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Conscientização

Outubro rosa: o ressignificar do câncer de mama

Não é muito contente que dona Leoni Terezinha Cardoso, 66, se despede do netinho todo fim de domingo. A vontade é de ficar por ali paparicando o pequeno Arthur, de 4 anos, até já não aguentar mais tanta farra. O dever de não baixar a cabeça, porém, a chama. É preciso descansar para segunda de manhã, bem cedinho, estar de pé. O despertador toca, Leoni se arruma e, na pequena mala que ajeita para passar cinco dias em Santa Cruz do Sul, carrega junto a saudade da família. E um caminhão de esperança. É com essa mala que, ao lado de outras companheiras de luta (pela vida), a moradora de Charqueadas entra na van e espera por mais uma semana de tratamento. Até o dia 25 de outubro, a contabilista passará por sessões de radioterapia no Hospital Ana Nery. Antes disso, fez cirurgia e oito sessões de químio. “Descobri o câncer de mama em novembro do ano passado. Desde então, a minha vida se resume em focar nesse tratamento e acreditar na vida”, diz.

Fátima Rosângela dos Santos, 54, já concluiu o mesmo processo pelo qual a colega que conheceu na Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan) passa. Agora realiza consultas periódicas e recebe uma medicação específica a cada 21 dias. A doença, ela descobriu há dois anos. Mas quem disse que ela deu chance para a tristeza tomar conta? “Quando eu recebi o diagnóstico, parecia que ficava pelo ar. Foi um choque. Na época, só pensava em morrer.” Ainda bem que a safreira logo tratou de buscar apoio psicológico. Aos pouquinhos, compreendeu que não se tratava de um diagnóstico de morte. Era, sim, uma nova chance. “Agora eu só tenho um propósito. É a minha vida e as pessoas que eu amo em primeiro lugar. Dou mais valor para isso e o resto dos problemas a gente dá um jeito de arrumar, né?”

Quem olha o sorriso da ex-auxiliar de cozinha Eva Machado Welch, 53, não imagina as batalhas que ele esconde. Foram duas vezes o mesmo (árduo) processo. O primeiro câncer veio em 2010. O segundo, em 2014. Agora lida com o luto da partida de seu filho mais novo, Rodrigo, 30 anos. Com altos e baixos, a santa-cruzense não esmorece. Entende que, por trás de cada dor, há um aprendizado. “Isolar-se do mundo não adianta nada. Eu procuro, sim, ajuda. E hoje me sinto até mais corajosa.” Os dois diagnósticos trouxeram para Eva um novo olhar sobre a vida. Por isso, ela passou a fazer atividades que antes sequer imaginava. Antes, focada naquele esquema trabalho-casa, andava sempre cansada. Hoje, após concluir o tratamento, faz dança, ginástica e até arrisca ir mais longe. 

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“Eu fiquei até viajada, acredita? Esses tempos fui conhecer Gramado e Canela, e até pra Rio Grande já me aventurei”, conta toda orgulhosa. E os cabelos? Depois de perdê-los por causa da quimioterapia, Eva decidiu ousar. Prometeu que quando eles crescessem novamente, pintaria de vermelho. E assim o fez. Só não sabe explicar o porquê da cor. Deve ser essa vontade de mostrar para o mundo que se reinventou. “Eu sou o que eu não era antes.”

Novo olhar

Segundo a assistente social da Aapecan, Cláudia Lunardi, um dos grandes motes da instituição é trabalhar para que as pacientes entendam que, sim, há vida após o diagnóstico. Nesse sentido, ela ressalta que, pelo menos dentro da Aapecan, as mulheres são estimuladas a fazer atividades diferentes das que estavam habituadas. “O período do tratamento é aquele momento em que elas param, pois não podem trabalhar, e precisam encontrar outras ocupações. Aí entra o se reinventar por meio de passeios, outros vínculos de amizade. São novas trocas.”  

Entre as mulheres que procuram apoio através de terapias ou oficinas e chegam ao fim do tratamento, é constante a observação do que ela chama de “ressignificar pós doença”. “É lindo de ver como elas entendem a vida depois. É outro olhar, outra forma de seguir os dias.” 
Eva Machado que o diga. “No início da doença, eu ia do sofá para a cama e da cama para o sofá. Depois, quando me fortaleci, entendi que a cura só chega para quem ergue a cabeça, encara o tratamento e confia.”

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É preciso insistir: autoexame representa autoconhecimento

Conforme a ginecologista e mastologista Andreia Rauber, hoje o diagnóstico precoce oferece chances mais expressivas de cura do câncer de mama. Nesse sentido, ela orienta que toda mulher se toque. “Autoexame é autoconhecimento. Quando a mulher se acostumar com a mama normal, vai perceber quando existir alguma alteração”, afirma. 

