portuguesa, se não mais. A colonização europeia trouxe o modelo patriarcal cristão e a ideia de que a mulher é propriedade do homem. Que a ele deve obediência e, se não obedecer, precisa ser punida. Essa violência – física, psicológica, sexual – tem causas históricas, religiosas e culturais bem claras.
Pouco importa o verniz tecnológico de nossa população hiperconectada. Pouco importa nossa aparente liberalidade. Na intimidade, flertamos com o obscurantismo medieval.
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É imprescindível subverter essa lógica. Mudar tudo. Falta muito? Falta. Mas meu palpite é de que as mulheres não pretendem desistir.
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