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Maria de Fátima Gomes: há 20 anos no comando do Sopão das Marias

Foto: Rafaelly Machado

Em 1998, Maria de Fátima Gomes dos Santos, de 53 anos, começou a trabalhar como agente de saúde no Bairro Arco-Íris, em Vera Cruz. “Sempre tive vontade de ajudar as pessoas, desde criança, e sabia que essa profissão iria me permitir isso.” Foi a primeira profissional no bairro e atuou, sozinha, por quatro anos. Fazia toda a localidade e ainda ajudava as amigas do Leopoldina e do Araçá. “Naquela época, as pessoas ainda não sabiam o que era prevenção e não conheciam o trabalho que era desenvolvido. Eu ia nas casas para saber como estavam a alimentação e a higiene, e as famílias tinham receio de me receber. Elas achavam que depois viria uma conta da Prefeitura. Foi difícil colocar na cabeça das famílias que era um serviço gratuito”, conta.

E foi durante essas visitas que Maria de Fátima percebeu que não adiantava dizer às pessoas para terem uma boa alimentação se elas não tinham quase nada para comer. Surgiu, então, a ideia de criar o Sopão das Marias. “Me sentia mal levando a prevenção sem conseguir atingir de uma maneira completa, com alimentação, roupas. Eu chegava nas casas e era somente arroz e massa. As crianças me viam e chamavam ‘tia da saúde, me dá um pão, me dá um leite’, e isso foi me comovendo, percebi que teria que fazer alguma coisa”.

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Dentro desse trabalho como agente, Maria de Fátima participava de um grupo com cerca de 30 mulheres para falar sobre prevenção. “Um dia, propus fazermos uma sopa para ajudar essas famílias. Umas 18 (mulheres do grupo) tinham o primeiro nome Maria. Cada uma trouxe alguma coisa de casa, como panela, talheres. Já a comida conseguimos de doações com mercados e açougues. No começo, buscávamos as coisas a pé. Depois conseguimos apoiadores. Hoje, são 63 padrinhos e mais de 50 colaboradores”.

Em 16 de abril de 2001 foi servido o primeiro sopão. “Foi na casa de uma voluntária, num espaço pequeno, onde atendemos 18 famílias. A partir dali, Vera Cruz começou a conhecer o que era solidariedade. Foi o dia mais emocionante que tive na minha vida. O primeiro vasilhame entregue foi uma realização pessoal para todas nós. Muitos não acreditavam na iniciativa, mas continuamos mostrando que estávamos ali para trabalhar”.

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O trabalho cresceu e ganhou credibilidade dentro do Bairro Arco-Íris e também fora. “As pessoas foram confiando no amor, na humildade e no respeito que temos com cada ser humano que é atendido por nós. A gente entende quando a pessoa passa fome, tem alguma doença. São situações que podem desestruturar uma família”. Após aquele dia, o Sopão das Marias não parou mais. Quatro meses depois, uma casa foi alugada para sediar a ação. A entrega ocorre todas as terças-feiras, às 17h30, para famílias previamente cadastradas. “Aquelas que querem receber o alimento fazem um cadastro e vamos atendendo as que têm mais necessidades. Também fazemos umas quatro feiras de roupas por ano, entregamos fraldas, móveis. Atendemos desde o bebê na barriga da mãe até o vovô”.

Entre as ações está ainda a realização de batizados durante oito anos. “Eram dois por ano e tínhamos desde crianças até adultos, cerca de 30 por vez. Também realizamos casamentos no civil e no religioso, com tudo o que tinha direito, desde o penteado da noiva até a igreja decorada”, conta.

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Antes da pandemia, o local sediava aulas de artesanato para as mães e orientações sobre sexualidade e outras questões para meninas e meninos. Agora, com a queda nos números da Covid-19, a ideia é retornar com todas as atividades no próximo ano, incluindo aulas de reforço para as crianças. “Mas não paramos durante este tempo. Quando fechou tudo, continuamos atendendo as famílias, levando sacolas com alimentos.” Atualmente, 38 famílias estão cadastradas e recebem apoio.

E, para este fim de ano, segue a tradicional ação de Natal. Nela, enfeites são colocados em uma árvore natalina que fica na Star Machine, no Centro de Vera Cruz. Qualquer pessoa pode chegar no local e adotar uma decoração, que vem com um pedido de presente, feito por alguma criança atendida pelo Sopão das Marias. “É algo que sempre deu certo, que a comunidade apoia.”

Com 20 anos de atuação do Sopão das Marias, Maria de Fátima se sente realizada com o caminho que trilhou até aqui. “Não atingimos as pessoas só com comida. Levamos informações, roupas, carinho e amor. Nesse tempo todo, conseguimos organizar a vida de muitas famílias. Isso é gratificante para mim e para as pessoas que nos apoiam neste trabalho”, complementa.

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