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Luto na literatura

Morre o escritor mineiro Rubem Fonseca, aos 94 anos

Rubem Fonseca completaria 95 anos no dia 11 de maio

O Brasil perdeu nesta quarta-feira, 15, uma de suas maiores referências contemporâneas na literatura, o escritor mineiro Rubem Fonseca, vítima de um infarto, em seu apartamento no Rio de Janeiro, cidade na qual estava radicado há décadas. Ele se despediu da vida aos 94 anos, perto de chegar aos 95 (nasceu em 11 de maio, em Juiz de Fora, próximo à divisa com o Rio). Com Zé Rubem, como era chamado, silencia uma das vozes mais originais e prolíficas: ele era dono de um estilo fluente e original, tanto no romance quanto no conto. Recebeu seis prêmios Jabuti, em diferentes momentos da carreira, além dos prêmios Camões, em Portugal, em 2003, e Machado de Assis, em 2015, ambos pelo conjunto de sua obra.

Por formação e atividade profissional, formou-se em Direito e atuou na Polícia, além de sempre ter tido forte posicionamento como artista e intelectual. No entanto, optava por uma vida discreta, longe dos holofotes e de eventos, sendo recluso. Entre seus grandes amigos estava o baiano João Ubaldo Ribeiro, falecido em 2014, com quem costumava encontrar-se com frequência para bater papo no boteco Tio Sam, no Rio, onde ambos tinham mesa cativa, à janela, para conversar e apreciar o movimento na calçada e na rua.

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Sua estreia ocorreu no conto, no início dos anos 19 60, com Os prisioneiros, e por dez anos dedicou-se quase que exclusivamente à narrativa curta. Com O caso Morel, em 1973, apostou no romance, gênero no qual lançou uma dúzia de títulos. Mas seguia brindando os leitores com volumes de contos sublimes, com seu escrachado, sensual e conciso jeito de narrar: Feliz ano novo, O cobrador, O buraco na parede, Histórias de amor, títulos de ampla aceitação junto ao público, iam sendo colocados no mercado. E então, com Agosto, de 1990, romance que tem como pano de fundo a morte de Getúlio Vargas, em agosto de 1954, no Rio, firmou em definitivo seu nome como um mestre na narrativa longa.

Seu último romance foi José, de 2011, com sugestivo viés autobiográfico (afinal, é seu primeiro nome: José Rubem Fonseca). No conto, seus dois derradeiros volumes acabaram sendo Calibre 22, de 2017, e Carne crua, de 2018, que, em termos de resenhas junto à imprensa, já não foram tidos como trazendo a envergadura clássica do grande narrador que Rubem Fonseca foi. No entanto, não é incomum que um grande escritor, a exemplo do que ocorreu com o norte-americano Philip Roth, falecido em maio de 2018, com o avançar da idade perca em parte a pegada de estilo que possuía no auge da forma criativa e criadora.

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Mas Zé Rubem foi Zé Rubem, em termos de temáticas e de concisão narrativa, do começo ao fim. E é como tal que dezenas de livros de sua autoria ficam para a satisfação dos leitores, os brasileiros e os de todo o mundo – não por acaso, chegou a ser lembrado por diversas vezes como candidato do Brasil ao Prêmio Nobel. Agora, é mais um dos grandes que o País perdeu em suas esperanças de um dia alcançar essa maior distinção mundial da literatura.

Escritores e personalidades lamentam a morte de Rubem Fonseca
Por Estadão Conteúdo

O escritor André de Leones, leitor contumaz da obra de Fonseca, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo: “Rubem Fonseca é tão imprescindível em 2020 quanto era em 1963, ano em que publicou seu livro de estreia, Os Prisioneiros. Acho importante ressaltar isso porque a recepção de sua obra sofre em várias frentes, seja com a má vontade em relação aos livros mais recentes (como o excelente Amálgama, que resenhei para este jornal), seja com as leituras preguiçosas e contaminadas que ainda se fazem por aí. Seu trabalho como passeador noturno das nossas ruínas não se esgotou com o término da Ditadura Militar, conforme demonstram obras-primas posteriores como O Buraco na Parede e Pequenas Criaturas. Pelo contrário, a brutalização que sua obra investiga só se adensou nas últimas décadas e, sobretudo, nos últimos anos. Seus contos e romances traduzem à perfeição a atmosfera asfixiante do nosso país falhado, enfermo e em processo de implosão.”

O escritor português Valter Hugo Mãe publicou uma foto com Fonseca em suas redes sociais e afirmou: “Desolado com a notícia da morte de Rubem Fonseca, essa maravilha das letras do mundo. Querido amigo, querido magnífico escritor que tanto me honrou, tanto me inspirou. Adeus, mestre. Obrigado.”

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O escritor Joca Reiners Terron também lamentou a perda: “Morreu Rubem Fonseca (1925-2020). Boa viagem e obrigado por tudo, mestre do universo.”

A escritora Andréa Pachá prestou sua homenagem nas redes sociais: “Viver quase 95 anos, escrever com a potência de Rubem Fonseca, e não se submeter ao mercado, nem negociar com princípios é para poucos e raros. Não é triste uma partida assim É um privilégio.”

José Eduardo Agualusa comentou nas redes que Fonseca foi importante para sua formação: “Tenho todos os livros dele e continuarei a lê-lo, como sempre o leio quando preciso me sentir inquieto para escrever. Escritores morrem quando deixam de ter leitores.”

O escritor, tradutor e pesquisador Fábio Fernandes se manifestou em suas redes: “Rubem Fonseca foi a minha grande referência na escrita de ficção e jornalística, junto com Hemingway.”

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