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Conversa Sentada

Memórias de infância – II

Na então Igreja Matriz, hoje Catedral, as missas eram rezadas em latim. O sermão, sim, era em português. Eu tive a honra de ter sido coroinha. Meninas não tinham essa possibilidade.

No artigo passado, eu dizia que o lado direito da nave era exclusivo dos homens; mulheres e crianças ficavam à esquerda. Todavia, com a vinda de pessoas de fora para Santa Cruz, principalmente militares, aos poucos os casais ficavam lado a lado, o que gerou uma certa estranheza, mas acabou se consagrando.

Na hora da comunhão, um coroinha acompanhava o padre, que pegava a hóstia e a colocava na boca dos fiéis. Só bem depois o padre passou a colocar a hóstia na mão do fiel, que, por sua vez, a colocava na boca. Geralmente, as mulheres iam tomar a comunhão com um véu na cabeça: senhoras casadas de preto e as jovens de branco.

Cumpre recordar que a missa era rezada no antigo altar de mármore, com o sacerdote de costas para o povo.

A primeira comunhão era motivo de muito júbilo e vinha antecedida de longa preparação. Era motivo de muitos festejos e celebrações.
Conheci muitos padres, todos de ilibada conduta. Um deles, o padre Darupp, viera da Alemanha. Tinha um espaço na rádio, às 18 horas, sendo a cortina musical a Ave Maria de Schubert. Gostava muito de ir na nossa casa; era um gentleman, de fino trato, muito culto. Adorava galinha com arroz, que minha mãe fazia. Meu pai era da cerveja, mas o padre Darupp era do vinho. Após a refeição, o sacerdote começava a entoar músicas alemãs. Lembro-me muito da Die Lorelei. Enfim, os padres, cujos nomes seria fastidioso mencionar, tinham o respeito e a admiração da população.

Basicamente, Santa Cruz estava dividida entre católicos e luteranos. As duas comunidades se respeitavam. Era comum, no entanto, que católicos estudassem no Mauá, pois no São Luís não havia o “Científico”, fundamental para passar nos vestibulares das ciências exatas em Porto Alegre e outras cidades maiores.

Mas era nos casamentos que as coisas encrespavam, às vezes. Minhas duas irmãs, católicas, se casaram com luteranos. Minha mãe era radical: não deixaria as filhas casarem se os pretendentes não se “convertessem” para a católica. Houve uma solução salomônica. Os maridos ficariam com sua Igreja, mas o filhos seriam católicos. Os dois maridos, gente finíssima, foram bem compreensivos e as acompanhavam às missas e a outras celebrações.

Na próxima crônica, abordarei um assunto interessante. Por que, ao menos nos colégios católicos, lecionava-se Latim, Inglês, Francês, mas não o alemão, se já havia uma base na maioria dos lares?

(continua)

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