Segundo a especialista, é preciso, sempre, ficar alerta aos sintomas que podem estar associados ao câncer. “As pessoas comentam que é sempre a mesma coisa, mas se não insistirmos, mais diagnósticos precoces deixarão de ser feitos.” A recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia é a realização da mamografia entre mulheres a partir dos 40 anos, pelo menos uma vez por ano. Fique atenta.

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Mastectomia preventiva

A mastectomia profilática (remoção da mama) ficou mais conhecida em outubro do ano passado, quando a atriz Angelina Jolie, que perdeu a mãe por esse câncer, decidiu encarar o procedimento a fim de evitar um futuro diagnóstico da doença. Conforme a mastologista Andreia Rauber, a cirurgia é válida, mas não se pode “banalizar”. “Depois dessa história ser divulgada na mídia, muitas pacientes ficaram interessadas em fazer o procedimento.” 

Segundo a especialista, o procedimento somente é indicado como alternativa preventiva quando há comprovação de um câncer com mutação genética na família. Para isso, é preciso solicitar ao especialista o encaminhamento de um exame de avaliação de mutação. “Hoje o câncer genético de mama corresponde entre 5% e 10% de todos os diagnósticos. O restante nada tem a ver com hereditariedade”, complementa. 

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Conforme a mastologista, a retirada da mama após a cirurgia é um dos fatores que mais afetam as pacientes. Ela acrescenta, entretanto, que quanto mais cedo for descoberto o câncer, mais chances há de se fazer uma cirurgia conservadora, que preserve a mama. No caso de a retirada ser necessária, uma possibilidade oferecida é a reconstrução mamária. “Ainda não é um acesso irrestrito, mas existe, sim, a possibilidade de executar esse procedimento pelo SUS”, explica Andreia. Em Santa Cruz do Sul, o Centro de Oncologia do Hospital Ana Nery oferece a cirurgia pelo Serviço Único de Saúde. É preciso, entretanto, avaliar cada caso. Alguns planos de saúde também ofertam a cobertura do procedimento.

 

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Avanços no tratamento

Dentre os avanços no tratamento contra o câncer de mama, a mastologista Andreia Rauber destaca o trabalho multidisciplinar. “Hoje não é mais só o mastologista, oncologista e radioterapeuta. Nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas e enfermeiros exercem um papel fundamental.” Como exemplo, ela cita a atuação do nutricionista ao longo da quimioterapia. Isso porque a medicação endovenosa atua de forma sistêmica, ou seja, agride também as células saudáveis e gera disfunções gastrointestinais e náuseas. Nesse sentido, o profissional atua para minimizar os efeitos colaterais, controle de peso e aumento da imunidade. 

Um dos tipos de tratamento mais recentes é a terapia biológica. “Trata-se de medicações endovenosas, mas que não são consideradas quimioterapias. Elas exercem o papel de controle da doença”, acrescenta. Outra possibilidade é a hormonioterapia, que consiste em medicamentos via oral usados no prazo de cinco a dez anos. Para aplicar esse tratamento, é necessário que o tumor responda aos hormônios. “Além de ajudar no tratamento do câncer, também auxilia para diminuir os riscos de a doença voltar. Por isso é mais prolongado.”  

Exposição rosa e ousada

Tá vendo essa foto aí? Ela está exposta no Shopping Santa Cruz até este domingo, na mostra Lenços de Esperança, Fé e Vitória. Organizado pela Aapecan, o trabalho tem o intuito de evidenciar a beleza e a força de pacientes que enfrentaram ou enfrentam o câncer de mama. Enquanto eram clicadas, a ideia foi se libertar das amarras que a doença um dia trouxe e, de quebra, demonstrar autoestima. Nossas entrevistadas Fátima e Eva arrasaram nas poses ao lado das outras meninas. Sensibilidade ímpar da Mundy Fotos.

Serviços em Santa Cruz

Centro de Oncologia do Hospital Ana Nery

(51) 2106-4400 / http://www.hospitalananery.com.br/CentroOncologia/
Rua Pereira da Cunha, 209
Atende em sua maioria pacientes do SUS das cidades da 2ª e 13ª Coordenadorias Regionais de Saúde (CRSs)

Saint Gallen – Instituto de Oncologia
(51) 3715-6586 /www.saintgallenoncologia.com.br/
Rua Marechal Deodoro, 1139

Clínica Leben
(51) 3053 1616/ clinicaleben.com.br/
Rua Thomaz Flores, 970

Clínica de Oncologia Unimed
(51) 3713-4385/ www.unimedvtrp.com.br/clinicadeoncologia/
Rua Marechal Floriano, 1578

APOIO A PACIENTES

Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan)
(51) 3056 9500/ www.aapecan.com.br
Rua Dorval Martins, 249

Associação de Assistência a Pacientes Oncológicos e Transplantados (Aapot)
(51) 3715-1127/ http://aapot.com.br/
Rua Amapá, 170

Liga Feminina de Combate ao Câncer de Santa Cruz do Sul
(51) 3719 5819
Rua Pereira da Cunha, 209 (anexo ao Hospital Ana Nery)

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