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INSPIRAÇÃO

Chef Cátia Leal: uma receita de sucesso

Foto: Alencar da Rosa

O que é prazeroso também é muito sério.” Cátia Leal

O mundo muda o tempo todo. Parece uma reflexão banal de fim de ano, mas é uma das maiores verdades. E decisões – acertadas ou não – podem transformar vidas para sempre. Foi em 2010 que a chef Cátia Leal fez uma escolha: cursar Gastronomia na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).

O que poderia ter sido apenas uma definição sobre o próprio caminho profissional tornou-se um marco, um exemplo que, direta e indiretamente, impacta inúmeras vidas diariamente. Que bom que deu certo! Afinal, tomar decisões nem sempre é fácil, ainda mais depois dos 30 anos, quando a maternidade também é uma realidade.

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Embora com medo do que estava por vir, Cátia enfrentou aquele questionamento que não parava de martelar – e que muitos faziam questão de externar: como largar um emprego estável para se aventurar no desconhecido? O apoio da família foi fundamental, tanto quanto a coragem e a determinação da futura chef.

É claro que o gosto pela cozinha surgiu bem antes da escolha da profissão. A chef Cátia Leal, coordenadora da Gastronomia do Senac Santa Cruz do Sul, tem na bagagem lembranças ainda da infância, construídas com a família, que tinha tradição de promover grandes jantares em qualquer data que julgasse especial. Neta de proprietários de uma pousada e filha de uma professora e de um agricultor, Cátia sentia prazer em servir. “Sempre gostei de trabalhar com alimentos, preparar para as pessoas, aquilo me dava uma satisfação muito grande”, resumiu.

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Quando conheceu o marido, Márcio, ainda aos 15 anos, a combinação de aptidões fez com que iniciassem um negócio – não muito sério – de decoração de festas infantis. Ele é publicitário e ilustrador, então era responsável por desenhar os temas, e ela por esculpir no isopor. Depois, agregou a oferta de docinhos. “Porém, não era rentável e nem via isso como profissão”, relembrou. A vida adulta e as obrigações, no entanto, a fizeram tomar o caminho mais seguro.

Quando se mudou de Rio Pardo para Santa Cruz do Sul, com o marido e o filho, ela optou por um trabalho com carteira assinada, no atendimento ao público do Hospital Ana Nery. “Eu amava trabalhar com pessoas, conseguir ajudá-las”, afirma. Mas ela também era responsável pela burocracia e por conviver com a dor de quem frequentava o hospital. “Era muito triste e até mesmo desafiador, porque muitas vezes eu levava a dor dos pacientes para casa”, relembrou.

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Em 2010, porém, a vontade de buscar a realização pessoal se tornou latente. “Eu pensava: por que não fazer? Mas eu também pensava: como que eu vou largar tudo agora, se eu já tenho um emprego, um salário?”, detalhou. No começo da graduação, ela manteve o emprego na casa de saúde, já que era preciso custear os estudos. Mas queria ter experiência na cozinha. Para isso, trabalhava aos fins de semana em restaurantes, lavando pratos e auxiliando no que fosse necessário. “Foi assim que tive certeza de que era o que eu queria”, afirmou.

Antes mesmo de terminar a faculdade, já largou o emprego formal e mergulhou de cabeça na gastronomia. Aos poucos, foi agarrando as oportunidades – assumindo as saladas e sobremesas – até chegar a ser cozinheira e assumir o comando da cozinha do Charrua Hotel.

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Atualmente, além de lecionar no Senac há sete anos, também trabalha com consultorias, treinamentos e capacitações de equipes e organização de pequenos jantares. Ela também é pós-graduada em História da Alimentação e Patrimônio Cultural e em Gestão de Segurança Alimentar.

Democratização da gastronomia

Para complementar a formação, Cátia fez estágios em Santa Catarina e São Paulo. Apesar de amar a cozinha, descobriu que a paixão se intensifica quando ela entra na sala de aula para ensinar. Segundo ela, é possível mudar vidas. “Hoje, eu consigo encaixar meus alunos no mercado de trabalho. E ir a um estabelecimento e saber que tem um aluno cozinhando ali é muito satisfatório”, comemorou.

Mas não é somente quem quer se profissionalizar que pode buscar o curso do Senac. Conforme a chef, as aulas são quase personalizadas, conforme o objetivo de cada aluno. “Se ele tem ansiedade, estresse, podemos trabalhar para aliviar isso. A cozinha também pode ser terapia”, explicou.

