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MERCADO

Os três fatores que deixam o preço da erva-mate em alta no Estado

Foto: Lula Helfer

Durante a pandemia, cuidado de não compartilhar a cuia de chimarrão foi um dos responsáveis pelo aumento no consumo

A cadeia produtiva da erva-mate vive um momento favorável aos produtores. O preço da arroba varia entre R$ 18,00 e R$ 22,00, de acordo com a qualidade, um patamar considerado satisfatório. No ano passado, o valor máximo chegava a R$ 15,00. Apesar da área de 36 mil hectares do Estado não ter tido uma grande variação, faltaram mudas nos viveiros, tamanha a procura para a formação de ervais nas cinco regiões produtoras.

Na avaliação do extensionista da Emater/RS-Ascar e coordenador técnico do Programa Gaúcho para a Qualidade e Valorização da Erva-Mate, Ilvandro Barreto de Melo, o preço atual é interessante. “Tivemos um aumento significativo de volume exportado para Argentina e Uruguai. A pandemia mudou a forma de consumo, do coletivo para o individual. Ou seja, o preço subiu por um conjunto de fatores”, comenta.


As principais explicações para a elevação da cotação são a queda da oferta e o aumento do consumo durante a pandemia, até pela impossibilidade de compartilhar a cuia na roda de mate. A estiagem impediu a brotação e interferiu na produção gaúcha, que caiu entre 25% e 30%, na faixa de 225 mil toneladas de folha, de acordo com Melo.

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“A produção normal é de 306 mil toneladas de folha verde. Mas aconteceu a antecipação da colheita, o que interfere na porcentagem. O ciclo normal é de 18 meses, mas tivemos produtores colhendo com 15 ou menos, o que não estava contabilizado”, explica.

Para 2021, a tendência de cenário é semelhante, com a previsão de um novo período seco. Na indústria, o custo aumentou com a inflação no preço de embalagens, papelão e combustíveis. No Estado, existem cerca de 200 empresas ervateiras. Segundo Melo, o Rio Grande do Sul produz menos do que consome e, por isso, depende da matéria-prima de Santa Catarina e Paraná.

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Para o presidente do Sindicato da Indústria do Mate do Estado do Rio Grande do Sul (Sindimate), Álvaro Pompermayer, a defasagem de preços é considerável no segmento. Ele estima um custo de R$ 5,00 para a produção de um quilo, com venda entre R$ 7,00 e R$ 9,00 para o varejo. O consumidor final paga entre R$ 12,00 e R$ 15,00, em média.

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“Queremos um preço justo. A margem está pequena. Tudo subiu no processo de produção. As variedades com compostos, por exemplo, estão 200% mais caras para fabricar. E o mercado pressiona em relação aos preços”, aponta.

Para Pompermayer, as condições para o próximo ano não são animadoras, com a perspectiva de estiagem em toda a região Sul. “Neste ano, a brotação está começando. Tivemos muitos produtores antecipando a colheita para aproveitar a cotação alta. A partir de fevereiro, pode faltar folha no mercado. Há pouco estoque e existe essa preocupação com a escassez de matéria-prima”, detalha.

A Argentina também enfrentou seca e buscou produto brasileiro e paraguaio em maior quantidade. A disponibilidade interna nos estoques caiu 40%. O volume importado pelos argentinos foi calculado em 10 mil toneladas.

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O Brasil deve fechar o ano com um volume exportado de aproximadamente 42 mil toneladas para 33 países, que, na maioria, utilizam na forma de chá. Melo estima uma produção nacional de 720 mil toneladas de erva-mate, em uma área de 70 mil hectares nos três Estados da Região Sul.

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Com 200 empresas ervateiras, Rio Grande do Sul produz menos do que consome | Foto: Lula Helfer/Banco de Imagens

Produtividade

A produtividade média no Brasil é de 550 arrobas por hectare. No Rio Grande do Sul, chega a 650 arrobas por hectare. Há alguns produtores que alcançam entre 1,5 mil e 2 mil arrobas por hectare. “A produtividade média é baixa em relação à tecnologia disponível. A consequência é o preço ser satisfatório, ou não, também por outro fator, que é a qualidade das folhas. Com produção maior, há o incremento do valor da arroba”, destaca Melo.

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Conforme o engenheiro agrônomo e assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, Vivairo Zago, a erva-mate disputa espaço com áreas de soja e milho. O que os produtores têm disponível, na maioria das vezes, são os campos dobrados e com muitas pedras, o que impede a formação de lavouras.

Para ele, o produtor precisa investir em técnicas de manejo de solo para alcançar uma produtividade superior a mil arrobas por hectare, o que proporciona uma maior rentabilidade. “O cultivo não é extrativista. Precisa ter um cuidado com a adubação, ficar atento à fertilidade da terra. É uma boa alternativa de renda se os ervais tiverem folhas de qualidade”, salienta.

Zago compara o que é feito no Estado com o Paraná. Os produtores paranaenses são adeptos da união dos ervais com áreas de floresta, o que fornece sombra às folhas e um aumento na qualidade.

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Outro fator é o cancheamento, a moagem após o período de secagem. A indústria fica responsável pela parte final do processo. “Essas características acabam interferindo no preço pago ao produtor. O fácil acesso ao erval para transporte também conta muito”, acrescenta.

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Produtor quer chegar a 42 mil árvores

O produtor André Hackenhaar mantém relação com a erva-mate desde a infância. O pai, atualmente com 80 anos, conta com área plantada há 50 anos para cultivo, em Linha Santo Antônio, interior de Mato Leitão. Ambos possuem 13 hectares, com plantas mais jovens mescladas às antigas.

A média de produção chega a nove quilos por planta em seis hectares. Outros sete hectares estão na fase de formação, com 12 mil mudas plantadas neste ano. O total de árvores na propriedade é de 32,5 mil. O objetivo é chegar a 42 mil árvores. A média produtiva é de dez mil quilos a cada 18 meses por hectare.

O manejo utilizado é o sistema de produção Erva 20, desenvolvido pelo agrônomo Ives Goulart, da Embrapa Florestas. Ele ainda contou com o suporte dos técnicos da Emater/Ascar-RS de Mato Leitão, Claudiomiro da Silva de Oliveira e Rudinei Pinheiro Medeiros. O preço pago aos produtores fica na média de R$ 18,00. Na região de Ilópolis, chega a R$ 25,00, conforme Hackenhaar.

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