Provavelmente na casa de cada leitor exista algum objeto adquirido num momento de puro fascínio, de oportunidade única. Pode ser um simples ímã de geladeira, mas também um mágico elefante que, virado de bunda para a entrada da casa, garante fartura, fortuna e felicidade sem limites. No momento da compra, a criatura até imagina onde vai pôr essa maravilha, no entanto, mal chega em casa, não sabe o que fazer com isso.
Tomemos o caso dos ímãs. Em regra, e por decisão universal, o local ideal para acolhê-los é a geladeira. Nas brancas, então, assumem um crescido realce, um merecido destaque. Quem entra na casa, nem percebe os ricos cristais, nem os quadros de renomados artistas, nem os móveis ancestrais, nem o piano, nada disso. Seu olhar recai direto naquela miscelânea inconcebível de penduricos no refrigerador. Inclusive, há colecionadores tão fanáticos, que compram uma desnecessária segunda geladeira só para acolher novos badulaques. E, para aumentar a confusão, nesta época do ano ainda vêm os brindes das lojas, ou seja, vários calendários para grudar na geladeira. Os aficionados podem alcançar um século de adesivos de um único ano.
LEIA TAMBÉM: Pela longa estrada da vida
Publicidade
Feiras e exposições acendem a paixão por novos utensílios para a casa. Sempre minados de novidades, despertam um adormecido furor dos acessos de aquisição. Lembro a primeira vez que vimos uma daquelas mesas-sanfona, aquelas que você vai puxando e elas ampliando os espaços. O que servia para acomodar quatro pessoas, agora dá para quarenta. Parecem materioskas, aquelas bonecas russas: quanto mais tira, mais boneca tem dentro delas. Sim, mas nossa sala só tem três metros de largura, o que fazer com esse troço? Não importa, mas é muito interessante. Ao menos vou perguntar o preço.
É claro que nem tudo é pinguim e faz jus a ao menos um mês de exposição pública, antes de tomar merecido sumiço eterno. Há lembrancinhas dignas de permanecer para sempre, como se fossem troféus para algum sonho da vida. Visitar Paris e conhecer a Torre Eiffel merece trazer na mala uma miniatura daquele monumento, que saiu dos livros de história para entrar como memória inarredável na vida. Trazer uma lembrança do Teatro Amazonas é oportunidade de conhecer e guardar uma palpitante história do nosso país. Esses objetos valiosos (ao menos afetivamente) não podem se imiscuir com o tralharedo da geladeira.
LEIA TAMBÉM: Para tudo há um tempo
Publicidade
O mundo dos objetos encantados alcança às vezes amplitudes inimagináveis. Há quem ama colecionar miniaturas de garrafas, carteiras de cigarros, bonés, latinhas de refrigerantes, de tudo. Houve um tempo em que a grande paixão era colecionar selos, que gerações de hoje nem sabem o que é isso. O que é selo?, perguntam. Há quem é fascinado por automóveis antigos, tratados com amor filial. E vamos convir: todos esses objetos reunidos pela estima de alguém são dignos de admiração.
O fascínio por objetos mágicos não tem fronteiras. Até um rodeio gaudério pode desencadear uma paixão. Lembro de um amigo que participava de um desses eventos. Tiros de laço, gineteadas, churrasco, gaitaço e muita cerveja. No final do dia, ocorridos todos os eventos, meu amigo se empolgou e comprou uma égua. Sem olhar os dentes do animal, pagou valor de uma potranca na ponta dos cascos. No outro dia, avisaram: vem resgatar tua compra. Só então se deu conta de que comprara uma égua estropiada, esgualepada, surrada pelos atropelos da vida. E, o pior: não tinha onde abrigar a etílica lembrança. Poderia incrementar mais essa história (verídica), dizendo que ele morava num apartamento.
LEIA MAIS DAS ÚLTIMAS NOTÍCIAS
Publicidade
quer receber notícias de Santa Cruz do Sul e região no seu celular? Entre no nosso grupo de WhatsApp CLICANDO AQUI 📲 OU, no Telegram, em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça agora!