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ELENOR SCHNEIDER

Leituras em tempos de férias

Sou meio suspeito para indicar livros, pois dificilmente desisto de uma obra, ainda que ao final a considere pobre, inútil. Por outro lado, como leitor e formador de leitores, que sempre fui na vida profissional, penso ser importante falar de obras, de autores, para suscitar o interesse de novos leitores e oferecer-lhes a oportunidade de experimentar as emoções e os aprendizados que invariavelmente encontramos nas páginas dos livros que temos o prazer de visitar. Muitos, talvez a maioria, dos livros que li partiram de indicações de amigos, ou então das críticas e resenhas publicadas nos meios de comunicação.

Vou extrair dos meus cadernos de leitura algumas obras que indico sem receio de equívocos. É claro que elas repercutiram em mim, talvez não tenham o mesmo efeito em você. Meu espaço não é grande, por isso teço comentários sucintos.

Começo com A mulher que escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar. No tempo em que nenhuma mulher sabia escrever, eis que aparece uma que era feia, muito feia, mas tinha corpo bonito. Requisitada para ser uma das mulheres do rei Salomão, este descobre que ela tem esse dom e lhe pede para escrever a história do povo dele. Misto de ironia, humor, sátira, o romance surpreende pelo tema e é lavrado numa linguagem muito atraente.

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O autor uruguaio Mario Arregui nos deixou Cavalos do amanhecer, conjunto de nove contos densos, que se constituem em amostra incomum e exemplar das ações e dos sentimentos do ser humano de qualquer tempo ou espaço. O conto que dá título ao livro é uma chocante história de guerra, com cenas impossíveis de esquecer.

Outra obra que recomendo é Leite derramado, de Chico Buarque de Holanda. Um homem muito velho, 100 anos, está num leito de hospital. Remanescente de tradicional família brasileira, Eulálio Assumpção tenta contar à sua filha a glória da família, agora decadente, com os bens devastados pelas novas gerações, inclusive com um neto envolvido no alto tráfico da cocaína. Ali entendi um fato da vida: “É para si próprio que um velho repete sempre a mesma história, como se assim tirasse cópias dela, para a hipótese de a história se extraviar” (p. 96).

A australiana Eva Hornung escreveu A hora entre o cão e o lobo. Um menino de 4 anos é abandonado nas ruas da gelada Moscou e acabou acolhido por uma família de cães. O romance retrata a marginalização (bando de pobres largados à sua sorte), a animalização do ser humano quando se aproxima da pobreza extrema. O abandono, a tristeza, a desesperança, enfim, é uma história amarga, em que o nojo, a imundície são superados por uma expectativa de que um mundo melhor seria possível.

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Queria muito ainda indicar Torto arado, Chão em chamas, A fronteira de cristal, O disseminador da peste, mas meu tempo se esgotou.

Encerro citando uma passagem da fantástica obra de Alberto Manguel – Uma história da leitura –, em que apresenta este depoimento do romancista turco Orhan Pamuk: “Você não pode embarcar de novo na vida, esta viagem de carro única, quando ela termina, mas, se tem um livro na mão, por mais difícil ou complexo que seja compreendê-lo, ao terminá-lo você pode, se quiser, voltar ao começo, ler de novo, e assim compreender aquilo que é difícil, assim compreendendo também a vida.”

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