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ROMEU NEUMANN

O que nos escondem?

Um amigo nosso tem uma forma peculiar, bastante criteriosa, de perceber cenários, situações as mais diferentes que a vida apresenta. Até mesmo na avaliação, após um jantar em família, de um filme que decidimos assistir.

Quase nunca há consenso na escolha. Tomada a decisão, enfim, cada um vai formando seu juízo. Mais cedo que se poderia esperar, ele rompe o silêncio na sala e anuncia seu veredito. “É lixo!”

Crítico e perspicaz, vai logo colocando suas razões. Podem ser várias – atores que não convencem, imagens mal-editadas, erros de direção. Duas questões são definitivas para sua reprovação: a desconexão ou falta de lógica nas cenas que compõem o enredo e a exploração do inverossímil. O herói da trama, por exemplo, que domina sozinho uma fortaleza vigiada por 200 ou mais seguranças, fortemente armados, que são abatidos um a um por balas certeiras de um único homem que, feito ser invisível, sai ileso de todas as rajadas desferidas contra ele. “É lixo” – ele não perdoa.

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Devo concordar, também não suporto o inverossímil. São os enredos que conflitam com a lógica, com a verdade, com o que é plausível, realizável.

Pois não é que o inverossímil das telas encontrou abrigo na realidade? Pior do que qualquer enredo mequetrefe que alguém já imaginou, no Nordeste a realidade supera a imaginação. Há mais de mês, 500 profissionais da elite da segurança, incluindo mais de 100 agentes da Força Nacional, estão no encalço de dois bandidos que fugiram – ou foram evadidos? – da penitenciária federal de segurança máxima (!) de Mossoró (RN).

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Além da Força Nacional, noticia-se que participam das buscas integrantes da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, policiais civis e militares de vários estados do Nordeste, bombeiros, guardas municipais, enfim, um contingente que faz supor vá abafar uma rebelião naquela região do País. Só a Força Nacional está equipada com 22 viaturas e um ônibus para mobilidade da tropa, numa operação que conta com o suporte de cães farejadores, helicópteros, armamento e tecnologia de ponta, incluindo drones com sensor térmico.

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Mas não é para conter rebelião alguma, nem para fazer frente a invasão do território nacional ou coisa que você possa imaginar. É para recapturar dois fugitivos, supostamente desarmados, que devem estar rindo de nós, brasileiros, que já pagamos mais de R$ 1 milhão só para manter a Força Nacional nas buscas.

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Soa no mínimo esquisita a declaração do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que voltou ao cenário após 31 dias de procura pelos fugitivos e avaliou que a operação de recaptura “tem se desenvolvido com êxito”. Êxito pra quem?

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Vou me valer da análise crítica do nosso amigo frente à ficção: esta história, que é real, não se conecta com a lógica, nem com a verdade. Começou errado, num ambiente condescendente com a fuga dos bandidos, e vai se desenrolando de forma vexatória para a segurança nacional. Não se tem notícia de comando da operação e o silêncio das autoridades robustece o sentimento de desconfiança.

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Se fosse filme, também diria: “É lixo!”. Mas não é. O que nos escondem? O que não devemos saber sobre esta malfadada operação?

Fique pelo menos uma lição: para que o cidadão brasileiro não se sinta tão idiota, que se gaste dinheiro na manutenção e no funcionamento de equipamentos nos presídios, que se puna os que se aliam ao crime, para que não se repitam desastrosas e caras operações de busca como a que estamos assistindo.

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