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LUIS FERREIRA

O estrangeiro que bateu à porta

Aproxima-se a data em que lembramos (muitos de nós, pelo menos) a memória de Cristo e seus ensinamentos. Durante alguns dias ou instantes na época natalina, ouvimos ecos de mensagens como “amai o próximo como a si mesmo”, “bem-aventurados os pobres”, “dê a outra face” e outras.
Transcorrido esse período emotivo (que geralmente se encerra após a Missa do Galo), voltamos ao velho normal, ao nosso cotidiano de transgressão dos mais básicos preceitos cristãos. Amar o próximo, é claro, mas desde que ele se pareça comigo, jogue no meu time e seja útil de alguma forma.

Jesus fez suas pregações para apontar o que não percebia na sua época. Falou em amor, tolerância e paz porque via pouco ou nada disso ao redor. Mais de 2 mil anos depois, não houve mudanças significativas. O ódio ainda é mais eficaz para unir pessoas do que o afeto. Afinal, com que facilidade criam-se identidades, laços sociais e políticos a partir da rejeição ao “inimigo”, o detestável. Se Cristo ressurgisse, como seria recebido? Muitos já fizeram esse exercício de imaginação. O escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), no romance Os irmãos Karamázov, tornou Jesus um prisioneiro da Inquisição espanhola. Sempre a ameaça ao poder. Jamais a unanimidade.

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Quem faz uma bela homenagem à figura de Cristo é o poeta libanês Khalil Gibran (1883-1931), nos capítulos curtos da obra Jesus, o filho do homem. O autor nos apresenta 79 personagens – fictícios ou reais – contemporâneos do Nazareno, e estes falam sobre as impressões que dele tiveram. Boas ou não.
Em certo momento, surge uma discípula de nome Raquel. Ela se pergunta se Jesus foi real ou “um sonho sonhado por inúmeros homens e mulheres ao mesmo tempo”, que então lhe deram corpo e sangue. Mas ela o viu, testemunhou seus milagres. E há os que não se impressionam, como o “homem rico” que afirma, com desdém: “Ele não compreendia o segredo das posses”.

Mas a melhor definição de Gibran talvez seja esta: Jesus era um estrangeiro. “Um peregrino a caminho de um santuário, um visitante que bateu à nossa porta, um convidado de um país distante. E como não encontrou um anfitrião gentil, voltou para o lugar de onde veio.”

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