O setor de produção de aves no Rio Grande do Sul está em alerta desde essa sexta-feira. Foi confirmado em Montenegro o primeiro caso de influenza aviária de alta patogenicidade H5N1 em granja comercial. O registro mobilizou o Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).
A suspeita de síndrome respiratória e nervosa de aves foi apontada em 12 de maio, o que levou à coleta de amostras analisadas pelo Laboratório Federal de Diagnóstico Agropecuário, em Campinas, São Paulo. Com a confirmação, o Serviço Veterinário Oficial do Rio Grande do Sul (SVO-RS) desencadeou as ações previstas no Plano Nacional de Contingência de Influenza Aviária.
Conforme o secretário estadual da Agricultura, Edivilson Brum, trata-se de uma questão muito isolada em Montenegro. “Nós temos mais de 60 profissionais desde ontem [quinta-feira, 15], que isolaram a propriedade, estão fazendo a despopulação do restante”, afirma. A medida consiste na eliminação dos animais como forma de evitar riscos. Em torno de 17 mil aves foram contaminadas pela gripe aviária.
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No raio de dez quilômetros, uma equipe do Estado fará visita aos produtores para saber se existe alguma outra ocorrência. “Estamos dando esforço no sentido de neutralizar no município de Montenegro para que não haja nenhuma contaminação”, acrescenta Brum.
Com apoio do Batalhão Ambiental da Brigada Militar, da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), secretarias do Meio Ambiente e da Saúde e Ministério da Agricultura, os trabalhos buscam eliminar com a maior rapidez o foco. Brum antecipa que, depois da eliminação dos animais, será feita a limpeza das camas das aves e a sanitização do local.
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“Tem um período que fica vazio, durante mais ou menos 28 dias, depois a gente começa a reintroduzir as aves monitoradas para a confirmação da sanidade do local e da granja.” O secretário reforça que não há razão para a preocupação da comunidade gaúcha em consumir carne de frango, ovos e derivados. “Não há motivo para ter algum tipo de preocupação em relação a isso”, ressalta Edivilson Brum.
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China e UE suspendem compras do Brasil
A confirmação do foco de gripe aviária em Montenegro levou à suspensão temporária das exportações brasileiras de carne de frango para a União Europeia e China. Um segundo foco ainda foi detectado no Zoológico de Sapucaia do Sul, a cerca de 50 quilômetros dali, também na Grande Porto Alegre.
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De acordo com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a suspensão de importações é automática e está prevista nos protocolos de exportação de frango acordados entre o Brasil, o bloco europeu e a China.
A União Europeia está entre os principais destinos do frango brasileiro. As exportações para o bloco respondem por cerca de 7% de todo volume vendido no exterior pelo Brasil. Em 2024, os embarques de carne de frango para os 27 países da União Europeia somaram 229,984 mil toneladas, movimentando US$ 655,3 milhões.

A China, que compra 10,89% de toda a carne de frango que o Brasil exporta, também suspendeu, por até 60 dias, as importações. “Para a China e a comunidade europeia, restringe-se [as compras de carne de frango] para todo o Brasil temporariamente”, confirmou.
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Esse é o primeiro registro de H5N1 em sistema comercial no Brasil, embora o vírus já tenha sido identificado em aves silvestres desde 2023. Segundo Fávaro, desde a descoberta daquele ano, o ministério intensificou a revisão dos protocolos com os importadores. “Com alguns países, ainda não foi concluído. É possível que consigamos essas mudanças, comprovando que outras regiões [do País] não têm risco de foco e, com isso, liberação dos embarques das demais regiões.”
m seus protocolos com o Brasil estão Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes e a Argentina, que hoje limitam as restrições apenas ao estado ou ao município afetado. “No caso do Japão, por exemplo, que compra do Brasil 70% da carne de frango que importa, as exportações seguirão normalmente, com exceção dos produtos originados do município de Montenegro.”
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Além do Japão, Reino Unido, Emirados Árabes e Arábia Saudita devem barrar apenas a compra de frango de produtores gaúchos, segundo Fávaro. A Argentina, no entanto, anunciou que suspendeu todas as importações de frango do Brasil. (Agência Estado)
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Riscos descartados
O diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, divulgou vídeo sobre gripe aviária para tranquilizar a população brasileira sobre o vírus. Na gravação, Lucchi ressalta que a doença foi confirmada no Brasil pela primeira vez em granja comercial e que “a população pode ficar tranquila que o consumo [da carne de frango ou ovos] não transmite a gripe aviária”.
“A contaminação não se dá através dos alimentos, mas apenas a pessoas diretamente ligadas ao processo produtivo, manejando os animais”, disse. O objetivo foi acalmar os consumidores diante da apreensão que tomou conta do mercado ao longo dessa sexta-feira.
Lucchi elogiou também a “segurança e robustez” do serviço veterinário oficial do Brasil, gerido pelo Ministério da Agricultura. “O Brasil já faz monitoramento do vírus da gripe aviária de longa data”, prosseguiu. Segundo ele, é um vírus que está ativo desde 2006 e muitos países produtores, como os Estados Unidos, já tiveram o problema.
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“Só de 2023 para cá, o Brasil já monitorou quase 4 mil suspeitas de casos para tentar encontrar o vírus, que ocorre principalmente em aves silvestres, visto que o País é rota migratória de boa parte delas.”
Saiba mais
A influenza aviária, também conhecida como gripe aviária, é uma doença viral altamente contagiosa que afeta principalmente aves silvestres e domésticas, mas pode acometer humanos. Os principais sintomas apresentados nas aves são dificuldade respiratória; secreção nasal ou ocular; espirros; incoordenação motora; torcicolo; diarreia; e alta mortalidade. Todas as suspeitas de influenza aviária, que incluem sinais respiratórios, neurológicos ou mortalidade alta e súbita em aves, devem ser notificadas imediatamente à Secretaria da Agricultura através da Inspetoria de Defesa Agropecuária mais próxima ou pelo WhatsApp (51) 98445 2033.