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ideias e bate-papo

Pessoas, máquinas e valores

É difícil passar uma semana sem que eu lembre de meus pais. Soa desigual comparar épocas tão diferentes como a década de 60 – quando nasci – com os dias de tecnologia onipresente em nosso cotidiano.

Meu pai foi um pequeno empresário e vereador de um mandato. Inquieto, cheio de planos e projetos para a aposentadoria, mas faleceu aos 52 anos, vítima de um infarto fulminante. Ao chegar de uma pescaria com minha mãe, em Tramandaí, o coração não suportou a vida sedentária de costela gorda, de preocupações financeiras da empresa onde trabalhou e o vício do cigarro.

Minha mãe viveu até os 82 anos. Faleceu há nove anos. Viveu por dez anos com apenas um pulmão, mas o câncer voltou e levou a cozinheira de mão cheia para o céu. Ela era a típica mulher “do lar”, voltada ao marido, aos filhos e lides da casa com rara dedicação.

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Morávamos no interior de Arroio do Meio. Ir à escola obrigava a caminhadas diárias sob poeira no verão e barro, chuva e geada no inverno. Eram tempos difíceis, mas seu Gilberto e dona Gerti se esmeraram na arte de educar. Princípios rígidos, valores inegociáveis e respeito integral a todo ser humano eram marcas de uma formação rígida, até excessiva comparada aos tempos atuais.

Repito à exaustão que comparar época soa injusto. Não tínhamos novidades tecnológicas e as restrições eram enormes. Hoje há facilidade em todos os segmentos, mas parece que o ser humano desaprendeu a viver em sociedade e em família. Tantos avanços não refletiram na capacidade de convivência onde conversas virtuais têm mais valor que o olho no olho, no bate-papo em torno de uma churrasqueira ou mesa de bar.

Diariamente assisto estarrecido a cenas em que pais ignoram o cotidiano escolar dos filhos. Creditam – sempre! – o fracasso deles aos professores, estes sim, dedicados mestres que suportam todo tipo de provocação e desrespeito em sala de aula. Em qualquer ambiente o desrespeito campeia solto. Faltam compreensão, paciência e empatia, apesar de ser um termo da moda. Perdemos a capacidade de discordar, optando pela briga. São raros os debates, mas sobram agressões, baixarias e ofensas pessoais.

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Não vejam este humilde cronista como saudosista. Sou apenas um sexagenário que gostaria de ver o grande desenvolvimento tecnológico voltado ao bem-estar do ser humano, à aproximação das pessoas, à busca pela convergência.

Talvez eu seja um sonhador incorrigível. Afinal de contas, a inteligência artificial parece ter chegado para acabar com o que resta de humanismo em nossa rotina. Em pouco tempo, máquinas poderosas tomarão conta de tal maneira que a nós certamente restará apenas abrir os olhos ao despertar.


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