Os Gigantes da Cultura Tcheca no que se refere à literatura, Franz Kafka e Karel Čapek estão em destaque no Museu de Venâncio Aires até o início de agosto. Porém, muito mais do que as obras e informações sobre os dois maiores expoentes literários da República Tcheca, o visitante pode conferir e se identificar com a história de antepassados boêmios, que chegaram em Venâncio a partir de 1873.
Escritores venâncio-airenses, junto com o curador da exposição em Porto Alegre, Salus Loch, presidente do Nucva, Cristiano Pilz, e a homenageada de honra, Hilda Hilgert Hübner Flores, descerraram a fita inaugural da exposição na terça-feira. Pilz evidenciou que este é um momento significativo. “O museu se sente honrado em receber a exposição que homenageia os escritores tchecos e não podíamos deixar de destacar os nossos expoentes, em especial a dona Hilda.”
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Acompanhada do esposo, o escritor Moacyr Flores, de 90 anos, Hilda se emocionou com a homenagem. “Me pegaram de surpresa. É uma sublime honra para mim.” A escritora relembrou do trabalho intenso de pesquisas feitas ao longo dos anos. A partir de auxílios de pessoas de Linha Andreas durante seu mestrado de História na PUC, ela conseguiu obter muitos dados históricos. “Além disso, em uma viagem à Boêmia conheci inúmeros lugares e pessoas, assim como parentes. Foram subsídios que deram corpo aos meus livros”, contou Hilda.
A escritora venâncio-airense Rosmeri Menzel salientou que estava ansiosa para conhecer Hilda. “Vivenciar esse momento é maravilhoso. Esperamos que muitas visitas aconteçam nesta exposição, que as pessoas queiram conhecer mais essa cultura tão rica e que é importante ser repassada à comunidade.”
Curador da exposição na Biblioteca Pública do Estado, em Porto Alegre, no início do ano, o escritor e jornalista Salus Loch destacou a simbologia da exposição em terras de descendentes boêmios. “É um orgulho estar em Venâncio. Em Porto Alegre, foram mais de 12 mil visitantes. São obras que vieram diretamente de Praga. E a preservação da cultura é uma das principais heranças que podemos deixar para as próximas gerações.”
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Loch acrescentou que as obras dos dois autores, mesmo que antigas, conversam com a atualidade. “O recado contido nelas, escritas lá atrás, nos faz refletir muito nos dias de hoje. São problemas de relacionamento dele [Kafka] com o pai dominador, uma mãe submissa, medo; parece que está se falando da atualidade. E o Čapek, no seu tempo, foi a pessoa que criou a palavra ‘robô’. Então lá, muito tempo atrás, ele já tinha essa coisa da tecnologia.”
A exposição, que permanece até o início de agosto, pode ser conferida de forma gratuita, diariamente (menos nas manhãs de segundas-feiras), das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 16h45. Depois, a mostra segue para as cidades de Ijuí e Nova Petrópolis.
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Mergulho na ancestralidade
Cerca de 60 sobrenomes, como Bergmann, Kreibich, Klamt, Siebeneichler, Scheibler, entre muitos outros, comuns no município principalmente em localidades como Linha Isabel, Linha Maria Madalena e Vale do Sampaio, foram de colonizadores boêmios germânicos, vindos da Boêmia (Tchecoslováquia), atualmente República Tcheca.
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Essas informações também estão presentes na exposição sobre a contribuição para a literatura local de escritores venâncio-airenses com ascendência tcheca. Esse é o caso de Rosmeri Menzel, Júlia Riedel, Clarice Dorr, Flávio Seibt, professor Antônio Pilz e da homenageada de honra, Hilda Hilgert Hübner Flores, que completou 92 anos na segunda-feira. Natural de Linha Duvidosa, ela é uma das precursoras em pesquisa na área e tem diversos livros publicados a respeito da imigração boêmia.
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“Isso numa época onde praticamente não existia internet, então foi uma pesquisa muito mais difícil que nos dias de hoje. Estamos muito felizes em homenageá-la ainda em vida, isso é muito importante”, disse o presidente do Núcleo de Cultura de Venâncio Aires (Nucva), Cristiano Pilz.
Sobre a imigração
Cristiano Pilz salientou que, diferentemente do que muitos interpretam e informam, em 2024 celebraram-se os 200 anos da imigração dos falantes da língua alemã no Rio Grande do Sul. “Nem os primeiros imigrantes que chegaram em São Leopoldo, em 1824, eram alemães, mas sim dinamarqueses. Porque o território onde eles viviam era a Dinamarca. Mas na época, no território onde viviam falavam alemão.”
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Dessa forma, Pilz contextualiza que os imigrantes que chegaram a Venâncio há cerca de 150 anos falavam e escreviam alemão, mas não eram alemães, e sim germânicos e eslavos.
“São imigrantes de etnia alemã, com costumes, hábitos germânicos, mas não alemães da Alemanha. O território da Boêmia a rigor nunca pertenceu à Alemanha. Esses boêmios vieram para cá com passaporte do Império Austro-Húngaro, passaporte austríaco. A Boêmia seria como um estado dentro do Império Austro-Húngaro.”
Concerto da Ospa
Na próxima sexta-feira, 27, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) se apresentará em Venâncio Aires. O concerto Paisagens Virtuosísticas, a partir das 20 horas, será realizado na Igreja São Sebastião Mártir. O público, de forma gratuita, poderá conferir um repertório de grandes clássicos dessa que é uma das instituições culturais mais respeitadas do país.