Inicio expressando minha gratidão a todos que levaram seu abraço, suas palavras, sua carinhosa presença à apresentação de meu novo livro, Memórias Lissianas. Nele ancoro o significado desta minha iniciativa em dois renomados escritores alemães: o poeta Rainer Maria Rilke e o escritor de histórias infantis Erich Kästner.

O consagrado poeta Rainer Maria Rilke sinaliza para a relevância de despertarmos reiteradamente em nós, o sentimento do início e que, para isso, pouca mudança exterior seria necessária, “porque mudamos nosso mundo a partir de nosso coração”. “Man kann gar nicht oft genug im Leben das Gefühl des Anfangs in sich aufwecken, es ist so wenig äußere Veränderung dafür nötig, denn wir verändern ja die Welt von unserem Herzen aus…”

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Voltar nosso olhar para nossa infância, para nosso passado, nos propicia um mergulho em nossa essência, possibilita o cultivo de nossas raízes, o reconhecimento de nossa origem – o ser que somos. Com essa consciência podemos criar um mundo de coexistência pacífica, reconhecendo que cada indivíduo traz consigo suas memórias, suas raízes culturais, sua identidade, sentimentos de seu início.

Conforme Erich Kästner: “Muito do que vivenciamos na infância, somente faz sentido depois de muitos anos. E, muito do que nos sucede mais tarde, permaneceria praticamente incompreensível sem a memória do tempo de nossa infância.” – “Manches, was man als Kind erlebt hat, erhält seinen Sinn erst nach vielen Jahren. Und vieles, was uns später geschieht, bliebe ohne die Erinnerung an unsre Kindheit so gut wie unverständlich.”

Assim, em Memórias Lissianas não falo somente de mim. Nele falo também de outras vidas que nunca vi e nem poderia ter visto. Falo de pessoas há muito falecidas, de cujas vidas o que chegou a mim são fios tecidos pela memória de familiares ou de leituras. Falo de pessoas que me antecederam neste mundo e das quais eu descendo. Sem elas eu não existiria.

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A esse respeito, Kästner muito bem observa que nossas vidas se entrelaçam com aqueles que nos antecederam. Com eles nos encontramos irmanados. Um dia nós mesmos nos tornaremos antepassados para pessoas que hoje ainda não existem e, mesmo assim, já estamos irmanados com eles. Falo também de pessoas que deixaram marcas em minha vida. Sem essas pessoas, sem meu passado e sem um passado anterior a minha existência, eu seria uma náufraga ilhada, sozinha:

“…sem antepassados estaríamos num oceano do tempo, como um náufrago, bem sozinhos, em uma minúscula ilha desabitada, absolutamente sozinhos, sem mãe, sem avó, sem bisavó, ou seja, completamente desamparados. Por meio de nossos antepassados somos aparentados com o nosso passado há séculos, entrelaçados, confraternizados. E, em algum dia, nós mesmos viremos a ser antepassados. Para pessoas que agora ainda não nasceram que, apesar disso, já estão entrelaçados conosco, com a nossa história de vida.” (Erich Kästner)

“…ohne die Vorfahren wäre man im Ozeane der Zeit, wie ein Schiffbrüchiger auf einer winzigen und unbewohnten Insel, ganz allein. Mutterseelenallein. Großmutterseelenallein. Urgroßmutterseelenallein. Durch unsere Vorfahren sind wir mit der Vergangenheit verwandt und seit Jahrhunderten verschwistert und verschwägert. Und eines Tages werden wir selber Vorfahren geworden sein. Für Menschen, die heute noch nicht geboren und trotzdem schon mit uns verwandt sind.” (Erich Kästner, in Als ich ein kleiner Junge war, 1957)

Aos que já leram Memórias Lissianas, muito me felicitaria receber um comentário sobre o livro. E boas leituras desejo aos que ainda não o leram. Escrevam-me.

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