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DA TERRA E DA GENTE

As nossas auroras

A propósito do e-book A manhã vai chegar, apresentado pela Academia de Letras de Santa Cruz do Sul (disponível para leitura no site da Editora Gazeta: www.editoragazeta.com.br), onde incluo minha contribuição, novos pensamentos me assomam e se associam ao espírito da obra, de vislumbrar a perspectiva de dias melhores após o tempo das aflições epidêmicas, ou até para já amenizá-las.

Ocupando as horas expandidas deste período de maior isolamento com leituras como as de Thomas Mann (Dr. Fausto) e, em especial, H. D. Thoreau (Walden ou A vida nos bosques), vem à mente e ao espírito a melhor contemplação do que está ao redor em nossa bela cidade e em nosso bucólico interior, que pode fazer muito bem à nossa alma, ao lado da apreciação, por exemplo, da boa música (“a mais espiritual das artes, segundo Mann).

Quero compartilhar algumas preciosidades emitidas pelas palavras de Thoreau no relato de sua experiência de vida na mata durante dois anos. “Manhã é quando estou desperto e há uma aurora em mim” – olha só que dizer mais belo! E continua: “Desconheço fato mais estimulante do que a inquestionável capacidade do homem de elevar sua vida por um esforço consciente. Já é uma grande coisa ser capaz de pintar um quadro ou esculpir e assim dar beleza a alguns objetos; mas muito mais glorioso é esculpir e pintar o próprio meio e atmosfera que nosso olhar atraem”.

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Pois não foi preciso fazer esforço para pincelar esse ambiente ao acordar na manhã seguinte e fazer o desjejum matinal na varanda da casa, onde podia observar um tucano a colher o seu alimento nos cachos da palmeira real do pátio, beija-flores zunindo por perto, joãos-de-barro, bem-te-vis e outros pássaros dando o ar da graça nos verdes cuidados do terreno próprio e de vizinhos da cidade que se mantém louvavelmente arborizada.

Paisagens semelhantes e fascinantes se me oferecem ao caminhar, com a devida proteção contra o invisível vírus, por nossas belas ruas e praças e me deslocar pelos lindos vales e montanhas interioranos, ainda desconhecidos de muitos urbanos. Lembranças também me ocorrem, como as da mãe Francisca (a Ciss de Carl & Ciss – Crônicas da Colônia Alemã, meu mais recente livro, à disposição dos interessados na Casa de Clientes Gazeta e na Livraria Iluminura), que dizia ser o seu momento mais feliz quando ia capinar alguma lavoura e ficava a admirar, só ela e a enxada, o canto dos passarinhos e o azul do céu.

Quem sabe nestas horas diferentes e difíceis que todos querem ver passar, possamos dar lugar e vez ao nosso ser íntimo mais contemplativo e apreciar as belezas que se oferecem de graça e, muitas vezes pela pressa, não conseguimos enxergar. Talvez possamos assim apressar, sem fazer força, a linda manhã e a aurora que todos esperam chegar.

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