Quem olha só para o novo e moderno, muitas vezes, tem dificuldade de enxergar que ele pode estar também no passado, sob novo olhar. Vem à mente nesse sentido o sistema exitoso das pequenas propriedades coloniais da região (de imigrantes alemães, italianos e outros), instaladas a partir de meados do século 19, em que tudo era e continua sendo aproveitado e reaproveitado dentro de uma visão hoje muito moderna, também chamada de economia circular. Isso volta a ser valorizado, junto com o turismo rural, em que, além da apreciação das belezas naturais, uma das principais atrações são as bebidas e alimentos produzidos nesses locais.
Ao ler crônica histórica de Lucildo Ahlert, sobre “A organização das colônias alemãs no Vale do Taquari”, na publicação Um olhar literário sobre o Vale do Taquari – 2024, da nossa coirmã Academia de Letras (Alivat), chamaram atenção as dezenas de opções de atividades e produtos desenvolvidos pelos colonizadores (colonos), a partir de seu conhecimento de agricultura/pecuária e dos mais diversos ofícios, propiciando uma rica diversidade que rima com prosperidade e se mantém presente, felizmente, na atualidade.
Isso me referi, também e em especial, no livro Peter & Lis, que lancei no ano passado nas comemorações da imigração alemã. É interessante rememorar e detalhar um pouco mais esta verdadeira cadeia de múltipla produção e encadeamento de atividades complementares. Basta lembrar o amplo uso inicial da madeira para os mais diversos fins, desde a construção de suas habitações e instalações para animais e depósitos dos produtos, assim como para fabricação de móveis e tantos outros instrumentos utilitários.
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Destaca-se sobretudo o aproveitamento dos produtos, desde o seu uso natural na alimentação, como a sua transformação e comércio em pequena escala.
Nessa linha, o milho e o trigo se transformam em farinha, pão e outros derivados, a cevada em cerveja, o limão e gengibre em Spritzbier, a uva em vinho, o linho em tecido, o repolho, pepino e outras hortaliças em conservas, as mais diversas frutas em conversas, schmiers e gasosas, a cana em melado, açúcar e cachaça. Já dos animais se aproveita tudo, com o porco virando carne, embutidos e banha, que por sua vez também conserva a carne; os animais mais fortes, além do uso proteico, servem muito para transporte e operação de equipamentos, como arados e moendas, além de fornecer leite e seus derivados, couro e ainda resíduos que se tornam adubo e energia (hoje se fala muito em biogás e biometano). Ainda, as aves passam a ser proteínas e penas para preencher peças de dormir. Pode-se falar também das pedras das roças que são levadas para fazer cercas de potreiros, e por aí vai, numa infinidade de proveitos e transformações.
E deve-se falar que tudo isso gera não só a subsistência farta dos produtores, como também empreendimentos industriais e comerciais, que propiciam o progresso bem presente nas regiões coloniais, como a dos polos da nossa Santa Cruz e de Lajeado, no Vale do Taquari. Seus produtos, ainda que em pequena escala, ganham cada vez mais atenção nas chamadas feiras da agricultura familiar de grandes eventos, em pequenas feiras de produtos naturais e orgânicos de cada município, nas seções hortifrúti de mercados. Iniciativas turísticas voltadas ao mundo rural colonial ganham corpo. Enfim, com justiça, volta-se a valorizar a diversificada cultura colonial, junto com seus costumes, formas de organização e trabalho. Vive-se, pois, não só de modernismos, mas também de realimentar processos passados, que não podem ser esquecidos e só fazem bem, sob todos os aspectos. Alimenta-se não só o corpo, mas a alma sedenta de coisas que façam sentido para cada ser humano.
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