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Apae

Uma semana para debater sobre o protagonismo e a inclusão

Foto: Rafaelly Machado

Além das atividades repassadas de forma online diariamente, a entidade fornece a cada 15 dias o conteúdo em forma impressa, para que as famílias que não dispõem de recursos tecnológicos possam retirar o material na secretaria da Apae

A pandemia exigiu adaptações em todas as áreas. Da mesma forma, a Semana da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, que começou nessa sexta-feira, 21, terá uma programação diferenciada em relação aos anos anteriores. Com a presença de público cancelada, as palestras e debates em Santa Cruz do Sul, promovidos pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), serão realizados no formato online. A abertura ocorreu nessa sexta, com a contação de histórias, e durante toda a semana serão postados vídeos nas plataformas digitais da entidade para relembrar as comemorações do ano passado. A primeira live está marcada para terça-feira, 25, a partir das 19 horas, com a psicopedagoga Cláudia Zirbes, que vai abordar o Protagonismo da família: um processo de aceitação, amor e inclusão.

Responsável pelo atendimento de 450 pessoas com deficiência intelectual e múltipla, a Apae de Santa Cruz teve de se reinventar para seguir com as atividades desde o início da pandemia. Mesmo com as aulas presenciais suspensas, a instituição não deixou de manter o vínculo escola-aluno, com o repasse de atividades online, fornecimento de conteúdo impresso e outras formas de trabalho.

Apae de Santa Cruz é responsável pelo atendimento de 450 pessoas com deficiência intelectual e múltipla

A inclusão das pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho e a fabricação de produtos adaptados para suas necessidades, entre outros aspectos, ganharam cada vez mais importância nas discussões sobre como garantir os direitos e a qualidade de vida desse público. Por isso, a Semana da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla tem como tema, neste ano, O protagonismo empodera e concretiza a inclusão social.

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“Foi preciso se reinventar”

É com a frase acima que a diretora da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Santa Cruz do Sul, Cisele Sehn Borba, define a situação vivida pela entidade em meio à pandemia. A entidade, assim como tantas outras do segmento, precisou se reinventar para continuar oferecendo serviço de qualidade às 450 pessoas com deficiência intelectual e múltipla atendidas em três áreas – educação, saúde e assistência social. Os encontros da área da educação, antes presenciais, precisaram ser adaptados e o virtual ganhou mais espaço para garantir o vínculo escola-aluno.

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Além das atividades repassadas de forma online diariamente, a entidade fornece a cada 15 dias o conteúdo em forma impressa para que não haja prejuízos à aprendizagem dos alunos. “Foi bastante difícil nos adaptar a essa nova forma de trabalho, foi uma reinvenção de tudo. Porque muitos dos nossos profissionais não tinham o hábito de trabalhar com a questão da informática, e o pessoal acabou tendo de mudar”, conta Cisele.

A aceitação das aulas remotas é de 85%, explica a diretora. “Tem pais que são muito cautelosos e cuidadosos, que, mesmo diante de toda a fragilidade financeira, estão ajudando seus filhos. Alguns chegam a ir até a casa do vizinho somente para usar a internet”, relata. “Claro que não é a mesma qualidade de uma aula presencial, pois os familiares não têm a mesma habilidade de um profissional, mas é uma forma de manter a criança assistida.” Em maio, os atendimentos de saúde foram retomados de forma gradual, seguindo as regras de higienização e segurança estipuladas pela Secretaria Municipal de Saúde.

A Apae tem uma estrutura de 2 mil metros quadrados, que compreende a escola, ginásio de esportes, sala de informática, salas de oficinas de preparação para o mercado de trabalho e a clínica com consultório e salas de atendimento de terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, estimulação precoce e psicologia. Possuiu uma equipe de 68 funcionários.

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A diretora explica que, apesar de a instituição encaminhar as atividades para serem feitas em casa, todos os alunos são monitorados e orientados a se cuidarem da melhor maneira. “Os alunos sentem saudade do convívio com os colegas e com os profissionais. Porém, por estarem mais vulneráveis e terem comorbidades associadas às síndromes, o isolamento neste momento é necessário para que em breve possamos nos reencontrar”, salientou.

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A importância da Apae

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Acompanhar o desempenho escolar e a aprendizagem dos alunos, assim como a sua inclusão no mercado de trabalho, também faz parte do trabalho da entidade. De acordo com Cisele Sehn Borba, aqueles que ingressam no ensino regular em outras escolas ou buscam uma colocação no mercado de trabalho continuam sendo assistidos. “Estamos em constante acompanhamento e sempre de portas abertas para auxiliá-los. Costumo dizer: uma vez Apae, sempre Apae. A vaga é vitalícia aqui dentro.”

