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GISELE SEVERO

O silêncio de dezembro

Foto: Freepik.com

Todos os anos, quando dezembro chega, ele não vem apenas com luzes, protocolos sociais e convites para celebrações. Vem também com o ruído interno que sussurra o que ainda não deu certo, o que faltou, o que ficou pelo caminho. No calendário, encerram-se meses; dentro de nós, abrem-se espelhos.

É curioso como uma data pode carregar tantas camadas. A promessa de festa convive com uma espécie de melancolia discreta, quase pública. Há quem conte dias para o recomeço; há quem apenas resista até que ele passe. Entre expectativas e realidade, dezembro se torna um território emocionalmente exposto.

Se o mundo apresenta vitrines iluminadas, as casas, às vezes, guardam silêncios. Lutos se tornam mais densos, ausências ganham forma, memórias retornam com o peso de fotografias antigas. Quando todos parecem celebrar, nem todos conseguem. E é precisamente aí que a saúde emocional merece diálogo – não festivo, mas verdadeiro.

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As redes sociais transformaram a virada em espetáculo. Taças erguidas, viagens, jantares. A imagem, porém, não traduz o percurso. Não mostra o dia em que faltou coragem, os meses em que o cansaço venceu, as conversas adiadas, o medo de não se encaixar nos roteiros esperados. Há uma solidão silenciosa no gesto competitivo de aparentar felicidade.

Talvez o convite de dezembro não seja comemorar, mas compreender. Ao final de um ano, não somos versões prontas. Somos ensaios, rascunhos, tentativas – e tudo isso também merece lugar. A pausa, tantas vezes negligenciada, é matéria de cuidado. O descanso é um ato emocional e não apenas físico.

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Se há algo que o fim de ano ensina, é que o tempo não fecha tudo. Alguns ciclos pedem continuidade, outros pedem renúncia, e há aqueles que simplesmente pedem respiro. O recomeço não precisa ser performático, brilhante ou exemplar. Às vezes, basta ser possível.

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Dezembro nos obriga a olhar para nós mesmos com certa honestidade: o que deixamos de sentir porque havia urgências? O que engolimos para caber nas expectativas? O que adiamos para não ferir ninguém? Ao responder, reencontramos o que de fato sustenta – vínculos reais, cuidados discretos, silêncios que acolhem.

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E então chegamos à virada. Não um portal mágico, mas um intervalo. A contagem regressiva não muda quem somos na primeira batida de janeiro. O que muda é a permissão: sentir sem pressa, existir sem exibir, começar sem meta.

O novo ano não exige grandezas. Exige presença. Que possamos atravessá-lo com menos culpa e mais gentileza; com menos ruído e mais escuta; com menos espetáculo e mais verdade. Porque, no fundo, o que dezembro nos pede não é euforia e sim humanidade.

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