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CONVERSA SENTADA

Meu primeiro artigo na Gazeta

Foi em 19 de janeiro de 1961, aos 15 anos.

Meu pai assinava, além da Gazeta, o Correio do Povo e as Seleções do Reader’s Digest. Eu lia tudo.

A Gazeta dava muita importância ao noticiário internacional.

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Indignado com os fatos relatados sobre segregação, decidi escrever um artigo. A Gazeta publicou. Esses dias meu amigo José Borowski achou a página que eu havia extraviado.

Então, lá vai.

“Há poucos dias, dois estudantes negros tiveram suas fotografias publicadas em grandes manchetes. São eles os jovens estudantes norte-americanos Charlayne Hunter, de 18 anos, e Hamilton Holmes, de 19.

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Estes dois estudantes, um rapaz e uma moça, conseguiram após muitas lutas a sua admissão na Universidade da Geórgia.

Como todos sabem, existe nos Estados Unidos a segregação racial. Esta segregação é como que uma perseguição à raça negra.

O negro não pode ser admitido onde há brancos, nas escolas, universidades, cinemas, etc. Uma revista carioca publicou uma reportagem sobre este assunto. Via-se numa fotografia uma latrina onde estava escrito: ‘Only for white men’! (Só para brancos).

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Bem, os dois estudantes foram para a universidade e ali foram horrivelmente vaiados pelos estudantes brancos. Achava-se que tudo se acalmaria. Qual nada, as injúrias recrudesceram. Foram jogadas garrafas e pedras no dormitório da jovem Charson Layne. Interveio a polícia. Foi recebida a pedradas. Houve feridos. Só acalmaram os ânimos quando a polícia retirou os dois estudantes católicos, negros, e os levou para casa.

Por que toda esta algazarra? Porque os dois eram negros. Digam-me, tem o negro culpa de ser desta côr? Ele é culpado por Deus ter lhe dado esta epiderme? Tem ele no seu corpo alguma coisa que rebaixe a espécie humana?

Não é ele também filho de DEUS? Pode um desalmado branco que não sabe como se ganha um vintém, que nunca suou porque trabalhou, pode um estudante branco negar o ingresso ao negro, em benefício da cultura e do bem-estar do próprio país?

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Por que trouxeram nosso irmão negro para cá, se não o querem, se o perseguem? Quem, nos estados do Sul, trabalhou na agricultura? Enfim, não foi o homem de cor que ajudou a levantar os Estados Unidos. Sim, dirão alguns, mas o elemento é geralmente um marginal!

Se ele geralmente é marginal é porque não conta com a nossa devida assistência, com a educação à altura.

Não é perseguindo o negro que os países resolverão este problema. Só a prática da fraternidade e da igualdade, bem amparada pela lei, é que poderão trazer aos povos tão necessária e desejada unidade e o gozo do progresso em ambiente de paz.”

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