Durante o isolamento social, a entidade realiza visitas domiciliares semanais, ao lado de profissionais da saúde e assistência social, para conhecer as principais demandas das famílias assistidas. “Percebe-se o quanto é difícil manter essas pessoas em casa sem os atendimentos na entidade, e a importância que a Apae tem na vida delas. Para muitos a entidade representa tudo, é o único local que eles têm para ir, onde encontram seus amigos, tem música, dança, atividades físicas. É onde eles se entendem”, comenta a diretora.

Cisele: “para muitos a entidade representa tudo, é o único local que eles têm para ir. É onde eles se entendem”

A Apae, que busca promover a autonomia e desenvolvimento dos alunos, conta com atendimentos específicos com profissionais como fonoaudiólogo e fisioterapeutas, entre outros. “Nem sempre a rede pública consegue absorver todos os atendimentos, e a particular se torna muito cara. Aqui disponibilizamos tudo disso com qualidade e de forma gratuita. Fazemos a diferença na vida deles, e isso pode ser comprovado se perguntar a qualquer pai ou mãe.”

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Pessoas cheias de habilidades e alegria

A Semana da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, que é realizada de 21 a 28 de agosto pela Federação Nacional de Apaes, tem o propósito de fomentar o debate e as ações estratégicas voltadas à visibilidade e ao papel da pessoa com deficiência. Também busca a efetiva inclusão social desse público, para que eles sejam ouvidos e respeitados em suas proposições e tenham seu direito reconhecido na sociedade.

A diretora da Apae de Santa Cruz do Sul, Cisele Sehn Borba, explica que o evento serve como vetor de mudanças, sempre com o olhar voltado para as pessoas com deficiência. “Não é uma comemoração, mas sim um alerta. Nós, como entidade, não vemos a deficiência do nosso atendido. Eles são cheios de habilidades, de vida e alegria, e queremos que eles sobressaiam acima de suas fraquezas e limitações e tenham uma vida normal, com vontades e desejos como qualquer outra pessoa”, afirma.

Conquistar a igualdade é um dos desafios

As pessoas com deficiência têm impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com os demais. E é justamente para buscar a igualdade que a Apae trabalha.

A assistente social da Apae de Santa Cruz, Mara Inês Wojahn, responsável pela primeira avaliação dos usuários que ingressam na entidade, explica que a pessoa com deficiência intelectual ou cognitiva costuma ter limitações significativas em áreas importantes da vida, como comunicação, relacionamentos, estudo, trabalho e lazer. “Ela tem dificuldade para realizar atividades comuns, como compreender ideias abstratas e estabelecer relações sociais. Embora não desenvolva um problema de característica física, muitas vezes se comporta como se tivesse menos idade do que realmente tem”, esclarece.

Já a múltipla é a associação de duas ou mais deficiências. “Ela pode ter uma deficiência intelectual associada a uma de caráter físico, auditivo ou visual”, explica Mara Inês. Contudo, o que mais se destaca entre os alunos da Apae é a vontade de superar eventuais limitações e vencer desafios.

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Entidade já encaminhou 120 assistidos para o mercado de trabalho

Por meio de oficinas de preparação realizadas pelos profissionais da entidade, pelo menos 120 pessoas com deficiência intelectual e múltipla atendidas pela Apae de Santa Cruz foram inseridas no mercado de trabalho ao longo da história da entidade. A assistente social Mara Inês Wojahn explica, que além das oficinas e do encaminhamento aos postos de trabalho, a entidade acompanha o processo de adaptação. “Fazemos uma mediação entre a empresa e o trabalhador para que a inclusão aconteça de fato. Preconiza-se que a pessoa que está inserida receba um salário pelo seu trabalho e, portanto, ela será produtiva, respeitando-se suas limitações”, afirma.

Exemplo disso é o caso de João Waldemar Silveira de Mello, de 29 anos, deficiente intelectual que há 12 anos trabalha na Excelsior Alimentos. Encaminhado a essa função pela Apae de Santa Cruz, o rapaz conta que a atividade lhe possibilitou a realização de sonhos e o aperfeiçoamento profissional. “Comecei no setor de empacotamento de embalagens. Depois de algum tempo, a empresa me disponibilizou um curso no Senai. Atualmente, eu opero a ponte rolante da pasteurização do setor de embalagens”, relatou Mello.

