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PELO MUNDO

Moscou: um mergulho no jeito russo de ser

Vista dos muros e prédios do Kremlin, centro do poder soviético e russo

Vemos em 2022 um violento conflito entre uma potência invasora que possui o maior arsenal nuclear do mundo e uma nação europeia com mais de 40 milhões de habitantes que, em toda a história dos últimos dez séculos, não só esteve ligada aos russos pelas mesmas raízes, como é a própria origem da Rússia, que nasceu a partir da atual capital ucraniana Kiev. O fratricídio em andamento tem complexas causas históricas que precisariam de vários artigos e envolvem, mais recentemente, potências europeias e os Estados Unidos, em uma nova guerra fria na qual não há inocentes.

Igualmente lamentável é ver muitas pessoas boicotando a milenar cultura eslava, antes penalizada por um anacrônico anticomunismo, em uma tentativa tola de imprimir alguma punição à Rússia. Ao “cancelarem” Dostoiévski, Tchaikóvski, Tolstoi, Rachmaninoff, os balés Bolshoi e Mariinski, estão, sem perceber, cancelando seu próprio enriquecimento humano. Além do estrogonofe e da vodca, teriam que abolir também o raio laser, a tabela periódica dos elementos, a conquista espacial e todas as demais invenções e realizações daquela parte do mundo, incluindo a salvação da Europa das garras imperialistas de Napoleão e Hitler. Nações e povos, via de regra, jamais podem ser confundidos com arbitrariedades e atitudes tresloucadas de presidentes e líderes passageiros.

Serão quatro artigos sobre Moscou, que incluem experiências pessoais do período em que lá morei e de visitas subsequentes, parcialmente extraídos dos capítulos sobre a Rússia de meu livro Mar Incógnito.

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Em 7 de abril de 1993, o quadrimotor soviético Ilyushin IL-86, da empresa aérea russa Aeroflot, toca o solo com mais de 300 passageiros a bordo. São 4 horas da madrugada no Aeroporto Internacional Sheremetievo II, em Moscou. Descendo a escada que leva à pista, observo através da neblina daquela madrugada gelada a ausência de letreiros, luminosos e toda a parafernália visual a que estamos acostumados nos aeroportos ocidentais. O meu primeiro pensamento foi: “Estou na misteriosa e lendária capital da maior nação do mundo”, a terceira Roma, na aspiração medieval de fazer de Moscou a sucessora política e religiosa de Roma e Constantinopla.

De um forte herdado em 1260 pelo filho mais novo do príncipe Alexandre Nevsky (santo da igreja ortodoxa russa), Moscou se desenvolveu rapidamente para se tornar um ducado em 1300 e se converter na principal cidade da Rússia no final do século 15. Em 1712, o czar Pedro, o Grande, levou a capital para São Petersburgo. Dois séculos depois, a revolução russa fez o caminho inverso, colocando o centro do poder russo e soviético mais uma vez no Kremlin moscovita.

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Um conselho interessante que ouvi ao chegar em Moscou foi o de esquecer tudo o que já tinha ouvido sobre a Rússia e sobre os russos. Na verdade, o certo seria esquecer o que se ouvia em noticiários dramáticos e na história distorcida que aprendemos sobre os russos, sempre pautada pela Guerra Fria e do ponto de vista ocidental. Na década de 70, um dos brinquedos mais desejados pelas crianças brasileiras era um boneco militar americano chamado Falcon. Um dia apareceu nas lojas seu inimigo oficial, um boneco robótico e cruel batizado como Torak. O nome eslavo não era pura coincidência. Com o filtro da guerra fria, aparecia mais uma vez essa imagem fantasiosa dos russos, como um povo frio e de poucos amigos. Nada poderia estar mais longe da verdade.

Definir precisamente as características do povo russo, assim como relatar todas as atrações de Moscou, seria extrema pretensão. Já é quase impossível chegar a uma definição, aproximada que seja, de povos com culturas relativamente mais recentes, como os que vivem no continente americano. O que se dirá então de um povo com uma cultura milenar como os eslavos. A Rússia é um país de contrastes que não cabe em definições simples. Essas disparidades e essa complexidade me conquistaram desde o primeiro dia em Moscou. A força do Grande Urso sempre esteve presente nos governos imperiais, soviéticos ou na pseudodemocracia que se vê hoje. Passando pelo regime de servidão dos czares, a experiência comunista e o atual regime autoritário e nacionalista, o povo russo jamais conheceu uma real democracia, e por vezes parece até mesmo temê-la.

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