Ao olhar para a caminhada até aqui, a deputada estadual Kelly Moraes (PL) reconhece que a política entrou em sua vida antes mesmo de ela perceber. “A trajetória começou, na verdade, com o então vereador Sérgio Moraes”, relembra. Moradora do antigo Bairro Faxinal Velho, por 15 anos, Kelly se viu envolvida na rotina local quase que naturalmente. “Comecei como assistente social da comunidade. As pessoas vinham e batiam à nossa porta. Na época, nós éramos os únicos que tinham telefone”, conta. Era para pedir ajuda, ligar para o Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, começou a sua trajetória na política.
Com o político Sérgio Moraes, atual prefeito de Santa Cruz do Sul, à época seu companheiro, Kelly passou a ocupar um papel cada vez mais ativo no campo social. Criou a Associação de Amparo à Vida e assumiu funções administrativas enquanto cuidava dos filhos e da comunidade. A experiência levou à criação da Secretaria de Desenvolvimento Social no governo municipal, uma pasta que não existia antes e que nasceu de sua percepção cotidiana. “Senti que se precisava de algo mais. Via a necessidade de projetos, de buscar, de fazer”, afirma.
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No entanto, a guinada decisiva veio sem aviso. “Fiquei sabendo pelo rádio que seria candidata a deputada federal. Entrei em crise durante uma semana”, admite, sorrindo ao citar a lembrança. A decisão, que não partiu dela, mudou o rumo de sua vida pública. Para enfrentar a nova etapa, Kelly precisou se reinventar, inclusive geograficamente. “Tive que aprender até a andar em Brasília”, destaca, ao recordar do estranhamento inicial com a rotina do Congresso Nacional. As dificuldades no início da carreira política, enfatiza, fizeram parte do processo de amadurecimento que a conduziu ao longo dos mandatos seguintes.
Ao relembrar a época em que se elegeu vereadora, Kelly revela que sequer tinha esse objetivo. Foi convencida a aceitar o desafio para fortalecer a nominata feminina. “Concorre a vereadora para incentivar as mulheres, principalmente”, entusiasmaram-a. Aceitou, se elegeu e percebeu que a participação feminina podia inspirar outras mulheres a ocuparem espaços semelhantes.
Ao todo, são 25 anos de mandatos eletivos e cerca de 40 anos de vida pública, somando a atuação da família. Kelly trata cada passo como uma responsabilidade coletiva. “Os mandatos não são nossos. Não é da Kelly Moraes, não é do Marcelo Moraes. Os mandatos são da região.” Essa noção de pertencimento, salienta Kelly, mantém a família em sintonia e orienta decisões políticas mais complexas, sempre definidas em conjunto.
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“Sou feminina, não sou feminista”
A análise que Kelly faz do espaço feminino na política é direta: há avanços; entretanto, o caminho ainda é mais difícil para as mulheres. “Imagina, em Brasília, na minha época, dos 513 deputados nós éramos somente 47 mulheres.” Na Assembleia, ela viu o número de deputadas crescer nos últimos anos, mesmo que ainda distante da paridade.
Kelly reflete sobre o esforço contínuo de afirmação. “É um desafio. Temos que provar sempre: nós podemos, nós temos condições, nós temos a mesma competência”, afirma. Ainda que ressalte nunca ter enfrentado conflitos diretos, reconhece que, em muitas reuniões, o posicionamento firme é necessário. “Às vezes, nas reuniões partidárias, é necessário se impor: ‘Olha, também tenho minha opinião.’”
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Kelly se identifica como defensora de pautas femininas, mas com um olhar próprio. “Sou feminina, não sou feminista”, explica. Entre suas principais bandeiras está a proteção das mulheres. “Tenho a Frente Parlamentar de Combate aos Feminicídios e à Violência Contra as Mulheres. Quando é pauta das mulheres, estamos todos juntos.”

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Entre a política e a maternidade
Questionada sobre como conciliou a carreira política e a maternidade, Kelly reconhece que esse foi um dos maiores desafios de sua vida. “Quando fui para Brasília, as crianças eram pequenas, um desafio tanto para a família quanto para mim”, pontua. O impacto emocional nos filhos pequenos fez com que mudasse sua rotina de viagens. “Eles ficavam muito tristes quando eu saía na segunda. Então, viajava na terça-feira de madrugada para eles não me verem sair.”
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À época, com Kelly na Câmara dos Deputados, a família precisou organizar uma rede de apoio que garantisse estabilidade no dia a dia. Era comum que acompanhasse os filhos à distância. “Administrava, às vezes, por telefone, mas conciliamos e deu certo.”
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Vida em família
Fora da Assembleia, Kelly troca a formalidade por afeto. É na convivência com filhos, netos e, agora, uma bisneta “do coração” que encontra descanso. “Quando há oportunidade, nos juntamos. Gostamos muito de fazer um churrasquinho, reunir todo mundo”, revela. Kelly gosta de cozinhar para as crianças e cultiva encontros com amigas, momentos que a aproximam de uma rotina menos protocolar.
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“Gosto mais de estar com as netas, com os netos.” E é nesse convívio simples, entre risadas, mesas cheias e pequenos rituais de família, que Kelly encontra o equilíbrio para a rotina intensa da vida pública. Ali, distante das agendas políticas, ela se reconhece como avó e como ponto de conexão entre gerações.
Sobre o futuro da família na política, admite que o caminho deve continuar com o filho vereador. “Acho que é por aí. As gurias não quiseram. Quem sabe depois os netos, na sequência”, brinca, sem descartar novas vocações surgindo em uma família que há mais de quatro décadas ocupa espaço na vida pública da região.

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Reeleição, dobradinha familiar e defesa do tabaco
Kelly confirma: será candidata à reeleição na Assembleia Legislativa em 2026. “Já confirmei com a família.” A unidade política se reflete dentro de casa, onde quatro mandatos convivem simultaneamente: ela, deputada estadual; o filho Serginho, vereador; o enteado Marcelo, deputado federal; e o ex-companheiro Sérgio como prefeito. “São quatro mandatos dentro de casa, a decisão sempre é familiar.”
Entre suas pautas centrais, o tabaco permanece como bandeira estruturante. Kelly lembra o período em que defender o setor significava enfrentar interpretações distorcidas. “Tinha dias que diziam que nós estávamos defendendo a bancada do cigarro”, ressalta. As críticas, segundo ela, ignoravam a complexidade econômica da região, que envolve produtores, safristas e grandes indústrias. Em Santa Cruz, detalha, a cadeia do tabaco chega a empregar milhares de trabalhadores durante a safra, números que sempre levaram o tema ao centro de seu mandato.
Kelly também menciona os desafios atuais, intensificados em debates nacionais e internacionais. Durante a COP-11, voltou a enfrentar a dificuldade de defender a importância do setor sem desconsiderar campanhas de saúde pública. Para a parlamentar, a realidade econômica da região precisa ser considerada. O tabaco segue essencial, afirma, porque “não tem outra cultura com a mesma rentabilidade” e porque muitas famílias “não dependem de Bolsa Família, dependem da atividade delas.”
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