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Moldávia: o país menos visitado da Europa

Catedral ortodoxa da Natividade, que está situada na capital Chisinau

O calejado viajante e escritor norte-americano Paul Theroux disse certa vez que “o fato de poucas pessoas visitarem um país é um forte indício de que vale a pena visitá-lo.” Do momento em que aterrissei na capital moldava, fui tomado pelo entusiasmo de conhecer mais sobre uma nação da qual muito pouco se fala e se conhece.

A República da Moldávia, pequeno país da Europa Oriental desprovido de costa marítima, é um destes lugares. Espremida entra a Ucrânia e a Romênia, a antiga república soviética tem 2,5 milhões de habitantes, com cerca de 700 mil na arborizada capital Chisinau (Quixinau). A maior parte da Moldávia deriva do principado de mesmo nome, um antigo estado vassalo dos otomanos do século 14 até 1812, ano em que foi cedido ao Império da Rússia e, juntamente com uma parte da Ucrânia, passou a se chamar Bessarábia.

Estátua do príncipe Estevão remete às guerras otomanas do século 15

A região declarou sua independência e foi integrada à Romênia após a Revolução Russa de 1917, porém, graças à pressão soviética e ao acordo de não agressão entre a União Soviética e a Alemanha nazista (Pacto de Molotov-Ribbentrop), acabou se tornando parte da URSS, em 1940. Desde 1991, a Moldávia é um país independente.

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A grande maioria da população (82%) é de etnia romena. Por ter sido parte da antiga província romana da Dácia, o romeno se tornou a língua oficial, embora o russo seja amplamente usado. A bela catedral ortodoxa, na praça central da capital, representa a religião de mais de 80% dos nativos, que, por enquanto, segue vinculada ao patriarcado autocéfalo de Moscou, ainda que contrariada com o apoio do primaz Kirill à invasão da Ucrânia.

Caminhei pela região central de Chisinau em um final de semana de temperaturas negativas. Muita neve cobria as largas avenidas da cidade, repletas de museus, teatros, prédios comerciais e governamentais no estilo arquitetônico brutalista do realismo soviético. Na Avenida Estevão, o Grande e Santo, famílias celebravam o Natal (7 de janeiro para os ortodoxos, que seguem o calendário juliano). Estevão é homenageado ainda com uma estátua nas cercanias do Congresso Nacional, pela luta contra os otomanos no século 15. O príncipe moldavo foi canonizado pela Igreja Ortodoxa em 1992.

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O interior da Catedral, com a típica riqueza de detalhes dos ortodoxos

Até a invasão da Ucrânia, a Moldávia era o país mais pobre da Europa. O futuro, contudo, parece mais alvissareiro, especialmente com a possível integração à União Europeia. No comando do país desde 2020, a presidente Maia Sandu é a primeira mulher eleita para o cargo, com uma plataforma pró-Europa. Em 2021, em face da forte oposição pró-Rússia dos congressistas, Sandu dissolveu o parlamento e chamou uma nova eleição, na qual obteve ampla maioria.

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Com 122 mil hectares de vinhas em um território semelhante ao estado de Alagoas (o Brasil inteiro tem 80 mil hectares de vinhedos), a Moldávia é um dos maiores produtores mundiais de vinhos. A vinícola mais famosa é a Milestii Mici, que possui a maior adega do planeta. São quase 200 quilômetros de extensão, dos quais 55 quilômetros são utilizados para seus mais de 2 milhões de garrafas. Visitei ainda o Castelo Mimi, primeira vinícola da Bessarábia. Em junho de 2023, o local sediou uma cúpula de 45 chefes de estado europeus para discutir a crise entre a Rússia e a Ucrânia.

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Como aconteceu com as demais repúblicas soviéticas, a Moldávia declarou sua independência em agosto de 1991, logo após a queda da União Soviética. Ocorre que, quase um ano antes, a região moldava a leste do caudaloso Rio Nistro, fortemente colonizada pela Rússia czarista e pelos soviéticos, havia declarado sua independência antecipada. Um referendo então confirmou o desejo da maioria dos 600 mil habitantes da chamada Transnístria de não fazer parte da nação moldava.

Adegas da Milestii Mici alojam 2 milhões de garrafas do vinho moldavo

Em 1992, houve um conflito entre a Moldávia, com o respaldo da Romênia, e os separatistas da Transnístria, apoiados inicialmente de forma velada pela Rússia. Após várias batalhas e mais de mil mortos, Moscou decidiu intervir. Contam que um general russo teria sido enviado à região para resolver o impasse, e o teria feito com duas breves ligações telefônicas. Ao presidente da Moldávia, ordenou: “Retire suas tropas agora ou amanhã mesmo eu almoçarei em Chinisau”. Ato contínuo, telefonou para o presidente da Romênia: “Recolha seus soldados imediatamente ou amanhã eu jantarei em Bucareste”. A guerra cessou naquele mesmo dia e até hoje a Transnístria, tema do próximo artigo, é, de fato,um país independente.

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