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Até 80 graus abaixo de zero

Nova estação brasileira na Antártica contará com pesquisador santa-cruzense

Foto: Acervo Pessoal

Jair Putzke, pesquisador santa-cruzense que viaja desde 1986 para a Antártica, faz estudos sobre os efeitos das mudanças do clima

A Estação Científica Comandante Ferraz, reconstruída na Antártica, será inaugurada nesta quarta-feira, 15, em horário a ser confirmado. A solenidade estava marcada para as 17 horas desta terça, mas foi adiada devido às condições meteorológicas, que impediram o deslocamento das autoridades de Punta Arenas para a Antártica. O comunicado foi feito pela Marinha no Twitter.

A inauguração da nova estação marca também um novo ciclo da pesquisa científica no Brasil. A estrutura tem 4,5 mil metros quadrados de área e capacidade para receber 65 pesquisadores em 17 laboratórios diferentes. O santa-cruzense Jair Putzke é um deles. Com as malas quase prontas para zarpar rumo ao território gelado ao sul do Hemisfério Sul, ele recorda suas expedições para a Antártica. “A minha primeira expedição foi em 1986. Na época, a Unisc chamava-se Fisc. Eu já passei 1.130 dias na Antártica e devo ficar mais 45 neste ano”, conta.

O pesquisador, que atualmente é docente na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), revela que o investimento feito na estação torna-a uma joia no campo da ciência nacional. “A Estação Comandante Ferraz se transformou em um brinco de ouro da ciência brasileira. Eu acompanhei o momento triste, que foi o incêndio de 2012, e a sua reconstrução. Estivemos lá no ano passado. É impressionante como ficou boa esta instalação”, explica.

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A estação foi reconstruída pelos chineses. As obras, iniciadas em 2015, consumiram US$ 99,6 milhões de dólares. Na época do acidente, 70% do maquinário no módulo foi perdido e dois pesquisadores morreram. “Eu estava lá e me lembro como foi difícil. Agora as novas instalações são bem mais modernas, com isolamento térmico e equipamentos de última geração. Este é um grande momento para a ciência brasileira”, diz.

Na inauguração de hoje a base de pesquisa brasileira irá receber uma comitiva de 45 autoridades nacionais. Dentre elas, pesquisadores e ministros do governo de Jair Bolsonaro. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, irá conhecer o espaço que foi remodelado. O presidente Jair Bolsonaro deverá participar do evento por meio de uma videoconferência.

A base brasileira fica a 300 quilômetros de uma instalação chilena na Antártica. O acesso à Estação Científica Comandante Ferraz ocorre por navio ou helicóptero. O território é administrado pela Marinha Brasileira, com recursos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar).

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Saiba mais

A Antártica é uma área continental, localizada no Polo Sul da Terra. Realizar estudos no continente gelado é autorizado pelo Tratado Antártico, assinado em 1º de dezembro de 1959.

O acordo daquela época garante que nenhum país será “dono” da Antártica, que em sua imensa área de gelo guarda reservas naturais de gás e petróleo, além de uma incontável gama de espécies de plantas, boa parte ainda desconhecidas pelos cientistas.

Putzke estuda mudanças climáticas no gelo

Em parceria com outras sete universidades, o pesquisador santa-cruzense estuda os efeitos das mudanças climáticas na Antártica há vários anos. Ele dedica-se a experimentar como as plantas e solos reagem aos efeitos do clima, em uma área que transpira ciência.

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Putzke conta que a maioria das expedições vai para a Antártica no período do verão. “Nesta época, a temperatura média lá é de zero grau, mas uma simples brisa é capaz de derrubar 10 graus no termômetro. Neste período também não há quase noite, a claridade predomina quase o dia todo”, conta. Os efeitos do aquecimento na Terra já dão indícios por lá também. Segundo o pesquisador, nos últimos verões tem chovido muito na Antártica.

Quem vai à Antártica passa por treinamento de sobrevivência. No Rio de Janeiro, as instruções de alpinismo e de como andar no gelo preparam os expedicionários para a aventura gelada da ciência. “É preciso sempre estar preparado para enfrentar riscos e desafios. Eu mesmo já passei por vários neste longo período de expedições para a Antártica”, revela.

Se no verão a temperatura média é zero, com o cair do inverno os termômetros registram 80 graus negativos na rua. Quando esfria muito por lá, o gelo praticamente cobre tudo e o trabalho dos cientistas fica um pouco mais restrito. “Nós vamos embarcar no próximo 2 de fevereiro, partindo de Pelotas”, conta. Parte da viagem é na carona da Força Aérea Brasileira e o restante de navio.

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Reconstruída: incêndio consumiu 70% do módulo principal e matou dois cientistas

Cerimônia desta quarta-feira será transmitida ao vivo
Por: Mauricio de Almeida, repórter da TV Brasil

Depois de seis dias de viagem no navio Almirante Maximiano, a equipe da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) finalmente desembarcou na Antártica. A chegada foi realizada na Ilha de Rei George, onde fica a Estação Comandante Ferraz. No local, os militares da Marinha estão realizando os últimos testes elétricos e hidráulicos na estação. Do lado de fora, está sendo montada a estrutura onde vai ser realizada a cerimônia de reinauguração, que contará com a presença do vice-presidente da República, Hamilton Mourão. O evento vai ser transmitido ao vivo pela TV Brasil e pelas redes sociais da EBC.

O projeto de engenharia da Estação Comandante Ferraz foi desenvolvido para reduzir os impactos ambientais. Trinta por cento da energia consumida no centro de pesquisa vem de fontes renováveis produzidas por placas solares e por uma miniusina eólica instalada no local. Outro detalhe que chama atenção é que o calor emitido pelos geradores de energia, em vez de ser lançado para o ar, é canalizado para aquecer a usina. Detalhes que fazem a Estação Comandante Ferraz ser considerada uma das estações mais modernas da região Antártica.

O professor de microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais Luiz Rosa será um dos primeiros pesquisadores que vai utilizar as novas instalações da nova estação. Ele já está na Antártica montando o laboratório onde vai trabalhar. O professor diz que a nova estação vai permitir que as pesquisas continuem sendo realizadas também no inverno.

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Luiz Rosa estuda fungos que são encontrados apenas no Polo Sul. A pesquisa pode ajudar no desenvolvimento de novos antibióticos que poderão ser usados para tratar doenças como dengue e chikungunya. Outra pesquisa desenvolvida pelo professor permitiu descobrir plantas que ficam durante seis meses debaixo da neve e sobrevivem. “Por algum motivo elas não congelam e isso pode ajudar no desenvolvimento de anticongelantes para a indústria e também para a medicina.”

O Brasil faz parte de um seleto grupo de 29 países que possuem estações científicas na Antártica. Esta presença é muito importante porque, de acordo com o tratado antártico, só quem desenvolve pesquisas na região poderá definir o futuro do continente gelado.

O professor de biologia da Universidade de Brasília Paulo Câmara, que está pela sétima vez na Antártica, diz que a presença brasileira na região tem uma grande importância geopolítica para garantir a participação do país em decisões sobre um continente que apresenta grande biodiversidade. “A Antártica é tão importante quanto a Floresta Amazônica. Aqui encontramos espécies de plantas com 600 anos de existência que ainda são pouco conhecidas.”

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