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OPINIÃO

Marta Nunes: “Mulheres, raça e gênero, e a educação”

*Por Marta Nunes, professora universitária

Eu sou uma mulher negra, professora e cientista, filha de Maria e neta de Olinda dos Santos, todas “filhas” de Santa Cruz do Sul. Aqui nasceram meus antepassados, lutaram para sobreviver e empenharam mão de obra e potência para o crescimento local. No Brasil, mais de 55% da população se define como preta ou parda. Infelizmente, a comunidade negra não compartilha com os brancos o acesso igualitário a bens e serviços básicos, resultado do racismo estrutural histórico.

Um observador desavisado, ao andar pela nossa cidade, pode concluir que aqui não existem negros, apesar dos mais de 12% autodeclarados. A hegemonia sociocultural se mantém através das narrativas dos residentes, da criação de mitos e de estereótipos. Os estereótipos são conceitos, ideias ou modelos de imagem atribuídos às pessoas ou grupos sociais, muitas vezes de maneira preconceituosa. Os estereótipos de gênero aliados aos étnicos, sempre pejorativos, desempenham um papel importante no acesso à educação de grupos historicamente excluídos, como mulheres, negros e indígenas.

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As áreas das Ciências provaram ser particularmente difíceis de acessar para estes grupos, pois existem muitos obstáculos baseados em estereótipos sobre capacidades. Estudos sobre interseccionalidade chamam a atenção para as múltiplas identidades que se cruzam e produzem forte impacto sobre as realizações profissionais das mulheres negras, resultado das interconexões entre vários sistemas de opressão. Contra todas as estatísticas, terminei o ensino básico em escolas públicas, acessei o ensino superior e a pós-graduação, subvertendo a lógica da trajetória das mulheres do meu meio.

Apesar das diversas barreiras que retêm as mulheres e a população negra, obtive mobilidade econômica e social, tendo superado os obstáculos com o auxílio da família, de políticas públicas e de pessoas que acreditam na educação. O famoso “uma sobe, puxa a outra” existe e é determinante na superação das mazelas femininas. Sem isso, uma mulher negra como eu, “cria” do Bom Jesus, não teria como ultrapassar as barreiras visíveis da pobreza e invisíveis do machismo e do racismo. A educação é uma das principais ferramentas para a superação das desigualdades de gênero e raça. Entretanto, as mesmas somente serão vencidas a partir de um compromisso assumido por homens e mulheres em todas as esferas da sociedade.

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