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ELZA SOARES

Pedro Garcia: “A mulher do fim do mundo era invencível”

Foto: Pedro Garcia

Assisti a Elza Soares pela primeira vez em abril de 2016, quando a turnê do álbum A Mulher do Fim do Mundo estreou em Porto Alegre. Ela começou a cantar com a cortina ainda fechada e lembro bem do impacto que me causou ouvir ao vivo aquela voz que, para mim, era (e sempre será) invencível.

Mas não era só a voz. Elza já cantava sentada, mas isso não apequenava a presença dela. Aos 85 anos, ainda carregava uma impressionante capacidade de se atualizar e reinventar. Cercava-se de músicos jovens e experimentava ritmos e sonoridades contemporâneas, sem precisar renunciar ao posto de rainha do samba. Também não precisava fazer discurso para levantar as bandeiras certas. Naquele show, falou, por exemplo, de machismo e violência doméstica em Maria da Vila Matilde e de racismo na inesquecível A Carne – dores, aliás, que ela conhecia muito bem. A canção-título (abaixo) terminava de forma comovente, repetindo várias vezes um verso que resumia seu espírito e vigor: “Me deixem cantar até o fim”. Desejo, por sinal, que ela cumpriu.

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Voltei a assistir ao mesmo espetáculo em 2017 e, em 2019, pouco antes do lançamento de último disco, Planeta Fome (nome que remete a um episódio emblemático da vida da cantora), eu e minha noiva acompanhamos uma mesa-redonda na Bienal do Livro do Rio de Janeiro da qual participaram ela, Martinho da Vila e Zeca Camargo, que assinava sua biografia. Ao final, fizemos fila para chegar mais perto e vê-la autografar nosso exemplar de uma forma muito carinhosa: passava um batom vermelho nos lábios e beijava a folha de rosto. Não fosse uma assessora que corria com todos dali, teria muito a dizer e a perguntar àquela figura tão excepcional. Nos segundos que tivemos, só deu para falar que ela era maravilhosa e ouvi-la agradecer.

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Meu encanto por Elza se renova a cada vez que a escuto – o que acontece com muita frequência. A majestosa interpretação ao vivo de Malandro, de 2007, tem algo de sublime. E, mais do que isso, era um exemplo de mulher que reclamou e conquistou o espaço que lhe era de direito (jamais se contentou em ser ‘a esposa do Garrincha’), que superou perdas e altos e baixos na carreira, que se aliou a causas justas e que defendeu como poucos a arte brasileira. Para nossa sorte, os registros serão eternos, o que significa que ela seguirá cantando e continuará invencível, imbatível, inigualável. Mesmo depois do fim.

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