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elenor schneider

O tempo do livro

Estamos vivendo o tempo da graça de mais uma feira do livro em Santa Cruz do Sul. É uma oportunidade de conhecer autores, colher autógrafos, adquirir novas obras e avivar a alma com expressivas e benfazejas leituras. A feira, como sempre, chega à praça pela dedicação generosa de algumas pessoas que, mesmo face a imensas dificuldades, não desistem da luta. E chega também pela acolhida que recebe de entidades públicas e privadas de nossa cidade, as quais reconhecem o quanto ler transforma e enriquece a vida.

A edição é a trigésima terceira, mas o livro foi para a praça vários anos antes. De 1969 a 1972, aconteceu aqui a Feira Intercolegial Estudantil do Livro, a FIEL. Esse movimento surgiu em Curitiba por iniciativa de um santa-cruzense, o padre Afonso Gessinger, que se assinava Afonso de Santa Cruz. Percebendo a carência de boa leitura entre os alunos do colégio, pensou um jeito de fazer o livro chegar a eles pelas próprias mãos: criou a FIEL.

O movimento se estendeu a várias cidades do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde ao menos quatro municípios o acolheram: Santa Cruz do Sul, Cachoeira do Sul, São Leopoldo e Carazinho. Sob a liderança de alguns adultos, a feira era praticamente toda ela conduzida pelos estudantes, sobretudo do Ensino Médio. Havia expressivo envolvimento, ensinando responsabilidade, acolhimento, respeito, em clima de entusiasmo, confraternização e muita alegria.

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Os principais líderes adultos eram o padre Silvério Schneiders, a irmã Anelise Weber e eu, que aqui viera em 1969 para cursar Letras. Lembro que partimos do zero, não tínhamos recurso algum. Fomos ao prefeito Edmundo Hoppe, que nos assegurou algumas barracas, fomos às livrarias de Porto Alegre, que nos garantiram a cessão de livros por consignação. O Colégio Sagrado Coração de Jesus tornou-se nosso QG. Ali os livros eram desencaixotados, recebiam o preço e depois eram levados à praça.

Nas tendas, vendedores e caixas eram os estudantes. Vendido o livro, recebia o carimbo do movimento. Na segunda edição, de 29 de abril a 3 de maio de 1970, o carimbo dizia: “A cultura deste livro – saudação da FIEL”. Milhares de livros foram comercializados nas quatro edições, muitos dos quais devem se encontrar ainda nas casas santa-cruzenses e da região. Devem estar lá Meu pé de laranja lima, Rosinha, minha canoa, Poliana, sucessos da época.

Fazia parte da FIEL convidar e acolher estudantes de outras cidades, principalmente daquelas que realizavam a mesma feira. Aí, estudantes locais se transformavam em guias turísticos. Havia uma noite cultural, com apresentações artísticas dos alunos das escolas locais. O Cine Vitória superlotava. Havia um concurso literário do qual participavam estudantes de todas as cidades do Sul que promoviam a feira.

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Diversos alunos daqui emplacaram histórias e integram as edições publicadas. Cito alguns, que sei leitores desta coluna: Nivalda Steffens, Maria das Graças Correa, Anemary Goettems, Suzane Beatriz Frantz, Elisabet Carvalho, Breno Eduardo Kaercher, e vários outros.

Tínhamos vigilantes, à noite, para evitar furtos e danos. Certa manhã, chegamos à praça e encontramos livros espalhados pelo chão, em cima das árvores, na água, uma tristeza se abateu sobre nós. Os vigilantes estavam cuidando de que mesmo? Mas, foi também um aprendizado, não esmorecemos.
Que jamais se apague esse amor ao livro e que não faltem pessoas abnegadas para sempre aproximá-lo dos leitores! Esse é um bom combate.

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