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O caso da menina no armário

Semana passada provoquei certa surpresa entre os leitores, acostumados aos temas leves e descontraídos desta coluna, ao escrever sobre o Caso Kliemann. Conforme citei na ocasião, o Caso Kliemann me intriga há muito tempo. Tanto, que tratei de estudar, para minha tese de doutorado, as muitas narrativas midiáticas que surgiram entre o misterioso assassinato de Margit Kliemann, em 1962, e o homicídio de seu marido, o deputado Euclydes Kliemann, baleado no ano seguinte nos estúdios da Rádio Santa Cruz – com a emissora ao vivo.

E eis que, após essa última coluna, leitores sentiram-se à vontade para perguntar-me sobre outros casos policiais rumorosos que cobri quando repórter de Polícia ou sobre os quais andei pesquisando nos últimos anos. Uma pergunta inevitável foi sobre a morte do austríaco Carl Schreiner, esfaqueado por um noivo ciumento em 8 de junho de 1936 em Sinimbu, à época, distrito de Santa Cruz do Sul. O assassinato de Carl Schreiner teria sido apenas mais um crime passional, não fossem algumas peculiaridades em torno da história da vítima.

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Ocorre que o austríaco, antes de imigrar para o Brasil, lutara no front da Primeira Guerra Mundial. E como homenagem pelos feitos em campo de batalha, um capacete foi esculpido no topo de sua lápide, a qual, de tempos em tempos, ainda recebe flores depositadas por anônimos, no Cemitério Católico de Sinimbu. Até hoje, o desfecho trágico do relacionamento de Schreiner com uma moça comprometida é tabu entre os moradores mais antigos de Sinimbu. E quem ouve essa história pela primeira vez fica impressionado diante da forma com que o destino conspirou contra o austríaco, que sobreviveu aos horrores das trincheiras da Primeira Guerra para encontrar a morte do outro lado do mundo, vítima de um amor proibido.

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Cumpre lembrar que retomei esses eventos em meu último livro, O homem da sepultura com capacete – Uma história inspirada em fatos reais (Editora Gazeta, 2020). A primeira tiragem esgotou-se há vários meses, mas já é possível encomendar o livro, reimpresso, pela internet, através do meu blog (livrosdoricardo.wordpress.com) ou me chamando no Whats (51) 99730 7639.

Também andaram me perguntando sobre o triste episódio que ficou conhecido como “O caso da menina no armário”, outro que andei pesquisando nos últimos anos. Trata-se de mais uma história comovente e revoltante, só que bem mais recente. Começa em 8 de março de 1999, quando uma moradora de Rio Pardo procurou a polícia para relatar o desaparecimento da filha de apenas 3 anos de idade. A investigação foi cercada de relatos controversos e incógnitas fomentadas por toda sorte de boatos. Entre a população, não faltou quem acreditasse que a menina teria sido sacrificada em um ritual de magia negra.

O mistério ficou ainda mais nebuloso quando uma testemunha se apresentou para relatar que teria visto a menina sendo levada pelas mãos de um casal bem-vestido, que conversava com um estranho sotaque estrangeiro. Aquele relato forçaria a polícia a ampliar, para além dos limites do território nacional, as buscas pela criança desaparecida. Porém, os investigadores não tardariam a descobrir que a solução do mistério estava mais próxima do que todos inicialmente supunham. E o desfecho do caso foi aterrador.

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Ao cabo de dez dias de investigação, a polícia começou a sentir cheiro de mentira no ar e todas as suspeitas passaram a convergir sobre a própria mãe da menina desaparecida. Seus relatos eram desencontrados e, submetida ao detector de mentiras, não passou no teste. Cerca de uma semana após comunicar o desaparecimento, confessou o assassinato da filha à polícia. E a testemunha que jurou ter visto a criança com o casal de estrangeiros admitiu ter inventado aquilo, para salvar a pele da acusada, sua grande amiga.

Em uma reconstituição que testou os nervos dos policiais mais tarimbados, a acusada mostrou como havia asfixiado a própria filha com um travesseiro, sob pretexto de estar descontrolada ante o choro da menina. E como, depois do assassinato, colocou o corpinho da pobre vítima no armário de roupas de inverno – onde ninguém mexeria tão cedo. Admitiu ter mantido o cadáver ali por três dias, antes de transferi-lo para um poço, nas proximidades. No ano 2000 realizei a cobertura do julgamento dessa mãe. Ela pegou 20 anos, mas deixou a cadeia após cumprir metade da pena, beneficiada pelo indulto de Natal. E nunca mais tive notícias de seu paradeiro.

Esse, claro, é um resumo da história toda. “O caso da menina no armário” é um drama real repleto de detalhes chocantes, só elucidado após uma investigação complexa e desafiadora. Não teria espaço suficiente para trazer todos esses meandros aqui na coluna. Contudo, cumpre lembrar que tempos atrás pesquisei e escrevi essa história para compor o livro Crônica Policial (Clube de Autores, 2020), que reconta uma série de casos policiais que chocaram a região, dentre os quais, o também revoltante assassinato do professor de xadrez João da Grama e a morte misteriosa do simpático Cafuringa, antigo porteiro do Clube União.

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Trata-se de uma obra que escrevi movido pela crença, comum a nós, jornalistas, de que certos fatos precisam ser rememorados para que não se repitam com outras pessoas. A quem possa interessar, o livro também pode ser encomendado no blog livrosdoricardo.wordpress.com ou direto comigo.

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