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TRAJETÓRIA

Pastor Armindo Müller: no dia do eclipse, a luz que pautou toda uma vida

Foto: Alencar da Rosa

Armindo e Marina são casados há 55 anos, têm dois filhos e cinco netos; ele atuou em Arroio do Tigre, Santa Cruz e Nova Friburgo 

Em um dia de eclipse solar, os professores de Panambi optaram por encaminhar os alunos para casa. Ficaria escuro e a ideia era que todos chegassem antes disso nas residências. O menino Armindo Müller, o mais velho de uma família de cinco irmãos, chegou e disse para a mãe: “Eu quero ser pastor”. O motivo? Não sabe explicar. Apenas recorda que assim aconteceu. 

O mais surpreendente nem seria a decisão inesperada de entrar na vida religiosa. Foi o fato de que vivia em uma casa de católicos. E se atualmente a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e a Igreja Católica estão mais próximas, naquela época não fazia muito sentido esse anúncio. O pai, aproveitando um evento evangélico na cidade, conversou com o presidente da instituição e conseguiu garantir estudo para o filho.

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Os desafios não se limitariam ao foco do que seria aprendido na escola, em São Leopoldo, para onde teve de ir. Os professores somente falavam em alemão, desde os anos iniciais até a Faculdade de Teologia, na qual se formou. Ser fluente na língua alemã era imprescindível, adaptação que demandou certa urgência. A partir da formação como teólogo, em 1966, Müller, que completará 80 anos no dia 1º de setembro, passou a dedicar-se à função de pastor e líder da IECLB. Começou atuando em Arroio do Tigre, seguiu por Santa Cruz do Sul e, por fim, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. 

Os inúmeros desafios da sociedade atual

Ter aulas em alemão quando não dominava o idioma foi um grande desafio, mas Müller vê na atualidade algo muito maior a ser enfrentado pela sociedade. “O que vamos fazer com nossos idosos?” O pastor diz que a igreja tratou de tal assunto e conseguiu bons resultados. “Falamos sobre as crianças, depois sobre os jovens”, recorda. Agora, entende que a sociedade depara-se com uma situação que precisa de bastante atenção. Países como o Brasil estão envelhecendo rapidamente, ampliando a expectativa de vida e diminuindo a taxa de natalidade. Defende que os idosos tenham vida digna e contraria a ideia da terceira idade ser celebrada como “melhor idade”. 

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Outra questão que aponta como problemática é o individualismo. Credita essa situação ao fato de que “a grande mídia levou para dentro das casas ideias futurísticas, que ainda não são realizadas”. “Está na hora de as igrejas repensarem suas funções, suas atividades. Ser cristão não é somente ir na missa ou no culto; é vivenciar a fé no dia a dia”, alerta. Müller ressalta que aplicar a fé no cotidiano fará com que o cidadão saiba o que fazer em cada momento da vida. “Devemos saber o que fazer, com legitimidade, sem o jeitinho. É ou não é? Amo ou não amo?”, frisa. Acredita que, agindo dessa forma, poderá chegar ao objetivo maior, que é auxiliar para tornar a vida dos outros mais humana, mais verdadeira.

A família concebida como presente e futuro

Filho de uma família com cinco irmãos – dos quais três viraram pastores –, Müller casou-se no dia 12 de maio de 1967 com Marina Müller. A união resultou em dois filhos: Liane Cristina Müller Baccar e Marcos Francisco Müller – ela é psicóloga e psicopedagoga, e ele atua em ciências da computação – e cinco netos. Moram no Rio de Janeiro. Sobre o debate matrimônio/religiosidade, que é estabelecido a partir da proibição de padres casarem na Igreja Católica, não vê o casamento como um empecilho. “A vida matrimonial ajuda a mostrar o significado de ser pastor, como criar os filhos, a vida em família”, explica. 
Atualmente, com o que aprendeu na vida, com o que conseguiu ensinar e com base em textos publicados durante décadas na Gazeta do Sul, Müller prepara o lançamento do 12º livro. A data ainda será divulgada. 

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Ao mesmo tempo que elaborou a obra, seguiu com as pesquisas genealógicas. Ele as faz na clínica geriátrica Cuidando com Carinho, no Bairro Arroio Grande, onde vive para conseguir realizar o procedimento de hemodiálise, três vezes por semana, ao qual é submetido. “Poderia fazer em casa, mas não seria o adequado”, conta. “Doeu ter que trazê-lo para cá, mas é muito bem atendido e eu não conseguiria fazer o mesmo, porque é muito grande e a casa não é preparada para isso”, justifica a esposa Marina. 

A matéria sobre o primeiro presidente em Arroio do Tigre

Armindo Müller, quando estava em Arroio do Tigre, foi agente e correspondente da Gazeta do Sul. Entre as matérias que escreveu para o jornal está: “Pela primeira vez um presidente da República visita Arroio do Tigre”. A visita do chefe do Executivo nacional, João Figueiredo, não seria à cidade, mas à barragem de Salto Real. “Só tinha como descer em Arroio do Tigre. Então aproveitamos a oportunidade e colocamos que o presidente estava na cidade”, recorda.

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A participação do pastor na sociedade não se resume ao vínculo com a Gazeta. Esteve na primeira Festa do Fumo, que, mais tarde, virou a Oktoberfest. “Sempre participei de todos os eventos sociais de Santa Cruz; fui Amigo do Batalhão, do 7º BIB, mas nunca fiz isso pela honraria, porque sempre fui autêntico. Dizem que sou o homem mais correto do mundo; não acho que sou, mas não sei ser diferente. Acredito em ser assim e acho que assim devo agir”, conclui. 

Trajetória

Os estudos 

O pastor Amindo Müller, mais do que um líder religioso, passou a ser estudioso da história e das famílias alemãs. Ao chegar em Nova Friburgo, para atuar no primeiro templo da IECLB no Brasil, passou a defender uma questão que gera debate. A formação da colonização alemã seria a partir de janeiro de 1824, quando houve a fundação da igreja, e não em julho, quando é comemorada. “É uma questão de meses, mas tenho levantado porque é o correto. Os alemães chegaram lá e criaram a igreja e, depois apareceram aqui no Rio Grande do Sul”, afirma.

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Esse trabalho de pesquisa acabou incentivando a busca por informações genealógicas das famílias. Atualmente, tem mais de 400 mil nomes catalogados e carrega o fato de estar na criação do Centro de Estudos Genealógicos de Santa Cruz do Sul (Cegens). “Também sou membro titular do Colégio Brasileiro de Genealogia, do Rio de Janeiro”, acrescenta. Na capital fluminense, pela atuação como pastor e nos estudos genealógicos, recebeu o título de Cidadão do Rio de Janeiro, conferido pela Assembleia Legislativa. 

A ascensão

Mesmo dizendo que não atua em busca de homenagens ou promoções, Müller foi atendendo aos desafios estabelecidos dentro da IECLB e, por consequência, ganhando maiores responsabilidades. Na região, foi pastor distrital. No Rio de Janeiro, atuou como pastor orientador da Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas (Oase) do Sínodo do Sudeste, agregando Minas Gerais e São Paulo. “Nesse período, teve muitas viagens em compromissos da instituição religiosa”, recorda a esposa, Marina Müller. 

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