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LUÍS FERNANDO FERREIRA

Por que eu sou tão ignorante

Ecce homo (“Eis o homem”) foi o último livro do alemão Friedrich Nietzsche. Entre outras coisas, o texto é célebre pelos títulos divertidamente egocêntricos de certos capítulos, como “Por que eu sou tão inteligente”, “Por que eu sou tão sábio” e “Por que escrevo livros tão bons”. Um ano depois de concluí-lo, em 1889, Nietzsche sofreu o colapso mental que encerrou sua carreira de filósofo. Se ele levava autoelogios a sério ou estava só ironizando, fica difícil dizer.

Obviamente não sou Nietzsche, mas de tempos em tempos eu o leio (nem que seja para me irritar com ele, porque é estranha a nossa relação) e pensei até em escrever algo parecido, apenas colocando-me no meu devido lugar. “Por que eu sou tão ignorante” seria um bom título inicial. O mundo já está cheio de gente que sabe de tudo e, portanto, não teria nada a aprender.

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Mas até uma mosca se considera o centro do cosmos, como já observou – novamente – Nietzsche, no ensaio Sobre verdade e mentira no sentido extramoral, de 1873. Mais humilde e comedido aqui, ele aponta “quão fantasmagóricos e fugazes” são os seres humanos em meio à natureza. Afinal, o planeta existiu sem eles durante milhões de anos, ao longo de “eternidades”, e vai continuar depois que todos se forem. Mesmo assim, qualquer um tem necessidade de ser admirado e, não raro, acredita ver “os olhos do universo voltados telescopicamente na direção de seu agir e pensar”. Isso é demasiado humano.

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Cada pessoa vive apenas sua vida, claro. Se não der importância a si mesmo, quem dará? Mas a perspectiva da própria pequenez no quadro geral ajuda, pelo menos, a não andar por aí com um pedestal portátil e, uma vez sobre ele, lançar opiniões como se fossem verdades e regras.

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Provavelmente, vou morrer ignorante. Quanto mais julgo ter entendido certas coisas, maior é a percepção de que não compreendo ou desconheço muitas outras. Aliás, os outros talvez saibam mais sobre mim do que eu, que só me enxergo eventualmente e posando para o espelho. “Você nunca é o que parece – nunca – e, por outro lado, o que você parece ser é provavelmente, em algum sentido, quase exatamente o que você é”, escreveu James Baldwin em Terra estranha. Então é isso.

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