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Grande maioria dos imigrantes que povoaram Santa Cruz vieram da Silésia

Rua de Glogau, da qual veio o imigrante Friedrich Tietze, colono pioneiro de Santa Cruz

Em dezembro, Santa Cruz do Sul comemorou os 172 anos da colonização, em alusão à chegada, em 19 de dezembro de 1849, dos primeiros imigrantes alemães. Se a comunidade festejava em memória dos pioneiros, um viajante que chegara no início do mês à cidade contribuía com depoimento especial: sobre sua visita recente justamente às cidades de onde eram originários os primeiros colonizadores, em áreas da Silésia, hoje pertencentes à Polônia.

O alemão Johannes Marschke, 67 anos, é ele próprio de uma família de silésios. Nascido em Doberlug-Hirchhain, distrito de Elbe-Elkster, em Brandemburgo, na Alemanha, é aposentado, e desde 2005 mantém vínculos com o Rio Grande do Sul. Naquele ano, conheceu um grupo de danças de São Leopoldo, que se apresentara na Alemanha, e soube da forte presença cultural alemã no Sul do Brasil. Veio pessoalmente conferir e visitou diversas localidades, inclusive Lajeado e Santa Cruz. Posteriormente, realizou várias viagens ao Sul do Brasil, estabelecendo sua base em Lajeado, e inclusive já dera entrevistas à Gazeta do Sul.

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Marschke passa o verão em Santa Cruz

Em dezembro último, quando empreendeu mais uma vez a viagem, fixou-se em Santa Cruz. Tudo porque queria acompanhar a Semana da Imigração Alemã, em que, afinal, seriam lembrados os pioneiros, em destaque para os silésios.

Em colônias alemãs anteriores que prosperaram até meados do século 19, os imigrantes eram da Pomerânia, do Hunsrück, da Boêmia, da Saxônia, entre outras. Não havia registro de alguém oriundo da Silésia. Pois entre os 12 pioneiros que chegaram a Santa Cruz, em 1849, nada menos que 11 eram silésios, e todos originários de pequenas cidades distantes poucos quilômetros entre si, tendo a cidade de Glogau (Glogów, em polonês) como referência. Essa região, bem como a Pomerânia e o Westpreussen, após a Segunda Guerra Mundial passaram a fazer parte da Polônia.

Mapa da Polônia, com Glogau (círculo preto), na Silésia, perto da divisa com a Alemanha

Todos moravam bem próximo

Tendo presente a informação da vinda de silésios para Santa Cruz, sobre a qual Johannes Marschke já conversara com o genealogista Luciano Schmidt em sua visita a Santa Cruz em 2020, de volta à Alemanha ele se determinou a se informar melhor sobre esse fato. E decidiu inclusive visitar as cidades de origem deles na Silésia atual. Foi o que fez em setembro de 2021.

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Distante cerca de 280 quilômetros da cidade onde mora, a polonesa Glogau, às margens do Rio Oder, hoje possui 72 mil habitantes e tem na extração de cobre a base da economia. De Glogau eram originários Friedrich Johann Thietze e sua irmã Carlotta. Próximo dali, em torno de 18 quilômetros, fica Klopschen, e dela vieram os pioneiros August Wutke, casado com Francisca Mummert (acompanhados de quatro filhos); e August Raffler. A 2,5 quilômetros desta, por sua vez, fica Kosel, terra natal do imigrante Gottlieb Pohl, e à mesma distância em direção ao sul fica Leipe, terra de August Arnold, o mais idoso dos imigrantes, já com 44 anos. Em sua viagem à Silésia, Marschke ficou dois dias entre Glogau, Klopschen e Leipe.

Estes todos, portanto, silésios, que atravessaram o oceano e vieram ajudar a fundar Santa Cruz. O que não se sabe é se todos já se conheciam na Alemanha, ou se acabaram por se identificar no caminho. Só um imigrante, August Mandler, é de Marienburg, hoje na região de Westpreussen, acima da Silésia, mas aqui uniu-se a Carlotta, a irmã de Thietze, de Glogau. Não se sabe se já se conheciam na Alemanha ou se o relacionamento floresceu a caminho ou só quando já estavam na Colônia.

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Cena de Marienburg, cidade natal de August Mandler, único pioneiro de fora da Silésia

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Espaços para um intercâmbio

O alemão Johannes Marschke tem a expectativa de que, tão logo o arrefecimento da nova onda da pandemia na Europa o permita, ele e o genealogista Luciano Schmidt (por sinal, descendente do pioneiro August Raffler), a seu convite, possam juntos visitar essa região da Silésia e estabelecer mais contatos na comunidade.

Marschke trocou muitas informações com lideranças e pesquisadores de Glogau e da região, incluindo a Prefeitura de Klopschen, e comunicou-os da circunstância de que migrantes da cidade, em meados do século 19, haviam sido os pioneiros a ocupar o território da atual cidade de Santa Cruz. E informa que a receptividade a essa notícia foi calorosa. Disse não ter tido tempo, em sua visita, de tentar localizar possíveis descendentes, lá, das famílias pioneiras de Santa Cruz. Mas espera fazê-lo no futuro.

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E menciona mais uma curiosidade: a cidade de Klopschen, terra natal de August Wutke e de August Raffler, foi fundada em 1222. Portanto, organiza-se em preparativos para festejar, em 2022, seus 800 anos de existência. A expectativa é de que ele e Schmidt consigam estar lá para participar dos cerimoniais. Inclusive um livro histórico e de resgate memorial estaria sendo elaborado.

Em sua estada, estabeleceu contatos com historiadores e pesquisadores, como Antoni Bok, em Glogau, autor de livros em polonês e alemão. E em Klopschen impressionou-se com os trabalhos de restauração de obras sacras na igreja local, esforço assumido por estudantes e restauradores vinculados a uma academia local.

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Cartão-postal de época de Klopschen, Silésia, terra de August Wutke e August Raffler

O elo com a Silésia

Em sua atual visita a Santa Cruz, o alemão Johannes Marschke chegou no início de dezembro e pretende permanecer na cidade até o final de fevereiro, quando então retornará a seu país. Ele diz alimentar a expectativa de que a comunidade de Santa Cruz e de toda a região gradativamente tome consciência da importância da ligação que, na origem, a cidade teve com os imigrantes silésios, uma região hoje referencial no mapa da Europa central.

Marschke enfatiza que parcerias de cunho econômico, de investimentos ou de negócios costumam ser mais práticas e rápidas de estabelecer do que as de cunho cultural. Estas implicam em contatos recíprocos e, continuados, em se conhecer mutuamente. No entanto, costumam ser as que mais perduram. Em seu entendimento, a história precisa ser conhecida, para ter plena consciência de sua própria identidade. E só com atenção ao passado, às origens, que são o fundamento, é possível viver o presente e construir o futuro.

Ele acredita que no futuro as comunidades do Sul do Brasil e da Alemanha e Polônia poderiam interagir mais, e auxiliar-se reciprocamente. Adverte que, embora posteriormente silésios marcassem presença em novos grupos de imigrantes, e em outras regiões, o fato de os primeiros silésios a migrarem para o Rio Grande terem se fixado em Santa Cruz reveste-se de forte simbolismo.

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