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LUÍS FERNANDO FERREIRA

Ele não estava acostumado

Soube a quarta-feira, 15, da morte do diretor norte-americano David Lynch, aos 78 anos. Nos últimos tempos, era lembrado por ter feito a primeira adaptação para o cinema de Duna, clássico da literatura de ficção científica. Na época, em 1984, esse filme foi um fracasso de bilheteria, bem longe do sucesso arrasa-quarteirão da versão recente.

Lynch soube construir seu nome com títulos como Cidade dos Sonhos e A Estrada Perdida, os quais se tornaram cultuados por serem incompreensíveis (não que isso seja necessariamente ruim), e a minissérie Twin Peaks, exibida pela Globo nos anos 1990. Para mim, no entanto, sua relevância está mais associada a um filme do início de carreira, inesquecível: O Homem-Elefante. Assisti ainda criança.

É a história real do britânico Joseph Merrick, nascido em 1862 e que viveu apenas 27 anos. Ficou conhecido como “Homem-Elefante” por sua aparência extremamente deformada, em razão de uma doença congênita que passou a afetá-lo aos 3 anos. (Falam em neurofibromatose múltipla ou Síndrome de Proteu.) Merrick chegou a ter 90% do corpo atingido. Desprezado por familiares, recusado por empregadores, ele só foi aceito para trabalhar em um circo de aberrações – um freak show.

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Foi como atração circense, “monstro” exibido para plateias assustadas, que Merrick foi encontrado pelo médico Frederick Treves. Sofria maus-tratos e se alimentava de sobras. É, então, levado a um hospital de Londres.

Sempre que sai à rua, o Homem-Elefante usa um capuz improvisado que esconde seu rosto, um saco de estopa com um único furo para enxergar. Mas o que logo notamos – espectadores do filme – é que ele está longe de ser um monstro. Merrick é educado, culto, leu a Bíblia (sabe de cor o Salmo 22, aquele que diz: “Todos os que me veem zombam de mim”).

E é sempre gentil. Esforça-se nisso, na cortesia, justamente para que gostem dele, não sintam repulsa nem o isolem. Como esquecer a cena em que Merrick chora, porque não está acostumado a ser tratado com humanidade?

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O Homem-Elefante fica na memória por momentos como esse. E por reforçar o que torna alguém humano, e o que faz de outros monstros.

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