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CONVERSA SENTADA

Honra teu passado e terás futuro

A casa da minha avó materna Bertha Etges (viúva) ficava um quilômetro antes da do vô Rudolf Gessinger, em Boa Vista. Era abissal a diferença econômica entre as duas famílias. Na casa dos Gessinger havia piano, violinos, acordeons, o vô Rudolf viajou à Europa em 1950, tinha automóvel novo, mandou puxar telefone por conta própria, tinha poder e pila. Na vó Bertha havia cheiro de pão, cachorros, gatos, vacas, muito carinho, mas não tinha luz.

Na hora de visitar os avós, meu pai parava sua Dodge na frente da casa da Vó Bertha. Desciam minha mãe Ludmilla e minhas irmãs Lia e Cleonice. Seguia eu com meu pai. Era nítido que minha mãe tinha um tratamento reverencial com seus sogros. Contaram-me os antigos que, no começo, os Gessinger não aprovaram muito o namoro.

Meu pai foi mandado para o internato do Colégio São Jacó, em Novo Hamburgo. Ali não completou os estudos e foi a Porto Alegre, parando numa pensão na Rua Alberto Bins. Arrumou um emprego na loja Bier e Ulmann, que ficava no Centro. A saudade deve ter batido e vô Rudolf comprou uma “venda” para ele na Linha Araçá. Em seguida, meu pai se casou com minha mãe.

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O interessante é que não houve festa de casamento nem nada. A mãe foi se arrumar na casa do Tio João Müller (da padaria Müller), tiraram fotos com vestido de noiva, o pai elegante de terno e gravata, mas nem rastro de fotos com demais familiares. Eram lindíssimos os dois solitários nubentes.

Em seguida, dois anos depois do casamento, nascemos eu e minha irmã Lia, com intervalo de 11 meses. Meus pais se mudaram para Santa Cruz, onde abriram uma “venda” perto da Sudan. Em seguida adquiriram duas casas contíguas na Rua Thomas Flores, 864 e 876. Esta serviu de um armazém de secos e molhados.

Nunca minha mãe falou mal de ninguém ou se queixou. Era, todavia, nítido que se retraía mercê da diferença social. Nossos avós paternos e vó Bertha nos mimavam muito. Até hoje me lembro como meus pais nos amavam e aconselhavam. Só havia um “clima” quando a mãe reclamava que meu pai se passava na cerveja. Nada que um “Schläffchen” (sesta) não resolvesse.

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Com meus pais aprendi as rígidas normas da honestidade. Desde 12 anos ajudava, carregando produtos ou ajudando a descarregar. Em 1953, num domingo de ramos, meus avós paternos tiveram um acidente de carro a caminho da missa em Santa Cruz e faleceram. Como meu pai foi mal nos negócios, saí de casa aos 17 anos para não ser um peso a mais na família. Aprendi muito, nos meus negócios, com aquele monte de cadernetas “de fiado” não pagas.

(Abraço, sra. Rosani Goettert)

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