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PROJETO REPENSAR

Estudantes do campo: a reinvenção do ensino durante a pandemia

Foto: Lula Helfer

Com um grande número de alunos procedentes do interior, a Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc) e a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) precisaram se reinventar na pandemia. Para garantir o aprendizado dos estudantes com as aulas online, as equipes investiram em treinamento e qualificação de alunos e professores, driblando dificuldades como a falta de equipamentos e internet, e o impedimento das aulas práticas.

Na Efasc, escola técnica voltada para alunos da área rural, adotava-se a metodologia da alternância. “Antes da pandemia, nossos estudantes alternavam espaços e tempos: uma semana ficavam em casa e outra semana na escola”, explica a coordenadora pedagógica Cristina Vergutz, que atua no local desde a sua criação, em 2012. Com o início do isolamento social, em março de 2020, as aulas foram organizadas de maneira que os alunos recebessem as atividades de forma remota. Os professores passaram por formação para utilizar as tecnologias e houve organização didática voltada às novas ferramentas digitais. Além do envio de atividades por Google Drive, foi criado um ciclo de alternância de um mês: os alunos realizam pesquisas sobre o tema mensal, recebem as tarefas e participam de aulas online, que mais tarde são enviadas também em vídeo aos estudantes.

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Para Cristina, a qualificação dos docentes permitiu que as aulas fossem mais interativas e interessantes. “Os estudantes começaram a se adaptar e a ter os dispositivos, buscando dados móveis e internet wifi. Realizamos muito diálogo com as famílias, para definir quais seriam as melhores formas de acesso aos materiais.” Após um mapeamento de equipamentos e acesso à internet entre os alunos, a escola conseguiu dispositivos emprestados para que todos pudessem acessar as atividades.

Uma das iniciativas de sucesso da Efasc, a Feira Pedagógica, que acontecia todas as segundas-feiras, foi cancelada. Porém, a escola possibilitou que a produção dos alunos fosse vendida através de parcerias com outras empresas. Professores e monitores da Efasc buscam os produtos na propriedade dos estudantes e levam até as instituições parceiras, que fazem a venda e entrega a domicílio.

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O retorno das aulas presenciais neste ano só deve acontecer após boa parte da população estar vacinada. “As famílias se sentiram tão seguras no processo de aprendizagem que decidiram aguardar a vacinação”, conta. A coordenadora pedagógica enfatiza que o ensino presencial é necessário por causa da interação e socialização, mas será possível aproveitar os recursos digitais em estratégias pedagógicas escolares, sendo uma ferramenta a mais. O processo seletivo para 2021 teve um número bastante expressivo de inscritos, sinal de que a escola conseguiu se adaptar.

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Uergs apostou na capacitação
Na unidade de Santa Cruz, a Uergs oferece os cursos de Agroecologia, Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, os cursos de especialização em Ensino e Práticas de Ciências da Natureza e Matemática, além de Agroecologia e Produção Orgânica. São 220 alunos. De acordo com o diretor da Região 5 da Uergs, Alberto Knies, a pandemia forçou uma série de alterações na rotina da instituição.

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As aulas passaram a ser oferecidas em formato remoto desde o segundo semestre de 2020. “Houve um processo de capacitação para os professores, para utilizar a plataforma Moddle, além de práticas de ensino a distância, preparação de material e gravação de vídeos, um curso preparatório para o ensino remoto”, conta o professor. Os alunos também receberam cursos para utilizar a ferramenta e conhecer seus recursos, formas de interação e como fazer o envio das tarefas.

Para Knies, os treinamentos para docentes e alunos asseguraram o engajamento de toda a comunidade acadêmica nas atividades remotas. “As aulas práticas estão suspensas desde 2020, algumas disciplinas com caráter essencialmente prático não estão sendo oferecidas, já outras foram gravadas pelos professores.” Aulas que envolvem manipulação e saídas de campo serão ofertadas somente no segundo semestre, se as condições permitirem.

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Para driblar problemas com aparelhos e internet, a Uergs conseguiu a doação de chips aos estudantes com problemas de acesso e teve apoio na doação de tablets e computadores. “Dessa forma o processo foi o mais inclusivo possível, não ficou nenhum aluno de fora do ensino remoto por falta de equipamento ou internet.” Para o diretor, a intensificação das atividades online será uma vantagem mesmo após a retomada das aulas presenciais, possibilitando que bancas de trabalho de conclusão de curso sejam conduzidas de forma remota, assim como as reuniões da universidade.

A PALAVRA DOS ESTUDANTES

Gabriele Beatriz Naivert Estudante do 2º ano da Efasc
Moradora de Linha Chaves, em Santa Cruz do Sul

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“Busquei um local dentro da minha própria casa que pudesse transformar em meu ambiente de estudos, onde tivesse disponibilidade para recarregar os dispositivos e, claro, tivesse conforto e tranquilidade para me concentrar nas tarefas propostas. Também utilizei planilhas com horários, facilitando assim a minha organização entre momento escolar e momento de casa. Me habituar a esse período foi a maior dificuldade. Em contrapartida, esse momento trouxe muitos aprendizados extras, como, por exemplo, o manejo de formas da tecnologia que não estavam tão presentes na minha rotina. A pandemia é um momento muito difícil para todos nós, mas graças à disponibilidade de dispositivos e internet, não paramos de estudar. Com certeza, após a pandemia, o retorno às aulas presenciais é o que todos nós esperamos, pois nenhuma tela de monitor substitui o convívio e a familiaridade que se tem numa escola.”

Henrique Titton Bianchini Estudante do 3º ano da Efasc
Morador de Passo das Pedras Brancas, em Boqueirão do Leão

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“No início foi complicado, pois foi uma experiência diferente. Eu e minha irmã, Amanda Titton Bianchini, que também estuda na Efasc, tivemos que nos adaptar às novas maneiras de estudar. Mas, com o tempo, nos adequamos à nova forma de aprendizado. A maior dificuldade que tive foi não ter os professores presentes para ajudar e orientar nas dificuldades encontradas. Acredito que a vantagem que tivemos foi que, com esta pandemia, aprendemos novas formas de estudar através do meio tecnológico. Com a pandemia surgiram maneiras diferentes para podermos aprender à distância. Com ela tivemos novas experiências, que podem somar para a volta às aulas presenciais.”

Bruna Richter Eichler Estudante do 5º semestre de Agroecologia da Uergs
Moradora de Linha Andréas, em Venâncio Aires

“A gente passou quase um semestre sem aulas. Houve a qualificação dos professores, fomos também conhecendo a plataforma digital Moodle. A partir de julho de 2020 tive apenas duas disciplinas para ver como seria, nunca achei que poderia aprender tanto de forma remota. Assim fomos conseguindo fazer da melhor forma que estava ao nosso alcance. A maior dificuldade foi a distância. Quando ia presencialmente não era só o estudo, eu aprendia fora da aula também. Fazem falta as relações mais próximas e descontraídas. Mas as aulas online possibilitaram a experiência de trazer pessoas de outros estados que nunca poderiam estar em uma aula com a gente. Por mais difíceis que tenham sido essas adaptações, com certeza vamos levar para o resto da vida esse aprendizado e a capacidade de se reinventar, assim como o uso da tecnologia, que no momento é essencial.”

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