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A cozinha foi feita para todo mundo, conforme a chef, menos para aqueles que buscam estrelismo. “Nossos ídolos devem ser aqueles que têm posicionamento, não os que fazem a melhor propaganda”, afirmou. Entre os profissionais mais populares no país, Cátia Leal fez aulas com Claude Troisgros, com quem aprendeu sobre carinho e humildade – característica indispensável na cozinha. “Chef é um cargo, eu sou cozinheira”.

Os reality shows culinários, na opinião de Cátia, fizeram com que a percepção sobre isso mudasse. “Trouxe o estrelismo, que é negativo, mas esse boom da mídia fez com que a gastronomia fosse valorizada”, analisou. 

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Cátia é clara quando questionada sobre ter o próprio restaurante. “Ainda não é o momento, não é isso que eu quero. Ainda tenho muito a realizar dentro da área da educação”, adiantou. Mas ela tem as preferências dentro da cozinha: prefere preparar alimentos que valorizem o trabalho dos agricultores familiares, aquilo que tem em abundância na região. “Eu tenho que conhecer o que é meu, não somente o que é da França, da Itália… Primeiro, eu tenho que conhecer o que é nosso, o que gera, inclusive, sensação de pertencimento”, finalizou.

Na cozinha, a vaidade fica de lado

Chef Cátia Leal: satisfação em servir

Uma mulher de sorriso fácil e espontâneo, Cátia Leal cativa com simpatia e gentileza. O brilho nos olhos é contagiante. Todos esses ingredientes fazem com que ela seja bonita sem precisar de maquiagem ou outros itens, proibidos nas cozinhas. “Na cozinha, as mulheres perdem um pouco da vaidade”, afirmou. Não é permitido uso de esmalte, maquiagem ou qualquer acessório.

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Apesar de a cultura machista afirmar que cozinhar é coisa de mulher – mesmo para aquelas que não são chegadas na prática –, as cozinhas profissionais são ambientes muito masculinos, principalmente no que diz respeito a posições de liderança, como de chef. “No começo, assusta um pouquinho e, se eu te disser que nunca sofri preconceito, vou estar mentindo ”, desabafou.

O que mais acontecia, segundo ela, eram homens não aceitarem que ela lhes desse ordens. “Eu não estava ali para impor ou mandar em alguém, eu aprendi a cativar a equipe e a ser forte. Mas a gente só descobre isso sofrendo”. Cátia foi apontada, ouviu gritos e xingamentos. Hoje, tem certeza de que a cozinha não é ambiente para isso.

A família como suporte

Aos 42 anos, Cátia Leal tem um filho de 22 anos, o Filipi. Ele é militar, mas aprendeu com a mãe o prazer de cozinhar. Não por acaso, a comida se tornou um hobby compartilhado. “Ele até me ajuda em alguns eventos, se necessário”, contou. Em casa, a cozinha é o ambiente mais frequentado, que representa a união da família.

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Cátia Leal com o marido, Márcio, e o filho, Filipi

União essa que possibilitou a Cátia mudar de profissão. Segundo ela, marido e filho foram a mola propulsora para a concretização do objetivo. “Eles me incentivaram e seguraram as pontas quando foi necessário”, disse. E não há arrependimentos, apenas lições aprendidas. “Nem sempre é fácil, a questão financeira demanda muita estrutura, e a minha família foi a minha estrutura”, pontuou.

Cátia avalia que algumas coisas poderiam ter sido diferentes. “Poderia ter começado a graduação mais cedo, né?”, riu, mas deixou claro que foi importante ter tempo para o filho, que nasceu quando ela tinha 21 anos. “Tudo é consequência. Se não fosse aquele momento, tudo que passei, talvez não estaria aqui hoje. Em algum momento, pode ter parecido ruim, mas foi tudo ensinamento”, ponderou.

Hoje, colhendo os louros de uma escolha difícil, os momentos de reconexão consigo mesma são com o pé na terra. “Eu preciso me conectar com a natureza quando estou estressada demais”. Sempre que pode, portanto, gosta de mexer em plantas, sentir o sol ou até mesmo cortar a grama. “Gosto de subir em árvores, colher frutas. Se eu não tiver conexão com a natureza, não sou eu”.

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