João: “Foram muitas as mudanças em minha vida. Além de aprender cada vez mais, sustento minha família com esse salário”

João, que estudou até a 4ª série em uma escola regular e aos 14 anos entrou na Apae, conta que o incentivo e apoio da família foram fundamentais. “Eu tinha dificuldades de aprender, e tudo que sei foi meu pai que me ensinou, inclusive a ser honesto. Sou muito grato a ele por isso.” Aos 18 anos, após frequentar as oficinas promovidas pela Apae, ele foi encaminhado para a Excelsior, onde passou por um processo de seleção e foi contratado. “Foi muito bom, e a partir daí foram muitas as mudanças em minha vida. Além de aprender cada vez mais, sustento minha família com esse salário”, ressalta. Foi também na Excelsior que João conheceu sua esposa, com quem tem um filho, Nicolas, hoje com 7 anos.

Ainda há 111 vagas a serem preenchidas

Embora se trate de um direito constitucional, a contratação de pessoas com deficiência (PCDs) ainda é um desafio. A implementação da Lei de Cotas obriga as empresas que possuem cem ou mais funcionários a manter, entre seus colaboradores, de 2% a 5% de PCDs. Em Santa Cruz do Sul, 43 empresas são obrigadas a cumprir essa lei. Do montante de 865 vagas reservadas para deficientes, 754 estão preenchidas e restam ainda 111 para ocupação.

O auditor-fiscal do trabalho e conselheiro do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Rafael Faria Giguer, 34 anos, tem deficiência visual e atua na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Ele afirma que, apesar de todas as dificuldades para inserção desses trabalhadores, o número em Santa Cruz é considerado positivo. “Está acima da média nacional”, observa.

Rafael Faria Giguer, 34 anos, tem deficiência visual e atua na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho

“Ainda existe muita resistência e preconceito por parte das empresas em relação à capacidade desses profissionais. A falta de acessibilidade impede que eles possam demonstrar suas potencialidades”, observa. Segundo ele, as empresas devem primeiro conhecer o trabalhador e depois fazer as adaptações necessárias para que ele possa executar suas atividades.

Giguer releva que muitas empresas alegam ter dificuldade em encontrar PCDs capacitados. “Sou engenheiro por formação. Quando chegava às empresas e as pessoas percebiam a deficiência visual, não passava da etapa de entrevista. Eu senti na pele isso, nunca consegui emprego na iniciativa privada, embora a lei já exista há anos”, conta. Foi por meio do concurso público que Rafael Giguer conquistou a vaga de auditor-fiscal. Agora, ele luta e fiscaliza para garantir o direito de outras pessoas com deficiência à inclusão no mercado de trabalho.

Além de assegurar que o número de cotas de PCDs seja preenchido, a fiscalização do trabalho atua, neste momento, para impedir demissões de deficientes no período da pandemia de Covid-19. “Há uma lei especial prevendo que, durante a pandemia, as empresas não podem demitir sem justa causa essas pessoas, e estamos trabalhando para que isso efetivamente não aconteça”, revela.

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Empresa santa-cruzense desenvolve produtos em parceria com usuários

Há oito anos, a empresa Mercur, de Santa Cruz do Sul, junto com sua rede de cocriação, desenvolve recursos para auxiliar na aprendizagem e desempenho das atividades de vida diária das pessoas com deficiência. Segundo a terapeuta ocupacional que atua na Mercur, Cristina Fank, após a empresa criar oficinas com a comunidade, profissionais de saúde, familiares e pessoas com deficiência, passou a cocriar recursos de tecnologia assistiva para atender a suas demandas reais.

“Iniciamos pela educação e descobrimos que as pessoas com deficiência muitas vezes não conseguiam utilizar esses materiais, porque não eram adaptados à realidade delas. Então criamos uma linha de material acessível e adaptado para esse público. Depois nos aproximamos de terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e pessoas com deficiência, e percebemos a importância de criar recursos de tecnologia afetiva, facilitadores para suas atividades de vida diária, como escovar os dentes, alimentar-se, usar uma maquiagem”, conta.

Chayene Bernardes, de 22 anos, faz uso do engrossador e da pulseira de peso

Com os protótipos concluídos, foram organizadas oficinas de legitimação, para que os profissionais pudessem fornecer um feedback. A linha contempla itens dos mais variados, como dispositivos que fixam utensílios à mão da pessoa e engrossadores para facilitar o manuseio. “Mais importante do que adquirir os produtos é eles terem a oportunidade de experimentá-los, acompanhados por um profissional, para identificar se vai atender sua necessidade”, argumenta Cristina.

Por meio de um projeto-piloto que contempla 26 cidades do Estado, inclusive Santa Cruz do Sul, a Mercur disponibiliza uma caixa de experimentação desses recursos, para que os profissionais de saúde possam pegar emprestado antes de indicar para os seus pacientes. Os materiais para experimentação estão à disposição na Apae. Já para comercialização, eles podem ser adquiridos nos seguintes pontos de venda: Clínica Audiocentro, Fisiorto’s e Traumatos.

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