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Do luto à luta: Tati Theisen dá exemplo de superação dentro e fora do ringue

Foto: Rafaelly Machado

Tati se mantém focada em conquistar a vaga no Mundial de Muay Thai de 2025

Tatiane Theisen, a Tati, jamais pensou que o ringue seria sua segunda casa – e uma superação diária. Na infância, rodeada de Barbies, o passatempo favorito era brincar de boneca. Embora fosse uma criança agitada e espoleta, o esporte nunca teve lugar na vida dela, pelos menos até os 21 anos. Nas instituições de ensino por onde passou, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Dr. Guilherme Hildebrand e o Colégio Estadual Professor Luiz Dourado, ambos em Santa Cruz do Sul, a disciplina de Educação Física era só mais uma integrante do currículo escolar que precisava cumprir.

Filha única, foi no Bairro Esmeralda que Tati nasceu, cresceu e mora até hoje com a mãe e o filho Francisco, de 4 anos. “Um pouco tímida” e um “tanto envergonhada”, como ela brinca ao se descrever, e com lágrimas nos olhos, Tati não esconde no rosto o orgulho de ser uma lutadora nos ringues e na vida.

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A atleta santa-cruzense, que iniciou a carreira aos 22, concilia a missão da maternidade com o ofício como diarista e com os treinos de Muay Thai. Com 29 anos, Tati já coleciona títulos importantes nos sete anos como lutadora profissional e se prepara para um novo desafio no mês que vem, em Passo Fundo.

A chegada de Tati até o Muay Thai carrega uma luta interna que ela precisou vencer fora dos ringues. Aos 18 anos, a vida dela mudou completamente, quando o pai morreu. A dor da perda a fez entrar em depressão. “Fiquei no fundo do poço. Não conseguia trabalhar, somente dormia. Precisei tomar medicamentos.” Foram três anos em luta contra a doença, que mudou a rotina dela da noite para o dia.

Foi preciso abandonar a confeitaria, onde trabalhava desde os 13 anos, e o curso de Turismo na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). “Não conseguia apresentar os trabalhos, falar em público. Não tinha vontade de fazer mais nada, mas gostava do curso. Faltou pouco para eu me formar”.

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Durante o difícil período, ela passou por vários tratamentos com diferentes médicos e precisou usar muitos medicamentos para tratar a doença; porém, sem êxito. “Eu não queria ter depressão, mas não sabia o que fazer para sair da situação”.

E, de repente, surgiu uma luz no fim do túnel. Uma psicóloga recomendou a ela o esporte como alternativa de superação do luto. De cara, a primeira tentativa foi o Muay Thai. Incentivada por uma amiga, que sempre a convidava para praticar a modalidade, Tati deu o primeiro passo que a levaria a uma carreira de sucesso.

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Os remédios foram substituídos pelo tatame. Com 21 anos, começaram os treinos. No início, a rotina era intensa, com treinamentos pela manhã, à tarde e à noite. “Fui gostando e logo busquei treinar em outra academia, onde havia pessoas que lutavam em competições.”

A vontade de subir no ringue veio naturalmente. No entanto, embora fosse muito claro para ela o desejo de competir, demorou um ano para que pudesse participar das primeiras disputas. A experiência inicial veio aos 22 anos, no Campeonato Gaúcho de Muay Thai.

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E, a partir daí, não parou mais. Além dos ringues, Tati voltou ao mercado de trabalho como diarista em casas de família e, de vez em quando, como cuidadora de crianças para ganhar uma renda extra. E, hoje, a terapia diária é o esporte que a acolheu no período mais desafiador de sua vida e do qual não imagina ficar longe.

De olho no Mundial

Tati se mantém focada em conquistar a vaga no Mundial de Muay Thai de 2025. Os treinos são diários. “Não é uma profissão. É muito difícil, é tudo por amor, por conta da gente.” Antes disso, o desafio da vez é no mês que vem. Tati volta aos ringues em novembro para um evento de lutas semiprofissionais em Passo Fundo. A primeira meta é perder peso com uma alimentação balanceada. E, agora, junto com o Muay Thai, ainda há espaço para a musculação e a corrida. Já são quatro meses neste desafio.

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Na família não há ninguém na área do esporte, mas existe apoio e admiração. “Eles adoram me ver lutar, torcem por mim”. E as conquistas não se resumem apenas ao desafio técnico da luta; vão muito além. Embora não fosse algo que procurasse, Tati reconhece que o Muay Thai aumentou a autoestima dela enquanto mulher. “As pessoas me incentivam, comentam sobre minhas conquistas. Muitas delas nem conheço. Algumas dizem: ‘teu sorriso mudou’”.

Planos fora do ringue

A trajetória de Tati prova que nunca é tarde para recomeçar. Para ela, o sinônimo de Muay Thai é “superação”. “Preciso da luta para me superar. Faço tudo isso por mim. O Muay Thai precisa da divulgação de cada atleta, precisamos correr atrás.”

Apesar de ter deixado alguns sonhos de lado, momentaneamente, como o de se formar na universidade, hoje Tatiane Theisen pensa em cursar Educação Física. “O problema é o tempo, fico pensando se iria dar conta de tudo.” Além do curso superior, ainda há uma outra aspiração em mente: dar aula de Muay Thai para mulheres. “Muitas mulheres me chamam. Quero incentivar outras.”

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E, quanto ao filho Francisco, o desejo dela é que ele siga o caminho do esporte. “Levei ele algumas vezes para os treinos, mas ainda não aponta preferência para algum esporte em específico”, brinca.

Colecionando títulos

Tati Theisen coleciona pódios. Ela é bicampeã brasileira, bicampeã da Copa do Brasil, tricampeã gaúcha e vice-campeã mundial de Muay Thai. Além desses, ainda se somam outros títulos. Atualmente, luta na categoria 67 quilos e já chegou a competir nas categorias 63 quilos e 57 quilos.

Tati Theisen é bicampeã brasileira, bicampeã da Copa do Brasil, tricampeã gaúcha e vice-campeã mundial de Muay Thai

A competição que mais a marcou aconteceu em 2018, quando lutou grávida, sem saber. Antes da chegada do filho, ela treinou até os oito meses de gestação, com menor intensidade. Um mês depois do nascimento do menino, ela voltou aos tatames. Depois disso, quando ele tinha cinco meses de idade, retornou aos ringues.

E foi no início deste ano que outro sonho se concretizou e se tornou mais um momento marcante da carreira: a primeira luta fora do Brasil, na Tailândia, na 18ª edição do Mundial. “Lutar na Tailândia me marcou muito, por ser o berço do Muay Thai, além de estar lutando com adversárias de diferentes países”.

“Preciso da luta para me superar. Faço tudo isso por mim. O Muay Thai precisa da divulgação de cada atleta, precisamos correr atrás”.

Tati fez uma vaquinha virtual e angariou valores doados por muitas pessoas. As ajudas vieram de amigos, da Prefeitura de Santa Cruz do Sul e de empresários. “Uma experiência única; não imaginava que conseguiria o dinheiro”, lembra. E deu pódio. Ela sagrou-se vice-campeã mundial. “Me considero a responsável por essa conquista”.

Depois da competição no exterior, Tati cogitou abandonar os ringues. Entretanto, a possibilidade de abdicar da carreira caiu por terra quando ela percebeu o quanto precisava dos treinos e da superação que a luta proporciona todos os dias. “A gente treina para se superar em cima do ringue. Quando descemos do ringue, fazemos amizades”.

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