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Munique; ironia do destino na capital da Baviera

Foto: Arquivo Pessoal

Neues Rathaus: Prefeitura de Munique, com flâmulas de Israel e Ucrânia

Marienplatz é o ponto central da cidade mais turística da Alemanha. Na bela e movimentada praça, a fachada do palácio da prefeitura porta duas bandeiras que me fizeram refletir. Lado a lado, tremulam as flâmulas de Israel e da Ucrânia, representando a solidariedade de Munique e da Alemanha a dois dos países envolvidos em guerras correntes. Que ironia do destino ver na cidade em que surgiu o nazismo (1930) o azul e o amarelo de Kiev, república soviética que Hitler enganou e explorou impiedosamente, e a estrela de Davi, por quem o fuehrer nutria o incontrolável ódio que resultou nos horrores do nazismo. A propósito, para entender melhor a dimensão de tais atrocidades, sugiro uma visita ao mais importante memorial do holocausto judeu na Alemanha, a apenas 20 minutos de Munique: o campo de concentração de Dachau.

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Baluarte da resistência à Reforma Protestante do século 16, a capital da Baviera segue destoando do restante da Alemanha em vários aspectos, inclusive pela natureza mais descontraída de seu povo. A cosmopolita cidade às margens do Rio Isar é a terceira mais populosa do país, depois de Berlim e Hamburgo, com quase metade de seus 1,5 milhão de habitantes formada por cidadãos estrangeiros ou nascidos fora da Alemanha. É também uma das mais ricas, com uma economia embasada em alta tecnologia e no setor automotivo – para quem aprecia automóveis, a sede e o museu da BMW são imperdíveis.

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O Museu Alemão (Deutsches Museum) é, possivelmente, o mais interessante museu de ciência e tecnologia do mundo. Desde a primeira visita, há mais de 30 anos, procuro retornar ao local em cada passagem pela cidade. Outra atração excelente na cidade é a Antiga Pinacoteca (Alte Pinakothek), com obras-primas de mestres como Da Vinci, Rembrandt e Rubens.

Sobre Munique, é claro que não se pode deixar de citar cervejas e seus mais de 7 milhões de litros consumidos nas duas semanas da Oktoberfest original. A festa popular foi exportada para os quatro cantos do planeta, de Santa Cruz do Sul e Blumenau, passando por dezenas de cidades nos EUA e Canadá e até mesmo pela pitoresca cidade chinesa de Qingdao, onde imigrantes teutônicos fundaram a Cervejaria Tsingtao, excelente marca exportada atualmente para mais de 60 países.

Aos 16 anos, um jovem residente de Munique trabalhou na instalação elétrica das tradicionais tendas da Oktoberfest, no parque de Theresenwiese. Alguns anos depois, Albert Einstein revolucionaria a ciência, tornando-se sinônimo de gênio no vocabulário universal. Natural de Ulm e filho de judeus asquenazes, Einstein mudou-se para Munique no primeiro ano de vida e estudou em uma escola católica local.

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A cerveja, diga-se de passagem, salvou Munique de sua possível ruína, em 1632. Durante a Guerra dos 30 Anos, o rei Gustavo Adolfo, da Suécia, ameaçou incendiar a cidade. Por fim, o monarca resolveu poupá-la, em troca da libertação dos prisioneiros suecos e de 600 mil barris da Hofbräuhaus, popular cervejaria ainda existente na capital da Baviera.

Como agradecimento por sobreviver à Guerra dos 30 Anos, a cidade construiu o monumento à Virgem Maria (Mariensäule), na Marienplatz. Ali, sob a sombra das torres gêmeas de 109 metros da catedral católica (Frauenkirche), as bandeiras de Israel e da Ucrânia pareceram-me uma espécie de ato de contrição de uma nação que tantos danos causou a judeus e ucranianos na Segunda Guerra. Digo isso pois senti que, para representarem genuína solidariedade, deveria estar ali também a bandeira dos palestinos, um povo vítima duas vezes: de uma organização terrorista espúria, o Hamas, com seus métodos cruéis e medievais; e da ganância do atual governo de extrema-direita israelense, que comete injustiças e atrocidades nos territórios palestinos. Civis de ambos os lados pagam o maior preço enquanto seus líderes, na segurança de Doha ou Jerusalém, parecem não se importar com a morte e o sofrimento de inocentes, seja de que lado estiverem.

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Na fantástica tragédia de Goethe, um obcecado Fausto entrega sua alma ao diabo em troca do amor da bela Margarete (Gret-chen). Na vida real, líderes infames ignoram qualquer escrúpulo em sua ambição bestial de poder, sacrificando a vida e a dignidade de milhões de pessoas. Do seu trono macabro e flamejante, o demônio Mefistófeles sorri satisfeito.

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