Donald, como bom geminiano, não aguentou até o dia 1º e oficializou ainda ontem o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos. Com 694 exceções. 694 exceções? Sim, por enquanto. Para surpresa de uns e tristeza de outros.
Nessas primeiras horas, analistas de todos os matizes tentam interpretar as medidas e projetar as consequências. Parece tudo tão descabido que fica difícil acreditar. Donald está mesmo preocupado com nossas questões internas? Ou está usando o Brasil para legitimar sua guerra tarifária com o planeta? Em que ele está realmente interessado? Por que precisa maltratar um aliado comercial em sua cruzada para que os EUA voltem a ser grandes?
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Em meio às avaliações que pipocam nas redes, decido entender o mínimo necessário para não fazer feio em público. O tema é complexo. A contabilidade, uma pedreira. Começo a ler o que a imprensa publica sobre o assunto e chego na lista dos “perdoados”: suco de laranja, aviões da Embraer, lustres e abajures, carvão, castanha… castanha??
Sinto um incômodo em local incerto. Isso será bom ou ruim para essa consumidora insignificante dos confins da América do Sul? De que castanha ele está falando? Logo descubro que se trata da “brazilian nuts”, a castanha do Pará. Que, aliás, eu não como. Sou uma cajuzófila. Amo castanha de caju. As maravilhosas e inigualáveis castanhas de caju brasileiras. Graúdas e tenras. Leite de castanha, creme de castanha, iogurte de castanha, queijo de castanha, manteiga de castanha e castanha mesmo. Crua e sem sal, a minha preferida. De caju.
Repentinamente, minha quem sabe futura carreira de economista naufraga na gula. As taxas de Donald sobre itens mais relevantes terão que esperar. Preciso entender o que vai ocorrer com minhas adoradas castanhas de caju, agora tarifadas em ingratos 50%.
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Atiro-me às pesquisas e descubro coisas interessantíssimas. Coisas que eu deveria saber e não sabia porque sempre preferi comer antes e estudar depois. Passeio pelas origens brasileiras dessas duas frutas que são, na verdade, sementes. Aprendo sobre as peculiaridades da castanha do Pará, que dá em árvores gigantescas que só frutificam se a floresta estiver em equilíbrio (confie, isso acontece mesmo). Aprendo que o cajueiro nordestino foi levado para a África e a Ásia pelos portugueses e hoje é mais cultivado por lá do que aqui. E, por fim, acesso os números das exportações (obrigada, ChatGPT) e constato que Donald taxou uma castanha que ele não compra. Corrijo. Compra. Mas pouquinho. Mais de 90% das castanhas de caju produzidas no Brasil são consumidas aqui mesmo.
Encerro os trabalhos – sobre comida, florestas, tributos, comércio internacional e homens ricos do Hemisfério Norte – levemente satisfeita. O tarifaço promete descer quadrado em nossas gargantas. Mas ao menos no que tange às castanhas, acho que ele foi inócuo.
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